Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Vacinação contra a dengue

A urgência da vacinação contra a dengue

Recorde de casos em 2024 deixa claro que a aplicação de vacinas em larga escala contra essa infecção traria um enorme ganho para a população. Mas há desafios

Em 2024, o Brasil enfrentou um surto de dengue sem precedentes. Foram mais de 6,4 milhões de casos e aproximadamente 5.900 mortes até 28 de dezembro, segundo o Ministério da Saúde. Esse aumento alarmante, de 400% em relação a 2023 (que já havia apresentado números elevados), destaca a necessidade urgente de incorporar medidas eficazes de prevenção, incluindo a vacinação.

Vários fatores contribuíram para o aumento explosivo dos casos de dengue em 2024:

  • Condições climáticas: fenômenos como o El Niño criaram condições favoráveis para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, o vetor da dengue, que adora o calor e a água parada.
  • Urbanização desordenada: o crescimento urbano sem planejamento resultou em áreas com saneamento precário e acúmulo de água parada.
  • Resistência a inseticidas: o uso indiscriminado de inseticidas – como o fumacê – levou ao desenvolvimento de resistência por parte dos mosquitos, diminuindo a eficácia das medidas de controle tradicionais.
  • Falta de adesão à vacina: o negacionismo e a dificuldade de encontrar as doses no setor privado e no SUS colaboraram para um número de vacinados aquém do esperado.

A importância da vacinação em 2025

A vacina atual, a Qdenga, produzida pela farmacêutica Takeda, tem eficácia considerável contra diferentes sorotipos da dengue. Se boa parte da população a receber, portanto, o impacto na saúde pública e na qualidade de vida da população será considerável.

Vale destacar que esse imunizante deve ser aplicado em duas doses, com intervalo de três meses. 

Apesar da importância da vacinação, sua implementação enfrenta desafios:

  • Produção e distribuição: a fabricação e disseminação em larga escala das vacinas são desafiadoras, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, que recebeu poucas doses. Vivian Lee, diretora médica da Takeda, aponta que, em 2025, serão entregues 9 milhões de doses ao SUS, conforme contrato com o Ministério da Saúde. Outro número não divulgado pela farmacêutica será destinado às clínicas privadas. 
  • Limitações de faixa etária: no momento, a vacina Qdenga é aprovada no Brasil para pessoas entre 4 e 60 anos, o que limita sua aplicação universal. Na Europa, ela está liberada para todas as idades acima de 4 anos. É importante destacar que, no SUS, ela só é liberada para jovens de 10 a 14 anos, dependendo da disponibilidade e de eventuais outros critérios.

Além da vacina 

Outras medidas ajudam a enfrentar a dengue, pensando inclusive em gestão da saúde pública. Vamos a algumas: 

  • Eliminação de criadouros: a população deve ser conscientizada sobre a importância de eliminar locais de água parada que servem de criadouro para o mosquito.
  • Educação em saúde: campanhas de conscientização em diferentes veículos e locais podem informar sobre medidas preventivas e sintomas da dengue.
  • Pesquisa e desenvolvimento: investimentos contínuos em pesquisa são fundamentais para a criação de novas vacinas e tratamentos eficazes. Em 2024, a Fiocruz formalizou ao Ministério da Saúde um pedido Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), para produção nacional da vacina contra a dengue, a Qdenga, em colaboração direta da Takeda. Outra boa notícia é que, em dezembro daquele mesmo ano, o Instituto Butantan entrou com pedido na Anvisa de aprovação de sua própria vacina para dengue, com apenas uma dose – a única do mundo com esse esquema. Segundo o Butantan, a capacidade de produção seria de 100 milhões de doses em três anos. 

O recorde de casos em 2024 alerta para a necessidade de ações coordenadas. A vacinação, ao lado de outras medidas, representa uma esperança para reduzir a incidência da dengue no Brasil em 2025 – e nos anos que estão por vir.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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