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Mulheres adoecem e morrem por câncer de colo do útero sem saber que existe prevenção

A doença é a primeira causa de morte por câncer em mulheres até 36 anos e a segunda até os 60 anos; Março Lilás visa conscientizar a população e reduzir a mortalidade

O Março Lilás traz à tona a importância da prevenção do câncer de colo do útero, doença que interrompe a vida de 19 mulheres diariamente no Brasil. Sim, é uma doença silenciosa e letal, considerada a primeira causa de morte por câncer entre mulheres até 36 anos e a segunda em mulheres até os 60 anos. 

O grande problema é que muitas pessoas não sabem que o maior responsável por cerca de 99% dos casos de câncer de colo do útero é um vírus altamente contagioso, transmitido pelo contato pele a pele, principalmente durante o sexo, mesmo que não haja penetração: o HPV, sigla para papilomavírus humano. Por não saberem a causa, também desconhecem que já existe uma vacina que protege contra o HPV e o câncer de colo do útero.

“Existem vários tipos de HPV capazes de infectar tanto a pele quanto a mucosa, podendo provocar verrugas genitais ou lesões precursoras de câncer”, explica o ginecologista obstetra Fabiano Elisei Serra, supervisor da Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital da Mulher, em São Paulo. Além do câncer de colo do útero, o HPV de alto risco está associado a outros tipos de cânceres, como de vagina, vulva, garganta e ânus.

Ele destaca que o HPV é muito prevalente – estima-se que cerca de 80% da população sexualmente ativa vai ser exposta ao vírus em algum momento e nem sempre o preservativo será uma barreira eficaz. A maioria das infecções tem resolução espontânea em até cerca de dois anos, mas, como não é possível prever quem irá desenvolver o câncer, o ideal é se proteger contra o vírus. “A cada 20 pessoas com câncer, uma tem algum tipo de câncer relacionado ao HPV, que poderia ter sido prevenido com a vacina”, destacou Serra, durante o lançamento da campanha Março Lilás, promovida pela MSD em São Paulo e que traz a modelo Fernanda Lima como embaixadora.

Infelizmente, muitas mulheres descobrem o câncer de colo do útero em estágio avançado. Foi o caso da jornalista Mirelle Moschella, diagnosticada com a doença aos 34 anos. O primeiro sintoma apareceu no início da pandemia de COVID-19, quando Mirelle teve um sangramento prolongado. A princípio ela imaginou que fosse uma menstruação irregular, mas, como o sangramento persistia por onze dias, ela começou a achar estranho. “Até que tive uma hemorragia e expeli coágulos muito grandes, que cabiam na palma da minha mão. Pensei que tivesse tido um aborto espontâneo”, conta. 

Ela procurou o ginecologista, e, depois de várias consultas e exames, veio a notícia que jamais havia imaginado. “Recebi o diagnóstico de um câncer já avançado no colo do útero. Fiquei sem entender, porque sempre fui uma pessoa ativa, tinha uma alimentação saudável, não bebo, enfim… Foi uma sensação horrível, que eu não desejo para ninguém”, afirma a jornalista. 

A jornalista passou por um rigoroso tratamento, que incluiu a cirurgia de remoção do útero. Hoje está bem, comemorando a vida, mas lamenta por não ter tido conhecimento de que mulheres adultas também podem tomar a vacina contra o HPV. “Na minha cabeça, só crianças e adolescentes de 9 a 14 anos deveriam receber a imunização”, disse.

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Jornalista Mirelle Moschella foi diagnosticada com câncer de colo do útero aos 34 anos: “Não sabia que mulheres com mais de 30 anos podiam tomar a vacina.”

Vacina contra o HPV

A vacinação contra o HPV é recomendada para todas as pessoas de 9 a 45 anos e está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos e grupos prioritários (clique aqui e confira os públicos contemplados no Programa Nacional de Imunização (PNI).

Em fevereiro, o Ministério da Saúde incluiu a vacinação gratuita para adolescentes de 15 a 19 anos como estratégia de resgate temporária (por 3 meses). Para as demais faixas etárias, a vacina pode ser adquirida na rede privada.

Detecção precoce

Além da vacinação, existe outra forma de evitar a morte por câncer de colo do útero: fazer o diagnóstico precoce da doença e iniciar o tratamento adequado. O exame preventivo acessível para a população feminina é o Papanicolau. “Esse é um exame de rastreio capaz de identificar as alterações causadas pelo HPV. Ao se identificar alguma lesão pré-cancerígena, a paciente é acompanhada e observada para fazer exames mais elucidativos, como a colposcopia e a biópsia”, esclarece a oncologista Andréa Gadelha, presidente do Grupo EVA (Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos).

Ela acrescenta que a maneira de detectar o HPV está mudando no país. Hoje, além do exame de Papanicolau, temos uma nova tecnologia que analisa o DNA do HPV na secreção vaginal. Isso ajuda a identificar se o vírus está presente e qual tipo é, principalmente se é um dos que têm alto risco de causar câncer.

Por fim, a oncologista destaca algo muito importante: “Informação é poder! É fundamental que as mulheres se conscientizem sobre os dados de diagnósticos e morte por câncer de colo do útero. Precisamos que isso comece a incomodar cada um de nós para que possamos agir. Cada pessoa tem o papel de compartilhar informações, especialmente sobre a vacina, que é segura e protege contra esse câncer”, concluiu Andréa.

Por Letícia Martins,

Olhar da Saúde-Leticia Martins

Letícia Martins

Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.

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