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Quem corre risco de glaucoma? Descubra se você está na lista

Saiba mais sobre essa doença que avança sem dar sinais, sendo a maior causa de deficiência visual e até cegueira irreversível

O assunto é tão preocupante que tem até uma data específica para alertar sobre os perigos de negligenciar os cuidados oculares: 12 de março, Dia Mundial do Glaucoma, instituído para ampliar o conhecimento da população sobre o tema.

De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, estima-se que 1,7 milhão de brasileiros têm glaucoma, e o acompanhamento e tratamento evitaram que 300 mil perdessem a visão em razão da doença entre 2019 e 2023. “Por isso o oftalmologista, de uma maneira geral, é obcecado pelo diagnóstico precoce. Quanto mais cedo o problema é detectado, melhor a qualidade de vida do paciente”, destaca o oftalmologista Emílio Suzuki, presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).

Glaucoma é uma neuropatia óptica progressiva que afeta o nervo óptico e tem como principal fator de risco o aumento da pressão intraocular”, explica a oftalmologista Maria Vitória Moura Brasil, diretora da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). “As alterações na camada de fibras nervosas que formam o nervo óptico repercutem no campo de visão e, se o problema não for diagnosticado e tratado a tempo e adequadamente, pode causar cegueira”, resume a médica.

A pressão intraocular (PIO) à qual a especialista se refere está relacionada à produção e drenagem do humor aquoso, o líquido que preenche a câmara anterior do olho. “Quando há alguma alteração no trabeculado, esse canal fica insuficiente para drenar o líquido, que então se acumula, aumentando a pressão e com isso danificando o nervo óptico. Essa é a teoria mecânica do glaucoma”, descreve Maria Vitória. “Outro mecanismo estudado é a baixa irrigação do nervo óptico, a chamada teoria vascular da doença”, continua. 

O fato é que o glaucoma precisa ser contido o quanto antes, seja qual for a sua forma de desenvolvimento. “Existem vários tipos da doença, mas basicamente falamos em glaucoma primário de ângulo aberto, o mais comum, e o de ângulo fechado”, diz Emílio Suzuki. No primeiro, o humor aquoso não consegue passar pelos canais de escoamento. No glaucoma de ângulo fechado, há uma obstrução na íris, a parte colorida do globo ocular, que impede o líquido de chegar aos canais. 

No glaucoma de ângulo aberto, só nos estágios mais avançados a pessoa percebe a perda da visão periférica. “É o tipo mais insidioso de todos, aquele que a gente chama de ladrão silencioso da visão, porque não dói, não dá sintoma nenhum”, explica Suzuki.

No de ângulo fechado, os sintomas chegam repentinamente. “A pressão sobe muito, a visão cai e o indivíduo procura os serviços médicos com dor ocular tão intensa que chega a provocar ânsia de vômito”, continua. 

O presidente da SBG destaca ainda a existência de glaucomas secundários: “Estes aparecem em razão de traumas e hemorragias que provocam alterações no nervo óptico”.

E os outros fatores de risco, além da pressão?

Como há uma predisposição genética ao problema, é preciso prestar atenção no histórico familiar. Quem tem parente de primeiro grau com glaucoma apresenta risco duas vezes maior de ter a doença. “Existem diversos genes associados. O glaucoma juvenil pode acometer famílias inteiras”, exemplifica Maria Vitória. “Embora seja mais raro, há também o tipo congênito, que se revela já no nascimento. Tanto o juvenil, que aparece entre 13 e 15 anos, como o congênito são formas muito agressivas de glaucoma”, complementa Suzuki. 

A idade é outro ponto a ser considerado na equação. “Por ser progressiva e degenerativa, a prevalência da condição aos 70 anos é muito maior do que aos 50”, compara Maria Vitória. Também entre os afrodescendentes o glaucoma é mais presente, e a hipótese levantada em estudos é que isso se deve a uma tendência maior dessa população a ter pressão intraocular mais elevada.

Quem tem diabetes igualmente deve ter a saúde ocular investigada regularmente, em razão do impacto do aumento de glicose nos vasos sanguíneos, quadro com potencial de lesionar o nervo óptico. Segundo o Ministério da Saúde, em pessoas com diabetes é 40% maior a possibilidade de surgir o glaucoma.

E seria mito ou verdade que o perigo se intensifica também para quem tem miopia ou hipermetropia? É verdade. Miopia leve a moderada aumenta em duas ou três vezes o risco de glaucoma”, responde Suzuki. “E nos graus mais elevados essa possibilidade é ainda mais acentuada. Estudos apontam que a partir de 6 graus de miopia essa chance é até vinte vezes maior”, avisa. 

Já a hipermetropia é associada ao glaucoma de ângulo fechado. “À medida que a pessoa vai envelhecendo, desenvolve catarata, e essa doença nessa população propicia o aparecimento do glaucoma, em geral por alterações anatômicas que favorecem a obstrução do canal de drenagem do líquido interno do olho”, esclarece o médico. Esse tipo de ângulo fechado é também mais comum nos asiáticos. 

A diretora da SBO alerta ainda sobre alguns medicamentos que predispõem ao glaucoma primário de ângulo aberto – caso de corticoides, usados para tratar inflamações e alergias. “No glaucoma de ângulo fechado, por sua vez, qualquer substância capaz de ocasionar midríase, uma dilatação da pupila, pode desencadear uma crise. Descongestionantes nasais, ansiolíticos, remédios indutores de sono, por exemplo”, lista Maria Vitória.

Diagnóstico precoce salva a visão

Fazer visitas periódicas ao oftalmologista é a receita para flagrar o glaucoma o mais cedo possível. Sobretudo nos grupos associados aos fatores de risco, investigações rotineiras são ainda mais importantes. “A prevenção do glaucoma depende muito da proatividade do paciente em buscar avaliação oftalmológica, assim como da conscientização de colegas médicos de outras especialidades que atendem pessoas na faixa dos 40 anos para incentivar esse cuidado”, pondera Suzuki.

Somente no consultório desses especialistas é possível medir a PIO. Outro exame fundamental é o de fundo de olho. “O local afetado pelo glaucoma é o nervo óptico, então ele é o principal ponto de observação para detectar degeneração. E o nervo óptico fica no fundo do olho”, justifica Suzuki. “O exame pode ser feito com oftalmocóspio em consultório mesmo, mas o ideal é utilizar fotografias em alta resolução ou tomografia do nervo óptico, que são muito mais sensíveis para o diagnóstico precoce da doença”, observa. 

É preciso checar também se há alterações na extensão do campo visual, como perdas da lateralidade, da visão periférica. “Hoje temos inovações diagnósticas que conseguem detectar com mais precocidade o glaucoma, e com mais conforto, porque nem sempre precisa dilatar a pupila”, lembra Suzuki. “E óculos de realidade virtual facilitam os testes de campo visual”, completa.

Como é o tratamento? Tem cura?

Interrupções do tratamento são uma grande preocupação dos oftalmologistas. “A visão perdida não é restabelecida. Uma vez que a pessoa perde, por exemplo, 30% pelo glaucoma, não consegue restaurar, somente segurar para não piorar mais”, alerta Emílio Suzuki.

Além da prescrição de colírios – que controlam a produção do humor aquoso ou melhoram a drenagem dos canais –, o plano terapêutico pode considerar o uso de laser, para desobstruir os canais, ou cirurgia, esta em geral usada em casos mais complexos. 

“O recurso cirúrgico é onde mais houve inovações nos últimos anos. Hoje existem vários tipos de cirurgia, para diversos estágios do glaucoma”, atesta Suzuki. Muitos são procedimentos minimamente invasivos, em que são implantados dispositivos minúsculos dentro do olho, geralmente de titânio, para restaurar a passagem do humor aquoso. “São técnicas bem inovadoras que melhoram o fluxo do líquido para reduzir a pressão intraocular”, explica.

“Infelizmente glaucoma não tem cura, mas é importante sempre ressaltar que o diagnóstico correto e precoce leva ao tratamento e impede a progressão da doença”, ressalta Emílio Suzuki. “Muitas pessoas com glaucoma não sofrem impacto na visão porque foram diagnosticadas no início e utilizam os colírios adequadamente”, conclui.

Por Goretti Tenorio,

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Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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