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Saúde mental nas doenças reumáticas: como ansiedade e depressão afetam corpo e articulações

Pessoas com doenças reumáticas tendem a desenvolver transtornos de ansiedade e depressão com maior frequência que a população geral, apontando que a dor emocional pode andar junto com a dor física

 

 

Quando falamos em doenças reumáticas autoimunes — como artrite reumatoide, lúpus, espondiloartrite axial (antigamente chamada de espondilite anquilosante), artrite psoriásica e doença de Sjögren —, a primeira imagem que vem à mente costuma ser a da dor nas articulações, da rigidez matinal e da fadiga constante. No entanto, há um aspecto menos visível, mas igualmente importante: a saúde mental.

Estudos mostram que transtornos de ansiedade e depressão são muito mais frequentes em pessoas com doenças reumáticas do que na população em geral. No caso da artrite reumatoide, por exemplo, uma grande meta-análise revelou que 17% dos pacientes apresentam depressão maior. Quando se consideram sintomas depressivos moderados a graves, esse número pode chegar a 40%, segundo questionários de avaliação voltados ao paciente.

Situação semelhante é observada em outras doenças autoimunes, como lúpus, espondiloartrite axial, doença de Sjögren e artrite psoriásica. Ou seja, a dor emocional anda lado a lado com a dor física — e ambas merecem atenção.

Inflamação e emoções: um elo biológico

A relação entre doenças reumáticas e saúde mental vai muito além das consequências emocionais de viver com dor crônica. A ciência já comprovou que a inflamação sistêmica contínua pode afetar o funcionamento do cérebro, alterando circuitos ligados ao humor, à motivação e ao sono.

Em outras palavras, a mesma inflamação que causa a dor articular pode contribuir para o surgimento de depressão e ansiedade. Corpo e mente estão, literalmente, conectados por vias biológicas que se influenciam mutuamente.

Impacto no tratamento e na qualidade de vida

Quando um transtorno de saúde mental não é reconhecido ou tratado, o impacto é profundo. Pacientes com depressão ou ansiedade tendem a ter mais dificuldade em seguir o tratamento, percebem mais dor, sentem mais fadiga e veem sua qualidade de vida se deteriorar. Além disso, o controle da doença reumática torna-se mais desafiador.

Apesar de sua importância, os sintomas emocionais ainda são pouco valorizados na prática clínica. Testes específicos para avaliar depressão e ansiedade raramente são aplicados em consultas de rotina. Muitos pacientes também deixam de relatar seus sentimentos por vergonha, medo de julgamento ou simplesmente por acreditarem que “faz parte” da doença.

Mas não precisa ser assim. Reconhecer os sinais de sofrimento emocional e buscar ajuda especializada é um passo essencial no cuidado integral.

Tratar a saúde mental é também tratar a doença reumática. Um acompanhamento que considere o corpo e a mente de forma conjunta melhora a adesão ao tratamento, reduz a dor e favorece o bem-estar.

Viver com uma doença autoimune é um desafio, mas é possível encontrar equilíbrio, qualidade de vida e esperança quando o cuidado é completo — do corpo e da alma.

Por Daniela Moraes,

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Daniela Moraes

Médica reumatologista pelo HC-FMRP-USP. Graduação, mestrado e doutorado pela FMRP-USP.

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