Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Lipedema

Será que a gordura localizada e a sensação de cansaço nas minhas pernas são sinais de lipedema?

Saiba como identificar e tratar esta doença crônica que causa desconforto físico e psicológico em muitas mulheres; e descubra as opções de tratamento disponíveis

Inchaço e sensação de cansaço nas pernas são queixas comuns entre muitas mulheres, principalmente durantes os dias mais quentes. Além disso, o acúmulo de gordura localizada em algumas partes do corpo, como as coxas, desperta preocupações não apenas estéticas, mas também relacionadas ao bem-estar físico, uma vez que comumente são acompanhadas de dor e desconforto. Mas será que esses sintomas indicam lipedema, assunto que vem ganhando cada vez mais a atenção da mídia?

O lipedema é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de gordura (tecido adiposo subcutâneo) em determinadas regiões do corpo, como quadris, coxas e pernas. Essa condição está associada a uma inflamação crônica localizada e pode resultar em impactos significativos na qualidade de vida das pessoas afetadas. Segundo o angiologista e cirurgião vascular Armando Lobato, presidente nacional da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), a causa exata do lipedema ainda não está completamente esclarecida. Contudo, sabe-se que a doença é de origem multifatorial, envolvendo tanto componentes genéticos quanto hormonais. 

Estima-se que entre 10% e 15% das mulheres em todo o mundo têm lipedema. “No Brasil, a falta de dados epidemiológicos específicos dificulta uma estimativa precisa, mas a conscientização sobre a doença tem crescido nos últimos anos, tanto entre os profissionais de saúde quanto entre a população. Essa maior visibilidade está relacionada à valorização da saúde, estética corporal e melhor acesso à informação”, contextualiza Lobato.

Geralmente, as mulheres são mais suscetíveis ao lipedema do que os homens, devido às influências hormonais, como os períodos de puberdade, gravidez e menopausa, que podem desencadear ou agravar a condição. “Além disso, há maior prevalência em mulheres com histórico familiar da doença”, acrescenta o angiologista.

Mas muita calma antes de olhar para as próprias pernas e cravar o diagnóstico de lipedema – somente o médico especialista pode fazer isso. Algumas informações, no entanto, ajudam a compreender os sintomas e, se for o caso, buscar o atendimento médico.

Como diferenciar os sintomas do lipedema de consequências do calor?

“No verão, muitas mulheres sentem inchaço e cansaço nas pernas devido à dilatação dos vasos sanguíneos, o que é transitório. Já o lipedema apresenta sintomas específicos que persistem independentemente do clima e não melhoram apenas com mudanças de temperatura ou elevação dos membros”, afirma Lobato.

Os sintomas mais comuns de lipedema são:

  • Acúmulo de gordura desproporcional, principalmente nas pernas e coxas, poupando os pés
  • Dor ao toque ou pressão na área afetada
  • Sensação de peso nas pernas, que não melhora com repouso
  • Tendência a hematomas frequentes, mesmo sem traumas significativos

Como saber se os “furinhos” na pele são celulite ou lipedema?

O lipedema também pode causar alterações na aparência da pele, semelhantes a “furinhos”, que lembram muito celulite, uma das principais inimigas das mulheres. Mas o angiologista explica que são quadros diferentes. 

“A celulite é causada pelo acúmulo de gordura localizada, retenção de líquidos e alterações no tecido conjuntivo. Já o lipedema é uma doença crônica que envolve um acúmulo anormal de gordura com alterações inflamatórias. É possível que mulheres com lipedema apresentem celulite associada, mas a celulite, isoladamente, não causa dor ou outros sintomas sistêmicos característicos do lipedema”, esclarece Lobato.

Há relação entre lipedema e varizes?

Outro ponto que gera muita dúvida é se o lipedema pode estar relacionado ao surgindo de varizes. Lobato explica que, embora sejam condições distintas, podem coexistir. “O lipedema está associado a uma fragilidade dos [vasos] capilares e ao comprometimento da circulação linfática, o que pode agravar sintomas como inchaço e peso nas pernas, também encontrados em casos de varizes. As varizes, por sua vez, decorrem de problemas nas veias, como refluxo venoso”. Nesse sentido – continua o médico –, mulheres com lipedema podem ter maior risco de desenvolver varizes devido ao comprometimento circulatório, mas uma condição não é necessariamente causadora da outra.

Somente pessoas com obesidade têm lipedema?

Diferentemente do que muitos pensam, o lipedema não está diretamente relacionado ao excesso de peso: “Embora a obesidade possa agravar os sintomas, o lipedema pode afetar mulheres magras, uma vez que o acúmulo de gordura desproporcional não depende do peso corporal total”, expõe o presidente da SBACV. Ele acrescenta: “Muitas mulheres com lipedema mantêm o peso adequado, mas apresentam depósitos de gordura localizados e dolorosos, típicos da doença.” 

Como é o diagnóstico de lipedema

 Lobato explica que o diagnóstico é baseado na avaliação dos sintomas e exame físico, onde são observados o acúmulo desproporcional de gordura em membros inferiores ou superiores, dor ou sensibilidade ao toque nas áreas afetadas, presença de hematomas frequentes e quando há a exclusão de outras condições, como linfedema e obesidade.

“Exames complementares, como ultrassonografia ou ressonância magnética, podem ser usados para diferenciar o lipedema de outros distúrbios”, detalha.

Qual é o melhor tratamento para lipedema

Embora a medicina ainda não tenha descoberto uma cura definitiva para o lipedema, existem tratamentos para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida:

  • Tratamento conservador: drenagem linfática manual, uso de meias de compressão, exercícios físicos de baixo impacto e dieta anti-inflamatória
  • Tratamento cirúrgico: a lipoaspiração assistida por água (WAL) é indicada em casos mais graves, para remover o excesso de gordura e aliviar os sintomas. A cirurgia é recomendada apenas após avaliação criteriosa

E vale o alerta: cuidado com terapias alternativas sem comprovação científica para o tratamento de lipedema e que frequentemente são promovidas na internet, pois além de não melhorarem o problema, podem colocar a saúde em risco.

Quais são os riscos de não tratar o lipedema?

Sem tratamento, o lipedema pode evoluir para estágios mais avançados, levando a:

  • Dor crônica intensa
  • Mobilidade reduzida devido ao acúmulo de gordura
  • Desenvolvimento de linfedema (lipolinfedema) secundário
  • Agravamento de problemas psicológicos, como baixa autoestima e depressão

“Portanto, o diagnóstico e o manejo precoces são fundamentais para prevenir complicações e melhorar a qualidade de vida”, conclui o angiologista Armando Lobato.

Se você suspeita que pode ter lipedema, é essencial buscar um diagnóstico correto e considerar as opções de tratamento disponíveis. Isso não apenas ajudará a aliviar os sintomas físicos, mas também poderá contribuir para a melhoria do seu bem-estar emocional.

Por Letícia Martins,

Olhar da Saúde-Leticia Martins

Letícia Martins

Jornalista com foco em saúde.

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