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Teduglutida: o que saber sobre o remédio contra a síndrome do intestino curto

Esse medicamento, um chamado agonista do receptor GLP-2, tem beneficiado muitos pacientes com essa condição. Mas ele exige cautela

A síndrome do intestino curto, por definição, é marcada por um comprimento do intestino delgado inferior a 2 metros (o tamanho médio chega a 7). Ela geralmente surge após a remoção de parte do órgão (em casos de câncer, por exemplo), mas doenças inflamatórias intestinais, problemas congênitos e até complicações da cirurgia bariátrica podem estar por trás de alguns episódios. 

Essa condição afeta a absorção de nutrientes e líquidos, o que muitas vezes culmina na necessidade de alimentação pela veia (nutrição parenteral). Pacientes nessa situação permanecem conectados a cateteres várias horas do dia. 

Imagine ficar internado para receber nutrientes pela veia durante muitas horas, todos os dias da semana. Como você planejaria suas viagens? Como marcaria uma reunião de negócios? Como assistiria ao seu time do coração? 

Onde entra a teduglutida 

A teduglutida é um medicamento análogo do peptídeo 2 semelhante ao glucagon (GLP-2), uma substância natural do corpo humano que desempenha papel crucial na manutenção da integridade da mucosa intestinal. Ao se ligar a receptores específicos no intestino, a teduglutida aumenta o fluxo sanguíneo intestinal, inibe a secreção de ácido gástrico e reduz a motilidade do intestino.

Esses efeitos contribuem para a reparação e o “crescimento” da superfície do intestino, o que aumenta a sua capacidade de absorver nutrientes e líquidos. Muitos pacientes ficam livres da nutrição pela veia com o uso da teduglutida. Outros acabam deixando de precisar de um transplante de intestino. 

Indicação da teduglutida no Brasil

Essa medicação está aprovada para pacientes com 1 ano de idade ou mais que têm síndrome do intestino curto e são dependentes de suporte parenteral. É importante que eles estejam estáveis após o período de adaptação intestinal subsequente à cirurgia antes de iniciar o tratamento.

A teduglutida é administrada todo dia, por injeção subcutânea, em uma dose de 0,05 mg por quilograma de peso corporal. A aplicação deve ser realizada sob a supervisão de um profissional de saúde experiente no manejo da síndrome do intestino irritável.

Como qualquer medicamento, a teduglutida pode causar efeitos colaterais. Os mais comuns incluem:

  • Dor abdominal
  • Sensação de inchaço
  • Náuseas e vômitos
  • Reações no local da injeção, como dor ou inchaço
  • Infecções respiratórias superiores, como nasofaringite
  • Dor de cabeça

De maneira geral, as reações adversas são transitórias e de intensidade leve a moderada. Contudo, em casos menos frequentes, há risco de:

  • Obstrução intestinal
  • Sobrecarga de líquidos, especialmente em pacientes com condições cardíacas
  • Alterações na vesícula biliar, ductos biliares e pâncreas

É crucial que os pacientes sejam monitorados regularmente para manejar quaisquer efeitos adversos. A presença de uma equipe multidisciplinar (médicos, nutricionistas, assistentes sociais, psicólogos etc.) ajuda muito no sucesso desse acompanhamento. 

Por isso, em 13 de agosto de 2024, o Ministério da Saúde instituiu o Programa Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Falência Intestinal no âmbito do SUS. Trata-se de uma maneira de organizar um programa robusto para pessoas com síndrome do intestino curto em diversas regiões do país.

Segundo mencionou a médica Maria de Lourdes Teixeira, durante o congresso DIACORDIS 2024, em São Paulo, estima-se que, em um futuro próximo, deva haver uma consulta pública para incluir a teduglutida gratuitamente no SUS. 

Considerações importantes

Antes de iniciar o tratamento com teduglutida, é essencial:

  • Realizar uma colonoscopia, para detectar e remover possíveis pólipos intestinais.
  • Monitorar as funções hepática, biliar e pancreática.
  • Ajustar cuidadosamente a nutrição parenteral, para evitar sobrecarga de líquidos e gerar inchaço. 

Pacientes com histórico de câncer gastrintestinal nos últimos cinco anos ou com suspeita de malignidade não devem usar teduglutida. Além disso, aqueles com insuficiência renal moderada a grave podem necessitar de ajuste de dose. 

O uso da teduglutida exige experiência. Mas não é isso que pede toda condição mais complexa?

 Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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