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Quando a fumaça apaga memórias: tabagismo e risco de Alzheimer

Instituído em 29 de agosto de 1986, o Dia Nacional de Combate ao Fumo é momento de reafirmar as vantagens em abandonar o cigarro – entre elas o bom funcionamento do cérebro

Não é segredo para ninguém, muito menos novidade: deixar de fumar é medida comprovada pela ciência para evitar ou retardar o aparecimento de doenças, de câncer a problemas cardíacos e respiratórios. 

Os efeitos do tabagismo se estendem ao cérebro e estão relacionados a um dos maiores desafios enfrentados mundialmente, sobretudo com o envelhecimento da população, que é o surgimento de Alzheimer e outras demências. A perda progressiva de memória e outras funções cognitivas, como a linguagem, o encadeamento dos pensamentos e a capacidade de realizar tarefas cotidianas, também tem ligação com o hábito de fumar. 

“O tabagismo é fator de risco cardiovascular muito bem estabelecido, assim como hipertensão, diabetes e dislipidemia. Da mesma forma, está por trás de ocorrências de quadros de Alzheimer e outras demências”, diz a neurologista Ana Carolina Gomes, do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. 

O principal mecanismo desse elo é que os componentes do cigarro comprometem a saúde vascular, aumentando por isso a probabilidade de declínio cognitivo. “Assim como o cigarro é prejudicial para a circulação da perna, do braço, do coração, ele atrapalha o fornecimento de sangue para o cérebro”, argumenta a médica. 

Outro efeito associado ao tabagismo é a diminuição de volume cerebral, como mostra uma investigação conduzida na Escola de Medicina da Universidade Washington e publicado no periódico Biological Psychiatry: Global Open Science

Os pesquisadores analisaram informações de saúde, incluindo imagens cerebrais e histórico de tabagismo, de mais de 32 mil indivíduos, extraídas de um banco de dados do Reino Unido. Um dos achados mostrou a relação entre o hábito de fumar e o encolhimento cerebral. 

“Um dos fatores de risco para um quadro demencial são as alterações vasculares. O cigarro provoca uma degeneração, principalmente a chamada microangiopatia, que afeta os pequenos vasos, e isso de fato contribuiu para uma redução do volume cerebral”, explica Ana Carolina Gomes. 

As mulheres são mais afetadas nesse contexto?

“A doença de Alzheimer é mais prevalente nas mulheres em razão de fatores hormonais. No climatério, elas têm mais chance de acúmulo de placa beta-amiloide, a neuropatologia base do Alzheimer, independentemente do tabagismo. Nas fumantes, o risco é ainda maior”, responde a médica. 

A quantidade de cigarros por dia faz diferença?

Quanto mais maços consumidos, mais a pessoa se expõe ao risco de alterações cerebrovasculares, aumentando, portanto, a probabilidade de apresentar deterioração da massa cinzenta. 

Sempre vale lembrar, entretanto, que o tabagismo está entre os chamados fatores de risco modificáveis de demências. “Estudos mostram que entre 40% e 60% dos casos poderiam ser evitados com mudanças de hábitos, e deixar de fumar é um deles”, diz a especialista do Oswaldo Cruz. 

Para uma doença como o Alzheimer, que ainda não apresenta opções efetivas de tratamento capazes de reverter sua progressão, a prevenção é primordial para mitigar o perigo. Entram nessa estratégia o controle de doenças como diabetes e pressão alta, atentar para o uso excessivo de bebidas alcoólicas, incluir atividade física e alimentação saudável na rotina. “Estímulos cognitivos também são importantes. Do mesmo jeito que frequentamos academia de ginástica para melhorar a força muscular, temos que trabalhar o cérebro para que ele faça novas conexões neurais”, diz Ana Carolina Gomes. 

Sem esquecer, claro, de apagar de vez o cigarro ou, de preferência, nem acender o primeiro.

Por Goretti Tenorio,

Olhar da Saúde-Goretti Tenorio

Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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