3 exames de sangue que ajudam a avaliar seu risco de infartar em 30 anos
Testes que medem LDL-colesterol, PCR e lipoproteína (a) podem estimar como anda a saúde cardiovascular e eventuais medidas a serem adotadas
Existe um levantamento nos Estados Unidos – o Women’s Health Study – que acompanha diferentes marcadores de saúde de milhares de mulheres desde a década de 1990. Pois um grupo de pesquisadores avaliou dados de 27.900 delas, com foco na dosagem de três exames de sangue e o quanto seus resultados estavam ligados a problemas cardiovasculares (principalmente infarto, AVC e morte por causas cardíacas) em 30 anos de acompanhamento.
E quais são esses três testes?
- Exame de LDL-colesterol: essa molécula, popularmente conhecida como colesterol ruim, associa-se a um risco maior de acúmulo de gordura nas artérias.
- Dosagem de PCR altamente sensível: a sigla vem de “proteína C-reativa”, uma marcadora de inflamação do organismo, inclusive nas artérias, o que favorece entupimentos.
- Exame de lipoproteína (a): ela é parecida com o colesterol ruim, porém menos famosa. E possui grande capacidade de gerar inflamação, calcificação dos vasos sanguíneos e trombose.
No início do estudo, as participantes possuíam, em média, 54 anos e sobrepeso. Uma pequena parcela apresentava diabetes ou um infarto prévio. Todas se submeteram a esses exames regularmente.
Dos três, o PCR foi o que, isoladamente, mais esteve associado a eventos cardiovasculares. As mulheres que apresentavam índices aumentados desse marcador de inflamação sofriam um risco 70% maior desse tipo de problema ao longo de 30 anos.
O LDL elevado veio em segundo lugar, com 36% de risco aumentado. E as taxas altas de lipoproteína (a) fecharam o pódio, com 33%. Tudo isso em comparação a mulheres com valores baixos dessas moléculas.
Mas um ponto especialmente importante é o de que, quando uma mulher apresentava alterações em ao menos dois desses marcadores, o crescimento do risco de panes cardiovasculares era exponencial. Por exemplo: mulheres com valores anormais de LDL, PCR e lipoproteína (a) possuíam um risco 270% maior de eventos cardiovasculares nesses 30 anos.
Vale destacar que, no estudo, a ameaça persistia independentemente da idade, da presença de obesidade, diabetes, hipertensão e tabagismo, de terapias hormonais e por aí vai. E a investigação traz uma conclusão: quanto menores as taxas desses exames, melhor.
Mas o que fazer se esses exames apontarem números estratosféricos? Sabemos que o LDL-colesterol, o mais conhecido da turma, sofre poucas interferências do estilo de vida (embora não nulas) e muitas da genética da pessoa. Remédios à base de estatinas e, eventualmente, outros conseguem baixar seus níveis consideravelmente. Hábitos de vida saudáveis entram como complemento.
A lipoproteína (a) – um exame que nem todos os convênios e seguros cobrem – é praticamente só determinada pelos genes da pessoa. E, até hoje, infelizmente não temos tratamentos eficientes na sua redução.
Já os números de um exame de PCR podem cair bastante com exercícios, boa alimentação, fuga do tabagismo etc. Além disso, têm surgido inúmeros estudos com novas moléculas anti-inflamatórias visando a redução de eventos cardiovasculares.
Nesse momento, muitos leitores devem estar se perguntando quais os sintomas que esses exames, quando alterados, trazem. E a resposta é categórica: nenhum!
LDL, PCR e lipoproteína (a) podem ficar anos e mais anos em concentrações bem altas de forma completamente silenciosa. Até que sua manifestação surge sob a forma de um infarto, um derrame ou até mesmo uma morte.
Por isso, check-ups e consultas periódicas devem ser feitos por todos nós rotineiramente. Na sua próxima conversa com o médico, aborde esses três exames.
6 de setembro de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.