Após uma birra, como educar sem punição
Eduque na calma e não no caos. A educação positiva acolhe e valida as emoções da criança, estabelecendo limites e formando indivíduos respeitosos
Um choro em público ou em uma reunião familiar, normalmente após uma frustração ou um pedido negado pelos pais, pode rapidamente virar um caos. Nessas horas, muitos pais acabam recorrendo ao castigo, mas essa decisão é um erro. A teimosia infantil, frequentemente vista de forma negativa, é um desafio para os adultos. Queremos filhos obedientes e quietos, mas também desejamos que se tornem adultos determinados. Essa é uma contradição que precisa ser resolvida.
Na educação tradicional, pais que se recusam a aplicar os métodos com os quais foram criados são frequentemente alvo de olhares tortos e julgamentos. No entanto, hoje, muitos estão cientes de que uma educação baseada no respeito, acolhimento e validação dos sentimentos, que dá voz e ouvidos aos filhos, só contribui para o desenvolvimento intelectual e emocional deles.
A educadora parental e pós-graduanda em Neurociências e Desenvolvimento Infantil, Priscilla Montes, há cinco anos se dedica à educação positiva. Ela utiliza seu conhecimento científico para promover uma relação baseada no respeito entre pais e filhos. “A educação positiva é a alternativa para romper o padrão de violência infantil. Nossas crianças precisam de cuidado e respeito. Ao serem educadas com os pilares da educação positiva, serão adultos mais respeitosos e preparados para o mundo”, afirma.
Priscilla Montes, educadora parental e pós-graduanda em Neurociências e Desenvolvimento Infantil
Foto: arquivo pessoal.
A educação positiva busca fortalecer o relacionamento entre pais, filhos e demais adultos que convivem com as crianças por meio de valores como respeito, empatia, autonomia e disciplina. “Essa abordagem é ensinada pelo exemplo, pelo encorajamento e pelo suporte familiar. Precisamos estar abertos para escutar nossos filhos, com uma escuta ativa e presente”, explica Priscilla.
Adotar a educação positiva exige presença física e emocional dos responsáveis, além de um processo contínuo de autoaperfeiçoamento e busca pelo bem-estar psicológico para lidar com a complexa tarefa de cuidar de outro indivíduo.
A birra, geralmente, tem uma causa subjacente. Priscilla Montes destaca que é fundamental entender o motivo e agir com calma. “Você é o modelo de como seu filho deve lidar com sentimentos de frustração, raiva e tristeza. A sua tranquilidade ajudará a acalmá-lo durante uma crise de raiva. Mostre maneiras de se acalmar, como respirar fundo e contar até dez. Nomeie os sentimentos e reconheça o que seu filho está sentindo. Diga, por exemplo: ‘Você está bravo porque não quer sair do carrinho. Tudo bem ficar bravo, mas gritar ou ser agressivo não ajuda. Vamos tentar agir de outra forma, eu vou te ajudar’”, orienta.
Outra dica valiosa é dar escolhas levando em consideração o gosto da criança, desejo e respeitando a individualidade dela. Ou seja, não oferecer escolhas no lugar de “controle”. É importante dar escolhas, mas no lugar de ouvir e respeitar os seus desejos, as suas vontades, os seus gostos, dentro de uma razoabilidade, é claro.
Por fim, em vez de usar a palavra “não”, tente redirecionar a conversa. Identifique o que a criança deseja e proponha uma resposta positiva, que seja boa para ela e viável para a família. Essa mudança de abordagem pode transformar o “não” em uma oportunidade de aprendizado e colaboração.
Por Danielle Campos, jornalista
2 de setembro de 2024