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Diabetes tipo 2: o surpreendente déficit de vitaminas que poucos conhecem

Você sabia que ter diabetes tipo 2 não significa apenas controlar o açúcar no sangue? A deficiência de nutrientes essenciais ao nosso organismo pode ter tudo a ver com a doença

Um grande estudo publicado recentemente no BMJ Nutrition, Prevention & Health revelou uma realidade surpreendente: quase metade das pessoas com diabetes tipo 2 sofre de deficiências de nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais. Esse inimigo invisível pode piorar ainda mais a saúde dessas pessoas.

Essa pesquisa foi conduzida por cientistas da IIHMR University de Jaipur e do International Institute of Health Management Research, de Nova Délhi, ambos na Índia, com participação da Abbott Nutrition, em Mumbai. O trabalho foi liderado pelo Dr. Daya Krishan Mangal, referência internacional em saúde pública.

O que os pesquisadores descobriram?

Foram analisados dados de 132 estudos, somando mais de 52 mil pacientes com diabetes tipo 2, de diferentes regiões do mundo.

O resultado foi alarmante: 45% dos pacientes com diabetes tipo 2 apresentam múltiplas deficiências de micronutrientes. O problema é ainda mais grave entre as mulheres diabéticas, em quem a prevalência chega a quase 49%.

Os nutrientes com maiores deficiências são:

– Vitamina D: 60% dos diabéticos apresentam deficiência.

– Magnésio: falta em mais de 40% dos casos.

– Vitamina B12: deficiência em 28% dos pacientes que tomam metformina, um dos medicamentos mais comuns para tratar o diabetes.

Por que as deficiências de micronutrientes são tão comuns no diabetes?

As deficiências de micronutrientes podem afetar diretamente o metabolismo da glicose e o funcionamento da insulina, agravando o diabetes e aumentando o risco de complicações cardiovasculares e outras doenças crônicas.

Além disso, fatores como alimentação inadequada, estilo de vida sedentário, obesidade
e até mesmo questões culturais podem interferir na ingestão ou absorção desses nutrientes.

O estudo também revelou que as mulheres são mais afetadas que os homens, possivelmente devido a diferenças hormonais, hábitos alimentares e questões sociais.

Como está a situação no Brasil?

Embora o estudo tenha analisado diversas regiões do mundo, os dados mostraram que as Américas, incluindo o Brasil, têm a maior prevalência de deficiência de micronutrientes entre diabéticos: mais de 54%. Ou seja, mais da metade dos diabéticos brasileiros pode estar enfrentando esse inimigo oculto sem saber.

O que isso significa para você?

Se você ou alguém próximo tem diabetes tipo 2, é fundamental saber que manter os níveis adequados de micronutrientes é essencial para o controle da doença.

A falta de nutrientes como vitamina d, vitamina B12 e magnésio pode prejudicar ainda mais a saúde, mesmo que o nível de açúcar no sangue esteja aparentemente sob controle.

Esse estudo reforça a importância de:

– Consultas regulares com nutricionistas e médicos.

– Exames específicos quando indicados.

– Alimentação balanceada ou, quando necessário, uso de suplementos.

Os pesquisadores destacam que, tradicionalmente, os médicos e sistemas de saúde focam muito no controle glicêmico, mas pouco na prevenção ou detecção dessas deficiências silenciosas.

Esse estudo, um dos maiores já realizados sobre o tema, sugere que precisamos mudar a forma como cuidamos da diabetes.

O que os especialistas recomendam?

Os autores recomendam que:

– Políticas públicas de saúde incluam a avaliação nutricional como parte do atendimento padrão para pacientes com diabetes.

– Mais pesquisas sejam realizadas, especialmente estudos populacionais, para entender melhor como essas deficiências ocultas afetam diferentes grupos.

Cuidado com interpretações equivocadas!

É muito importante frisar que os resultados desse estudo não devem ser mal interpretados. Infelizmente, no Brasil, inúmeras clínicas promovem protocolos abusivos e sem evidência científica, como a soroterapia indiscriminada e a reposição parenteral de vitaminas em pessoas sem real necessidade.

Além disso, há uma supersolicitação de exames laboratoriais na prática clínica, o que pode confundir profissionais e pacientes, além de gerar um custo desnecessário para o sistema de saúde.

O que é mais importante fazer?

– Comece com uma boa consulta médica.

– Realize uma entrevista detalhada e uma avaliação nutricional criteriosa.

– Se forem identificadas deficiências reais, a reposição deve ser feita, preferencialmente, por meio de uma alimentação equilibrada.

– Quando necessário, recorra a suplementos, sempre com orientação profissional.

Evite práticas perigosas e intervenções desnecessárias!

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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