Tenho diabetes tipo 1. Por que meu pâncreas não produz insulina?
Esta é uma pergunta frequente no consultório – e que mostra
como a falta de informação atrapalha o bem-estar diante dessa doença
Muitas vezes, recebo no consultório pessoas com diabetes tipo 1 que têm a condição há muito tempo. E o que impressiona é que a maioria não entende completamente como o diabetes se desenvolve ao longo dos anos – o que inclusive pode comprometer o tratamento. Então, para explicar o surgimento dessa doença, precisamos lembrar do sistema imunológico, que é uma espécie de defesa natural contra vírus, bactérias e outras ameaças à saúde.
No caso do diabetes tipo 1, é importante que todos saibam que o problema não está no pâncreas, mas, sim, no sistema imunológico. Isso porque, em vez de apenas proteger o corpo, ele começa a atacar as células que produzem insulina no pâncreas, chamadas de células beta.
Isso é chamado de autoimunidade. Como resultado, essas células são destruídas, e o pâncreas não consegue mais produzir insulina, que é essencial para a nossa sobrevivência.
Não sabemos ao certo por que o sistema imunológico decide atacar o próprio corpo, especificamente as células beta. Acredita-se que, em 30% dos pacientes, isso aconteça por razões genéticas; nos 70% restantes, devido a fatores ambientais ainda desconhecidos.
A teoria mais aceita hoje é que, em algum momento no passado (meses ou anos antes), o paciente foi exposto a um vírus com moléculas semelhantes a estruturas presentes nas células beta produtoras de insulina. Aí o sistema imunológico cria defesas contra esse vírus, mas, pela semelhança, também passa a atacar equivocadamente as células beta.
É interessante notar que esse processo de autodestruição começa muito antes de os sintomas aparecerem. As células beta são gradualmente degeneradas até que a capacidade do pâncreas de secretar insulina fique muito reduzida, causando sintomas como sede intensa, urina frequente, perda de peso e visão turva.
Até hoje não sabemos exatamente quais genes estão relacionados ao diabetes tipo 1, porque alguns desenvolvem a condição e outros não, nem quais vírus ou outros fatores desencadeiam esse processo.
Aliás, é também por isso que não temos vacina ou cura até hoje para essa condição autoimune.
Mas, se por um lado temos essas dúvidas, por outro já carregamos algumas certezas. Entre elas, a de que informação, exercícios regulares, alimentação balanceada e tratamento com aplicação de insulina são a chave para alcançar uma vida saudável e livre das complicações do diabetes tipo 1.
16 de março de 2024
,Carlos Eduardo Barra Couri
Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde