A vida sem baço exige vacinas: entenda por quê
Com funções no sistema imunológico e na filtragem do sangue, esse órgão desperta muitas dúvidas quando surge a hipótese de sua retirada
Pouca gente fala sobre ele, mas o baço é um órgão nobre e silencioso, localizado no lado esquerdo do abdômen, logo abaixo das costelas. Embora pequeno, tem funções importantes no sistema imunológico e na filtragem do sangue. Em algumas situações médicas, no entanto, ele precisa ser retirado cirurgicamente, como alguns tipos de câncer ou após um trauma, por exemplo. E aí surgem muitas dúvidas: “Vou viver normalmente sem o baço?”, “Meu sistema de defesa vai ficar enfraquecido?”, “Devo tomar vacinas específicas?”. Vamos entender tudo isso com clareza.
O baço é uma espécie de “filtro natural” do nosso corpo. Ele tem duas funções principais:
– Imunológica: o baço ajuda a combater infecções ao produzir e armazenar linfócitos (um tipo de célula de defesa), além de identificar e remover micro-organismos do sangue.
– Filtragem e reciclagem do sangue: ele retira células sanguíneas antigas ou defeituosas da circulação, como hemácias envelhecidas e plaquetas em excesso.
Ou seja, ele funciona como uma central de triagem e defesa ao mesmo tempo. Mas, em alguns casos — como lesões traumáticas, doenças hematológicas (como algumas anemias) ou aumento excessivo do órgão —, a retirada do baço se torna necessária.
Posso viver sem o baço?
Sim. A vida segue, mas com alguns cuidados fundamentais. Isso porque, com a retirada do baço, o corpo perde parte de sua capacidade de combater infecções, especialmente aquelas causadas por certos tipos de bactérias encapsuladas, como:
- Streptococcus pneumoniae (pneumococo)
- Haemophilus influenzae tipo B
- Neisseria meningitidis (meningococo)
Essas bactérias, que podem causar pneumonia, meningite ou septicemia (infecção generalizada), são especialmente perigosas para quem não tem baço.
A principal complicação de longo prazo é chamada de síndrome OPSI (overwhelming post-splenectomy infection), uma infecção súbita e grave que pode evoluir rapidamente. Embora seja rara, ela é potencialmente fatal se não for reconhecida e tratada a tempo. Por isso, a prevenção é a melhor estratégia. E isso passa, principalmente, por vacinação e vigilância constante.
O ideal é se vacinar antes da retirada o baço
Quem passou (ou vai passar) por uma cirurgia de retirada do baço deve receber vacinas específicas que protegem justamente contra as bactérias mais perigosas nesse contexto. O ideal é que essas vacinas sejam aplicadas 2 semanas antes da cirurgia programada ou, nos casos de urgência, pelo menos 2 semanas depois da cirurgia.
As principais vacinas recomendadas são:
1. Vacina contra o pneumococo
- Vacina conjugada 13-valente (VPC13): protege contra 13 tipos de pneumococo.
- Vacina polissacarídica 23-valente (VPP23): cobre mais 10 tipos adicionais. Deve ser aplicada após a VPC13.
- Vacina conjugada 20-valente (VCP20): mais recente, cobre 20 tipos pneumococo. Na maioria das vezes, a sua dose é única.
2. Vacina contra o Haemophilus influenzae tipo B (Hib)
- Normalmente dada na infância, mas deve ser reforçada ou aplicada em adultos que não a receberam.
3. Vacina meningocócica
- Vacina contra o meningococo C ou a vacina ACWY.
- Vacina contra o meningococo B, dependendo da idade e indicação do médico.
4. Vacinas gerais
- Influenza (gripe): anual, pois infecções respiratórias podem ser mais graves em quem não tem baço.
- Covid-19: conforme esquema nacional e reforços.
- Hepatite B e outras de rotina: de acordo com a idade e histórico vacinal.
O ideal é ter um cartão de vacinação atualizado e seguir orientação do médico e da equipe de imunização.
Outros cuidados importantes
Além das vacinas, algumas precauções devem fazer parte da rotina de quem vive sem o baço:
– Alerta com febre: qualquer febre em quem não tem baço deve ser considerada uma emergência potencial. Procure atendimento médico imediatamente, mesmo que os sintomas pareçam leves. Um antibiótico na hora certa pode salvar vidas.
– Uso preventivo de antibióticos: em alguns casos (especialmente em crianças pequenas ou pacientes com doenças associadas), o médico pode indicar o uso diário de antibióticos como prevenção.
– Viagens internacionais: ao viajar para locais com risco de malária ou febre tifoide, por exemplo, é fundamental consultar um infectologista. Quem não tem baço está mais vulnerável a infecções adquiridas em algumas regiões do mundo.
– Ter sempre consigo a carteirinha de esplenectomizado (que teve o baço retirado): é recomendável que o paciente carregue consigo uma identificação (pode ser um cartão físico ou digital) informando que não possui baço. Isso pode ajudar em situações de emergência.
Em suma, a retirada do baço não impede uma vida saudável e ativa. Mas exige consciência, responsabilidade e prevenção. As vacinas salvam vidas, e estar atento a sinais como febre é essencial. Mantenha acompanhamento médico regular e um diálogo aberto com seu profissional de saúde. Cuidar da saúde, mesmo sem o baço, é perfeitamente possível.
Da redação, 11 de julho de 2025