Como cuidar da visão: 8 erros que você deve evitar agora
Do excesso de telas ao uso indiscriminado de colírios, atitudes aparentemente inofensivas podem acelerar doenças oculares silenciosas, como glaucoma e degeneração macular
Visitar o oftalmologista regularmente não é apenas uma questão de enxergar bem. É, sobretudo, uma medida de prevenção contra doenças silenciosas que podem comprometer a visão de forma irreversível.
Segundo a oftalmologista retinóloga Francyne Veiga Reis Cyrino, médica assistente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, deixar de se consultar é um dos erros mais graves que as pessoas cometem. “Doenças como glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e até alguns tumores oculares podem evoluir silenciosamente por anos, sem dor ou sintomas visuais evidentes, até atingirem estágios irreversíveis”, alerta.
Ou seja, até quem não tem queixas sobre a saúde dos olhos precisa passar por avaliação. “Mesmo as pessoas saudáveis e que ‘enxergam bem’ devem ser avaliadas, assim como as crianças. Quando a pessoa percebe que está enxergando pior, algumas vezes o dano já é permanente”, ressalta Francyne.
Qual a frequência ideal das consultas?
A periodicidade varia de acordo com a fase da vida:
- Bebês: avaliação no primeiro ano;
- Crianças entre 3 e 4 anos e, após essa idade, segundo a recomendação do seu oftalmologista;
- Adultos sem histórico de complicação de saúde: a cada 2 anos;
- Pessoas com diabetes: anualmente ou menos, se houver alterações de fundo de olho;
- Pessoas com histórico de glaucoma ou degeneração macular: a cada 6 a 12 meses, dependendo do caso.
Mas deixar de fazer as consultas preventivas não é o único descuido que compromete a saúde ocular e a qualidade de vida. Francyne, que também é co-founder do Consultores de Retina e Vítreo (CRV), de Ribeirão Preto (SP), alerta para outros pontos de atenção.
Uso prolongado e/ou excessivo de telas
O uso prolongado de computadores e celulares está entre os hábitos mais prejudiciais da atualidade e pode trazer fadiga visual ao final do dia, sintomas como dor de cabeça, sensação de areia nos olhos, embaçamento visual e olho vermelho.
“Isso ocorre porque piscamos menos quando ficamos em frente às telas e, muitas vezes, estamos em ambientes com ar-condicionado ou ventilador. Nesses casos, a sensação de olho seco se pronuncia ou se agrava”, esclarece Francyne. Ela recomenda desviar sempre o olhar das telas por alguns minutos e fazer pausas a cada hora diante delas. “O uso de lágrimas artificiais, isto é, colírios lubrificantes, também pode ajudar”.
Usar celular no escuro
Pegando carona no descuido anterior, utilizar o celular à noite, antes de dormir, por exemplo, é outro hábito comum atualmente, mas que joga contra a saúde dos olhos, pois aumenta a dilatação pupilar e pode desencadear complicações em pessoas predispostas. “Além da falta de repouso e do excesso de luz azul, que tem um comprimento de onda que mais “danosa” para a nossa retina”, acrescenta Francyne.
Coçar os olhos
Esse gesto pode parecer inofensivo, mas a prática pode causar danos graves ao globo ocular, que é composto por várias estruturas tanto na parte externa, como a conjuntiva e a córnea, quanto na cavidade interna, como o vítreo e a retina. Francyne explica que, ao coçar os olhos, apertamos e friccionamos essas estruturas, podendo agravar, por exemplo, casos de ceratocone, que é uma deformação progressiva que distorce a visão.
“O atrito mecânico repetido enfraquece a estrutura da córnea, podendo desencadear ou agravar o ceratocone, que, em casos avançados, exige transplante de córnea”, alerta a oftalmologista.
Além disso, apertar os olhos aumenta temporariamente a pressão intraocular transitória, prejudicial para pessoas com glaucoma ou risco de neuropatia óptica, e pode até causar rasgaduras e descolamento da retina em indivíduos predispostos.
Dormir de maquiagem
Segundo a especialista, dormir com maquiagem nos olhos é sempre prejudicial, mesmo com produtos “oftalmologicamente testados” ou hipoalergênicos. Os resíduos do cosmético entopem as glândulas que produzem a camada lipídica da lágrima, predispondo à síndrome do olho seco, conjuntivite e reações alérgicas tardias.
A orientação é sempre remover a maquiagem antes de dormir, usando demaquilantes suaves ou solução micelar própria para a área dos olhos, evitar aplicar lápis na linha d’água, trocar os produtos de maquiagem regularmente e não usar produtos vencidos ou muito antigos.
Óculos de sol sem proteção UV
Adquirir óculos em locais não confiáveis pode custar caro. “A radiação ultravioleta em geral, somada à luz azul de alta energia emitida por telas e dispositivos eletrônicos, está associada à catarata, degeneração macular, inflamações e até câncer de pele na região das pálpebras”, explica Francyne. A proteção UV deve ser obrigatória, mesmo em dias nublados.
A médica explica que a radiação ultravioleta (UV) é invisível aos olhos, mas seus efeitos podem ser devastadores para a visão. Ela é dividida em três faixas principais — UVA, UVB e UVC —, cada uma com capacidade diferente de penetração nos tecidos da pele e dos olhos.
- A UVA está relacionada ao envelhecimento precoce das estruturas oculares e pode contribuir para o desenvolvimento de catarata e degeneração macular.
- Já a UVB (280–315 nm), absorvida pela córnea e pelo cristalino, provoca inchaço das pálpebras, fotoceratite (aquela sensação de “olho arranhado” após um dia de sol sem proteção), além de favorecer o aparecimento de pterígio e acelerar o surgimento da catarata.
- A UVC, embora extremamente nociva, é praticamente toda filtrada pela camada de ozônio.
Uso indiscriminado de colírios
Colírios vendidos sem prescrição, principalmente os vasoconstritores, que deixam os olhos “brancos”, ou os corticosteroides, representam risco sério. “O uso contínuo destes colírios pode ‘camuflar’ um quadro de ceratite infecciosa, uveíte, glaucoma agudo e até conjuntivite mais sérias secundárias a fungos, bactérias ou herpes”, aponta Francyne.
Corticoides oculares usados de forma indiscriminada pode causar toxicidade da córnea e embaçamento visual, dor e lacrimejamento, além de glaucoma secundário, que pode levar à perda da visão. “Mesmo as lágrimas artificiais, aparentemente inócuas, podem causar irritação ou estragar por exemplo a lente de contato, pois nem todas sao livres de conservantes”.
Compartilhar itens pessoais
Qualquer objeto que entre em contato com a região ocular não deve ser compartilhado. Por exemplo:
- Maquiagem (rímel, lápis, delineado, entre outros);
- Cílios postiços;
- Toalhas;
- Estojos de lentes de contato;
- Solução de lente de contato;
- Lentes de contato coloridas etc.
O motivo é simples: esses itens podem transmitir conjuntivite viral, herpes, fungos e, em casos mais graves, protozoários como a Acanthamoeba, que causam infecções severas e até perda da córnea e visão se não diagnosticada a tempo.
Mensagem final
Quando o assunto é saúde dos olhos, a máxima de que prevenir é melhor que remediar continua valendo. “Nossos olhos são extremamente delicados e suscetíveis a inúmeras doenças e complicações que somente o seu oftalmologista poderá avaliar e diagnosticar. São os olhos que nos proporcionam as imagens mais lindas da vida e nada é mais triste do que ficar no escuro. Por isso, cuide sempre de você”, finaliza Dra. Francyne Cyrino.
19 de agosto de 2025
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