Cirurgia robótica: da ficção científica à realidade
Um breve histórico desse procedimento – e seus benefícios e desafios na atualidade
Cirurgia robótica é um termo cada vez mais presente na atualidade. Apesar de soar como uma novidade para muitos, essa tecnologia teve suas primeiras aparições já na década de 1980. O primeiro procedimento do qual se tem notícia foi uma biópsia cerebral, realizada em 1985 por um braço mecânico automatizado.
Com o avanço da tecnologia, mais tarefas foram desenvolvidas para que as máquinas realizassem exercícios semelhantes aos dos cirurgiões.
Paralelamente a esse desenvolvimento, nessa mesma época os primeiros passos da telemedicina estavam sendo dados por cientistas da NASA, que idealizavam operacionalizar as máquinas e os robôs a distância.
Quando ocorreu a integração dos braços mecânicos e da tecnologia da telemedicina, pesquisadores começaram uma grande corrida para a criação de plataformas robóticas integradas, com o intuito de auxiliar em procedimentos cada vez mais complexos e desafiadores.
Costurar vasos danificados e retirar partes de órgãos lesionados (como rins e bexiga, entre tantos outros) foram algumas das inúmeras tarefas praticadas em animais suínos antes que os testes fossem iniciados em seres humanos.
Foi quando, em 1995, surgiu uma nova empresa nos Estados Unidos, chamada de Intuitive Surgical, que promoveu novos avanços nas diversas tecnologias e equipamentos robóticos existentes daquela época.
As melhorias nas plataformas robóticas foram constantes. Mas a que se consagrou na nova era da cirurgia robótica, já no final da década de 1990 e no início dos anos 2000, foi denominada de Da Vinci.
O protótipo Da Vinci, com suas diversas gerações e melhorias, é, atualmente, a plataforma robótica mais disseminada pelo mundo, com mais de 5 mil unidades em funcionamento nos Estados Unidos e pouco mais de 100 espalhadas pelo Brasil. Essa plataforma consiste em três componentes:
- Console
- Carrinho do paciente
- Sistema de visão
O console é o local onde o cirurgião fica sentado recebendo a visão tridimensional oferecida pela câmera do robô, que, juntamente com outros dois ou três braços robóticos, são instalados no organismo do paciente por meio de furinhos de 1 a 1,5 cm.
Todos os movimentos das mãos do cirurgião realizados no console – que fica a aproximadamente 3 a 5 metros da mesa cirúrgica – são transmitidos para os comandos do carrinho do paciente de uma forma integrada, precisa e sem nenhum tremor.
Aliás, a sala de cirurgia onde está o robô conta com a presença e o apoio contínuo de outro cirurgião habilitado.
Os braços robóticos integrados no carrinho do paciente ficam ao lado da mesa cirúrgica onde ele se encontra anestesiado. O sistema de visão, por sua vez, funciona como um cérebro do robô, por meio de um conjunto de equipamentos integrados ao console do cirurgião e ao carrinho do paciente. Ele garante que tudo trabalhe em harmonia.
Os benefícios da cirurgia robótica são:
- Visão tridimensional dos órgãos
- Maior precisão de movimentos
- Eliminação dos tremores durante os movimentos executados pelos cirurgiões
- Maior ergonomia para a equipe médica, que passa a operar sentada em uma poltrona, o que reduz o cansaço físico em cirurgias prolongadas
- Redução da dor pós-operatória do paciente
- Tecnologia avançada de ligadura de vasos sanguíneos e grampeadores automáticos, em caso de necessidade
- Tecnologia de visão para fluorescência que identifica tecidos com melhor irrigação sanguínea
- Entre outros…
Diante de tudo isso, a cirurgia robótica vem se disseminando. Já há robôs para ablação de câncer nos tratamentos oncológicos; para instalação de próteses na ortopedia; para cirurgias endoscópicas e ginecológicas; até para tratamentos cardiológicos e na área da Neurocirurgia. Hoje, essa tecnologia é o principal recurso para cirurgias minimamente invasivas.
Mas há um desafio, que já está lançado: reduzir os custos de todos os robôs para ampliar o acesso da cirurgia robótica para a população.
22 de março de 2024
,Marcelo de Oliveira Rodrigues da Cunha
Especialista em Cirurgia Geral, Cirurgia do Trauma e Cirurgia do Aparelho Digestivo, membro da SBCBM e do CBCD, cirurgião robótico pela Intuitive e especialista em Transplante de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo pelo HC-FMUSP.