Estudo aponta eficácia e segurança da tirzepatida em adolescentes com diabetes tipo 2
Apresentada no Congresso Europeu de Diabetes, a pesquisa abre as portas para um melhor controle da obesidade e do diabetes em jovens
Cada vez mais a obesidade e o diabetes tipo 2 afetam a população entre 10 e 17 anos, o que acende um alerta para a saúde pública mundial. Uma pesquisa inédita, apresentada no Congresso Europeu de Diabetes em Viena, na Áustria, e publicada na revista The Lancet, mostra que o tratamento precoce pode ser decisivo para mudar o futuro desses jovens.
Estudos anteriores já indicavam que até 80% dos adolescentes com diabetes tipo 2 desenvolvem complicações em apenas 15 anos. Ou seja, um paciente de 16 anos pode chegar aos 30 já com sérios danos à saúde.
O estudo SURPASS-PEDS
Ele investigou o uso da tirzepatida nas doses de 5 ou 10 miligramas (mg), em jovens de 10 a 17 anos com diabetes tipo 2 e obesidade — a título de curiosidade, adultos utilizam até 15 mg. A investigação contou com 99 participantes de oito países, incluindo Brasil, e comparou a tirzepatida com placebo durante 30 semanas, com acompanhamento de até um ano.
Os resultados foram considerados positivos:
- Redução de 2,23% nos níveis de hemoglobina glicada, medida que avalia o controle da glicose no sangue ao longo do tempo. No grupo placebo, houve piora.
- Queda significativa do índice de massa corporal (IMC): 7,4% no grupo de menor dose e 11,2% no de maior, contra apenas 0,4% no grupo placebo.
- Melhora no colesterol, triglicérides e pressão arterial.
- Perfil de segurança semelhante ao observado em adultos, com efeitos colaterais leves (principalmente náuseas e desconforto gastrointestinal no início do tratamento).
Além disso, os benefícios foram sustentados por até um ano, algo inédito em terapias para adolescentes com diabetes tipo 2.
Por que isso importa para a saúde pública?
Nas últimas duas décadas, o número de adolescentes com diabetes tipo 2 dobrou em países como os Estados Unidos. O Brasil segue a mesma tendência.
Nessa faixa etária, a doença é ainda mais agressiva do que quando diagnosticada em adultos: o organismo apresenta maior resistência à insulina e rápida perda da função das células pancreáticas, por exemplo. Isso significa risco adicional de infarto, derrame, insuficiência renal e cegueira ainda na fase adulta jovem.
Especialistas destacam a necessidade de intervenção precoce e eficaz, com medicamentos que não apenas controlam a glicemia, como atuam na causa do problema: o excesso de peso. Até agora, nenhum tratamento havia mostrado impacto tão expressivo no controle da glicose e na redução do IMC em adolescentes quanto a tirzepatida.
O estudo SURPASS-PEDS reforça a importância de repensar as estratégias de prevenção e tratamento. Para a Associação Americana de Diabetes, a meta em adolescentes deve incluir a glicemia controlada e a perda de 7 a 10% do peso corporal.
Nesse sentido, a tirzepatida surge como uma possível mudança de paradigma, embora ainda sejam necessários mais estudos antes de sua aprovação definitiva para uso nessa faixa etária.
, 2 de outubro de 2025

