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Medicamento para diabetes tipo 2 aumenta risco de fimose

Estudo dinamarquês revela que homens que usam remédios que eliminam glicose pela urina têm um risco quase duas vezes maior de desenvolver esse problema no pênis. E agora?

Os medicamentos inibidores de SGLT2, como dapagliflozina (Forxiga®) ou empagliflozina (Jardiance®), são grandes aliados no controle da glicemia e na proteção do coração e dos rins de pacientes com diabetes tipo 2. Mas, como tudo na medicina, eles têm efeitos colaterais. E uma pesquisa inédita chama atenção para um ponto até então pouco comentado: o risco de fimose.

A fimose é uma condição em que o prepúcio, camada de pele que cobre a glande do pênis, não se retrai normalmente. Em casos sérios, pode causar dor e infecção, além de demandar uma cirurgia. E por que esse problema estaria relacionado aos inibidores de SGLT2?

Ora, essas drogas aumentam a eliminação de glicose pelo xixi, o que é bom para controlar o açúcar no sangue, porém pode alimentar fungos e bactérias presentes no canal urinário, especialmente em regiões úmidas e pouco ventiladas, como o ambiente genital. Isso facilita infecções e inflamações locais, que, por sua vez, favorecem o surgimento da fimose.

Para investigar esse vínculo, pesquisadores na Dinamarca analisaram dados de homens adultos com diabetes tipo 2 que, além da metformina, passaram a usar inibidores de SGLT2 ou agonistas de GLP-1 (liraglutida e semaglutida, por exemplo). 

O estudo foi publicado na revista científica Diabetes Care, em julho de 2025. Foram 46 mil homens avaliados, com duração média do acompanhamento de quatro anos, chegando a oito em alguns casos. Após um ano, a fimose apareceu em 0,9% dos homens usando inibidores de SGLT2, ante 0,5% entre aqueles recebendo agonistas de GLP-1. Em oito anos, o risco chegou a 4,8% no primeiro grupo, contra 3,6% no segundo. 

Claro que não são números muito elevados — estamos falando de quatro a cinco pessoas tratadas a cada 100. No entanto, há uma probabilidade 36% maior de desenvolver fimose na comparação entre os dois grupos, o que demanda cuidados adicionais e monitoramento. 

Os usuários de dapagliflozina ou empagliflozina precisam ficar atentos a sintomas como dor, vermelhidão, desconforto ao urinar, corrimento, dificuldade para retrair o prepúcio e sinais iniciais de infecção. O cuidado precoce evita complicações sérias, como a necessidade de cirurgia.

Médicos devem abordar essa questão, orientar sobre a higiene adequada dos genitais e fazer exames físicos detalhados para pegar eventuais infecções ou inflamações nos primeiros passos. 

Não se trata de abandonar o uso dos inibidores de SGLT2 — longe disso. Ao integrar esse conhecimento à prática clínica e ao cuidado diário, é possível garantir que os enormes benefícios desses remédios não venham acompanhados de efeitos colaterais inesperados. 

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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