Para além da redução de peso, tirzepatida protegeria o coração de quem tem diabetes tipo 2
Medicamento que ganhou os holofotes pelo potencial emagrecedor trouxe, em um estudo robusto, benefícios significativos para a saúde cardiovascular de pessoas com essa doença
A tirzepatida, conhecida pelo nome comercial Mounjaro, virou uma estrela no tratamento da obesidade pela capacidade expressiva na redução de peso. Mas o mais recente e robusto estudo sobre a molécula mostra que ela vai além da balança. Chamada de SURPASS-CVOT, a pesquisa trouxe evidências de que a tirzepatida pode salvar vidas de pessoas com diabetes tipo 2 ao reduzir eventos graves como morte cardiovascular, infarto e derrame cerebral.
O trabalho foi apresentado no Congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes em Viena (Áustria), no fim de setembro de 2025. Ele envolveu mais de 13 mil pessoas com diabetes tipo 2 e histórico de doenças cardiovasculares.
Durante quatro anos, os participantes receberam semanalmente tirzepatida ou dulaglutida, outro remédio consagrado por ter demonstrado benefícios no coração em indivíduos com diabetes tipo 2. A ideia era responder a uma pergunta fundamental: será que a tirzepatida protege o coração como a dulaglutida, ou até mais?
Os dados foram claros: a tirzepatida foi tão eficaz quanto a dulaglutida para reduzir a combinação de morte cardiovascular, infarto e derrame. Isso já seria um grande feito. Mas a pesquisa também comparou indiretamente a tirzepatida a um placebo. Resultado: ela mostrou um benefício inequívoco, reduzindo eventos que realmente mudam a vida dos pacientes.
Outro destaque foi a queda da mortalidade geral: houve menos mortes por qualquer causa entre os pacientes tratados com tirzepatida. Além disso, ela preservou melhor a função dos rins e diminuiu a necessidade de procedimentos cardíacos, como angioplastias e cirurgias de ponte de safena.
Muito além da perda de peso
É fato: a tirzepatida ajuda a emagrecer, e isso, por si só, explicaria parte do benefício cardiovascular. Afinal, reduzir gordura corporal diminui pressão arterial, inflamação e sobrecarga no coração, entre outros benefícios.
Mas os pesquisadores levantam uma hipótese ainda mais animadora: a de que a tirzepatida teria ações diretas no coração e nos vasos sanguíneos, ampliando sua proteção de forma independente da balança.
E os efeitos colaterais? Como em outros estudos, os mais comuns foram gastrointestinais — náuseas, diarreia, constipação e redução do apetite. Apesar disso, o perfil de segurança foi considerado aceitável e sem sinais de risco aumentado para o coração, o que reforça a confiança no uso clínico.
O diabetes tipo 2 continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, muito pela ligação com doenças cardiovasculares. Por décadas, o foco do tratamento foi baixar a glicemia. Hoje, com medicamentos como a tirzepatida, o horizonte mudou: busca-se prolongar a vida e reduzir eventos graves.
A tirzepatida não é uma “moda de emagrecimento” — apesar do mau uso observado em certas situações. Estamos diante de um avanço científico que pode redefinir o tratamento do diabetes tipo 2.
2 de outubro de 2025
,