Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Saúde do homem

Saúde do homem: muito além da testosterona

Homens ainda evitam o consultório médico, e isso pode lhes custar anos de vida.Cuidar da saúde não é sinal de fraqueza, mas de inteligência preventiva

Quando o assunto é saúde, os homens ainda ficam para trás. Em comparação com as mulheres, eles vão menos ao médico, fazem menos exames de rotina e costumam adiar a busca por atendimento mesmo diante de sintomas persistentes. Essa inércia, marcada por fatores culturais e emocionais, pode ser perigosa e até fatal.

Um dos obstáculos predominantes quando se fala em saúde masculina é o que especialistas chamam de síndrome do super-homem, ideia equivocada de que o homem “não pode” adoecer. Entre muitos ainda prevalece a crença de que é preciso ser forte o tempo todo, provedor e invulnerável. Embora os papéis nas famílias estejam se tornando cada vez mais igualitários, essa mentalidade ainda é comum, principalmente em faixas etárias mais avançadas. O problema, aponta o médico endocrinologista Alexandre Hohl, professor de Endocrinologia e Metabologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é que essa postura pode atrasar diagnósticos e agravar condições que, se fossem descobertas cedo, teriam tratamento mais simples e menos invasivo.

Outro fator cultural que afasta os homens dos consultórios é a ideia equivocada de que “se não sinto nada, está tudo bem”. Porém, muitas doenças prevalentes na população, como diabetes, hipertensão e colesterol alto, não apresentam sintomas no início e podem seguir evoluindo de forma silenciosa até se tornarem graves. E mais: essas condições estão entre os principais fatores de risco para o infarto agudo do miocárdio, que afeta o coração, e o acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, que lideram o ranking das causas de morte no mundo.

Por isso, o endocrinologista ressalta: “Frases como ‘não vou ao médico porque tenho medo do que vou descobrir’ ou ‘não sinto nada, então não preciso ir’, apesar de ainda serem frequentes, são totalmente equivocadas. A medicina preventiva é justamente a melhor estratégia para evitar doenças graves”, alerta o Dr. Hohl.

Negação dos sintomas

A falta de cuidado preventivo também se reflete nas questões específicas da saúde masculina. O Dr. Hohl aponta que, no caso de homens cisgênero, condições como a hiperplasia prostática benigna são comuns com o avanço da idade e costumam dar sinais: dor ou ardência ao urinar, aumento da frequência urinária e dificuldade para esvaziar a bexiga são sintomas típicos.

O impasse, muitas vezes, não está no silêncio da doença, mas na negação dos sintomas. “Nesse caso, não é que a condição seja assintomática. O que ocorre é que muitos homens simplesmente não valorizam os sinais que o corpo dá”, alerta o endocrinologista. Essa resistência em buscar ajuda pode atrasar o diagnóstico e tornar o tratamento mais complexo do que seria com uma detecção precoce.

O alerta vale para todos: cuidar da saúde não é um sinal de fraqueza, mas de maturidade. Mais do que testosterona, é preciso consciência, porque viver bem e por mais tempo começa com o simples ato de marcar uma consulta médica.

Check-up: a partir de quando e o que incluir?

Depois dos 40 anos, os cuidados com a saúde devem se intensificar. Mesmo antes disso, já é importante estar atento ao peso, à pressão arterial e aos níveis de glicose, colesterol e triglicerídeos. Mas é a partir dessa faixa etária que aumentam significativamente os riscos de doenças cardiovasculares.

“A partir dessa idade, e ainda mais dos 60 anos, cresce a necessidade de monitorar fatores de risco silenciosos, como a hipertensão, o diabetes e as dislipidemias. São exames simples, mas fundamentais”, explica o Dr. Hohl. Ele destaca que a avaliação clínica vai muito além do resultado laboratorial. “O paciente precisa ser visto, conversado, examinado. E aí sim pedir os exames complementares certos, com base no que se observa e no histórico familiar.”

A saúde da próstata também entra em cena. O PSA, exame que dosa o antígeno prostático específico, e o ultrassom de próstata são indicados a partir dos 50 anos, ou antes, em casos de histórico familiar de câncer ou sintomas urinários. “Se o paciente tem parente de primeiro grau com doença prostática, essa investigação precisa começar antes dos 50. Pode ser aos 45 ou até aos 40, dependendo do caso”, alerta o especialista.

Outro ponto de atenção nos homens com excesso de peso é o fígado. Isso porque o acúmulo de gordura no órgão, chamado de doença hepática esteatótica metabólica, tem sido cada vez mais comum e está associado a riscos cardiovasculares.

Também não dá para esquecer os exames para rastreio de câncer. Endoscopia digestiva alta e colonoscopia ganham espaço a partir dos 50 anos, sobretudo para identificar precocemente tumores no estômago e intestino. “São doenças que podem estar ocultas, mas que, se diagnosticadas precocemente, têm altíssimas chances de cura”, completa o Dr. Hohl.

A prevenção continua sendo o caminho mais seguro para viver mais e melhor. E cuidar da saúde deve ser parte da rotina, sem tabu, sem medo e sem desculpas.

Mas, afinal, qual médico o homem deve procurar para o check-up anual?

“O homem precisa de uma avaliação com um bom clínico geral ou médico com formação em clínica médica”, afirma o endocrinologista Alexandre Hohl.

Ele esclarece que o urologista, frequentemente associado à saúde masculina, é um cirurgião especializado, com foco em questões específicas como a próstata e o trato urinário.

Na prática, muitas vezes quem assume esse papel de acompanhamento mais amplo da saúde do médico é o cardiologista ou o endocrinologista, justamente por lidarem com doenças prevalentes e silenciosas, como hipertensão, dislipidemias e diabetes. O geriatra também pode ser uma boa opção, especialmente a partir dos 60 anos.

“O mais importante é o vínculo. O homem precisa encontrar um médico em quem confie, que saiba conduzir uma avaliação preventiva adequada, solicitar os exames certos e acompanhar os resultados com atenção”, orienta Hohl.

Cuidar da saúde deve fazer parte da rotina de todos. Quanto mais cedo esse olhar for cultivado, maiores as chances de viver com autonomia, vitalidade e qualidade.

Por Letícia Martins,

Olhar da Saúde-Leticia Martins

Letícia Martins

Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.

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