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Do frasco para a pele: como funciona o estrogênio em spray para as mulheres no climatério

Recém-chegada ao Brasil, essa via de administração do hormônio é promessa de uma forma rápida e prática de terapia hormonal. Saiba como é feita a aplicação e para quem é indicada

A menopausa finalmente vai deixando aos poucos de ser assunto tabu, tornando mais abertas as conversas sobre suas repercussões na vida da mulher. A ginecologista Anna Valéria Gueldini, da Associação Brasileira do Climatério (Sobrac), dá um panorama do impacto dessa fase: “Quando entra o climatério e especialmente com a chegada da menopausa, que tem como consequência a queda da produção hormonal ovariana, muitas mulheres podem apresentar uma série de sintomas que comprometem muito a qualidade de vida. Os principais são os vasomotores, marcados pelas ondas de calor e suores noturnos, a taquicardia, as alterações no sono, as mudanças no humor e aquele estado chamado de névoa mental, que desencadeia uma espécie de alteração cognitiva transitória. E, a longo prazo, vêm a perda de massa óssea, os sintomas urinários, o ressecamento vaginal e a dor na relação sexual”, resume. 

A terapia de reposição hormonal – feita antes dos 60 anos e por no máximo dez anos após a menopausa, resguardadas as contraindicações – é a primeira linha de tratamento para manifestações moderadas a severas desse período. Esse contexto explica a importância de contar com mais uma forma de repor o hormônio em baixa, caso do spray de estradiol desenvolvido pelo laboratório Gedeon Richter e recém-chegado por aqui. “Estradiol é o principal e o mais potente estrogênio produzido pelos ovários durante a vida reprodutiva da mulher. Por isso desempenha um papel essencial na manutenção da saúde cardiovascular, óssea, cerebral e geniturinária”, explica Anna Gueldini. “Ampliar o rol de opções para seu manejo permite adaptar o tratamento às características clínicas e metabólicas da mulher e também respeitar preferências individuais. O spray já está disponível na Europa e nos Estados há alguns anos. Além dele, temos comprimidos, adesivos e géis. Os dois últimos, assim como o spray, são as vias transdérmicas de administração”, descreve.

As particularidades do spray

Nessa nova forma de apresentação, o estradiol tem uma base alcoólica. Por isso, quando borrifado na pele, tem uma secagem rápida. “Esse acaba sendo um diferencial, porque não requer massagear o local da aplicação, como acontece com o gel”, compara Anna Gueldini. 

Diferentemente do que ocorre na reposição oral, quando o remédio passa pelo estômago e depois é metabolizado no fígado – na chamada primeira passagem hepática –, na via transdérmica ele chega diretamente na circulação. Depois de borrifado, forma-se um depósito no estrato córneo, a camada mais externa da pele, favorecendo a absorção dos ingredientes ativos na corrente sanguínea ao longo de 24 horas. “A liberação contínua mantém uma concentração estável do hormônio no sangue”, ressalta. 

O produto vem com uma espécie de cone com uma ventosa. A recomendação é que se escolha a parte interna do antebraço ou da coxa para receber o hormônio. Essa área deve estar limpa, seca e sem nenhum arranhão ou ferida. “É preciso segurar o frasco na posição vertical, garantindo o contato direto do cone com a pele, sem deixar nenhum espaço de escape”, ensina a médica. 

Se a prescrição for de mais de uma pulverização, elas não podem ser sobrepostas, ou seja, o aplicador deve ser deslocado para uma posição próxima. “De acordo com a fase do climatério e a devida avaliação, o médico indica um, dois ou três puffs. A cada um deles, deve-se esperar 90 segundos para fazer o seguinte”, orienta Anna Gueldini. 

Se a ideia é usar após o banho e a mulher costuma usar protetor solar, é preciso respeitar o intervalo de uma hora para borrifar o spray e, depois disso, outros dois minutos para vestir a roupa. “Também é necessária uma pausa de pelo menos uma hora antes de molhar ou lavar a área em que foi feita a aplicação. E o fabricante orienta ainda a evitar abraços, especialmente em crianças, logo após o uso – para evitar a transferência do produto. O lembrete vale igualmente em relação aos animais de estimação. 

Para quem o spray é mais indicado?

“O estilo de vida e a adaptação aos formatos faz diferença na escolha da via de administração do hormônio. Ninguém vai mudar só porque é novidade”, analisa Anna Gueldini. O spray pode se encaixar na rotina de mulheres que preferem a versão transdérmica, mas têm alguma sensibilidade ou não toleram o resíduo da cola dos adesivos, por exemplo. Ou para aquelas que se incomodam com a exigência de ter que massagear depois do uso do gel. Ou para quem não se adapta à rotina diária de engolir pílulas. 

“Na minha prática clínica, mantenho um kit com todas as opções para apresentar às pacientes. Se não houver nenhuma contraindicação, como uma alergia a algum componente da fórmula, a preferência da mulher deve ser considerada, porque isso ajuda na aderência ao tratamento”, conta Anna Gueldini.

“O spray tem a vantagem da praticidade, mas o custo pode interferir na decisão. O frasco tem 56 doses. Para quem está muito sintomática e precisa usar três puffs por dia, o conteúdo vai durar 18 dias, ou seja, é preciso comprar dois frascos por mês”, pondera.

Além disso, continua a especialista, como a apresentação em spray não contém progesterona, tem que haver uma combinação com algum outro medicamento com esse hormônio para a proteção do útero, o que representa um valor adicional. “Por outro lado, por ser só estradiol, o spray traz o benefício de poder ajustar sua dosagem separadamente.  

Anna Gueldini faz questão de reforçar que, apesar de agora haver essa nova alternativa, não mudou nada do que já se sabe sobre reposição hormonal. “As indicações clássicas continuam valendo: para mulheres com intensos sintomas vasomotores e geniturinários, para prevenção de osteoporose, para formas prematuras de menopausa”, elenca a ginecologista, que foi uma das revisoras do mais recente Consenso Brasileiro da Terapêutica Hormonal do Climatério, da Sobrac e da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Da mesma forma, seguem as contraindicações: mulheres com histórico pessoal de câncer de mama ou endométrio hormonodependente, trombose venosa recente, doença hepática grave, doença cardiovascular estabelecida e descompensada, antecedente de infarto ou AVC, sangramento vaginal de causa não estabelecida”, complementa. “A reposição hormonal é um quebra-cabeça que se vai montando de acordo com as variáveis e respeitando a opinião da paciente”, arremata.

Por Orlando Ferreira,

Olhar da Saúde-Goretti Tenorio

Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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