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Hiperaldosteronismo primário: quando a pressão alta pode ter cura

Em certos casos, a hipertensão tem uma causa específica que pode ser solucionada com medicamentos ou até cirurgia

Sabia que a pressão alta pode ter um motivo oculto, tratável e, em algumas vezes, curável? Para milhões de pessoas no mundo, a hipertensão não é apenas uma questão de herança genética ou estilo de vida — ela possui uma causa hormonal e ainda subdiagnosticada: o hiperaldosteronismo primário.

Esse nome complicado esconde uma das causas endócrinas mais comuns de pressão alta. O hiperaldosteronismo primário é tão importante que ganhou destaque nas diretrizes mais recentes sobre hipertensão, nos capítulos dedicados para a investigação de suas causas secundárias.

O que é hiperaldosteronismo primário?

É uma condição relativamente comum em que as glândulas suprarrenais — duas pequenas estruturas que ficam acima dos rins — produzem aldosterona demais. Esse hormônio regula o sal e a água no corpo, mas, quando em excesso, provoca retenção de sódio e perda de potássio. Daí vem o aumento da pressão.

O problema é que, muitas vezes, esse processo acontece silenciosamente. A pessoa pode estar com a pressão descontrolada, tomando vários remédios, com sintomas como cansaço, cãibra, fraqueza… e nem imaginar que existe um tratamento direcionado para resolver a raiz do problema.

Estudos recentes estimam que o hiperaldosteronismo primário está presente em até 20% das pessoas com hipertensão resistente (aquela que não melhora com três ou mais medicamentos). Mesmo entre os “hipertensos comuns”, de 5 a 10% teriam essa condição sem saber.

Pior: a maioria dos casos não é diagnosticada, o que significa que milhões de pessoas continuam tomando medicamentos que controlam os sintomas, porém não lidam com a causa.

Quando suspeitar?

As diretrizes recomendam investigar o hiperaldosteronismo primário principalmente em pessoas com:

  • Hipertensão resistente (uso de três ou mais classes de remédios anti-hipertensivos)
  • Hipertensão associada à hipocalemia (baixo índice de potássio, espontâneo ou induzido por diuréticos)
  • Hipertensão de início precoce (antes dos 40 anos)
  • Histórico familiar de hipertensão ou acidente vascular cerebral em idade jovem
  • Massa na glândula adrenal descoberta em exames de imagem
  • Hipertensão associada à apneia do sono
  • Hipertensão grave ou de difícil controle

Como é feito o diagnóstico inicial?

As principais causas dessa enfermidade incluem o aumento de produção de aldosterona pelas duas glândulas suprarrenais, ou o surgimento de um nódulo benigno que fabrica esse hormônio, em apenas uma glândula. 

O primeiro passo é realizar um exame de sangue simples que mede a relação entre aldosterona e renina, enzima fabricada nos rins. Se ele estiver alterado, o médico solicita testes confirmatórios e exames de imagem, como tomografia das adrenais.

O diagnóstico correto é essencial, porque o tratamento pode mudar a vida da pessoa. Em alguns casos, um único medicamento controla totalmente a pressão. Em outros, a cirurgia para remover uma das adrenais é curativa. Claro que, em outras situações, a terapia será contínua — ainda assim, com maiores benefícios do que se o paciente não soubesse que possui hiperaldosteronismo primário.

E o tratamento?

Dependendo da causa exata do hiperaldosteronismo primário, o médico pode, por exemplo, receitar medicamentos chamados antagonistas da aldosterona (como espironolactona ou eplerenona). Ou, como dito, uma cirurgia para remoção da adrenal acometida.

É por isso que tanto médicos quanto pacientes precisam estar atentos. Se você tem pressão alta difícil de controlar, baixos níveis de potássio ou casos de hipertensão grave na família, converse com seu médico sobre o hiperaldosteronismo primário.

Os novos manuais de hipertensão recomendam esse rastreio, especialmente porque o diagnóstico precoce pode prevenir danos ao coração e rins e até derrames cerebrais.

Com o avanço dos exames e maior conscientização, espera-se que o número de diagnósticos aumente nos próximos anos. Afinal, identificar a causa específica da hipertensão permite um tratamento mais eficaz e menos efeitos colaterais.

Às vezes, a hipertensão tem nome, sobrenome e solução definitiva.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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