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Seus rins estão funcionando? O que saber sobre exames que tentam responder essa pergunta

Só olhar os valores de referência dos exames de creatinina e albumina pode enganar o paciente – o que contribui para o subdiagnóstico da insuficiência renal

A insuficiência renal crônica é uma condição silenciosa nos estágios iniciais e, infelizmente, muito frequente no Brasil e no mundo. Justamente por isso, ela se torna um prato cheio para falhas no diagnóstico e, por consequência, no tratamento. 

Dados internacionais apontam que, mesmo em países tidos como desenvolvidos, a taxa de subdiagnóstico chega a 80%. Ou seja, quatro em cada cinco pessoas com algum grau de perda de função renal não sabem disso ao certo. 

Mas quais exames devem ser feitos para descobrirmos se nossos rins estão filtrando bem as impurezas do organismo? Os dois principais são a dosagem de creatinina no sangue e a quantidade de albumina excretada na urina. 

As particularidades da creatinina

A creatinina é uma espécie de “sujeira” presente no sangue que é filtrada pelos rins. Dessa forma, sabemos que eles estão funcionando direito quando a concentração de creatinina no sangue está dentro do normal. Quanto mais alta a creatinina, mais comprometidos os rins. 

O ponto crucial é que as pessoas normalmente só olham os valores de referência do exame para saber se está tudo bem – muitas vezes, nem levam o resultado ao médico. E, no caso específico da creatinina, esse procedimento é especialmente perigoso.

Isso porque precisamos saber não somente o valor da creatinina, como também a taxa de filtração dos rins. Para isso, é necessário utilizarmos uma fórmula simples e gratuita. 

Atualmente, a mais recomendada para grande parte da população é a chamada CKD-EPI (sigla para Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration). Ela leva em conta a idade, o sexo e o valor da creatinina e está disponível na internet em português, inclusive no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia (clique aqui).

Já falarei do que esperar dos resultados dessa fórmula. O ponto nevrálgico aqui é que, muitas vezes, a creatinina está dentro da faixa de normalidade ou só levemente acima do limite, porém, quando utilizamos uma fórmula para calcular a taxa de filtração dos rins, notamos deficiências que podem passar despercebidas. 

Vou trazer um exemplo. Um homem de 72 anos, com 1,3 mg/dL de creatinina no sangue, pode ficar sem saber que possui algum dano renal, uma vez que os valores de referência costumam variar de 0,7 a 1,4 mg/dL.

Porém, se calcularmos a equação CKD-EPI que mencionei antes, veremos que a taxa de filtração glomerular calculada é de 58 mL/min, enquanto o ideal é estar, pelo menos, acima de 60 mL/min. Então nunca deixe de conversar com o médico sobre o resultado da creatinina e, se possível, mencione a questão da taxa de filtração glomerular.

E a albumina?

Nossa história não termina aí. Mesmo que a taxa de filtração dos rins esteja adequada, temos de quantificar a albumina em uma amostra simples de urina. 

Se esse exame estiver acima dos parâmetros de referência, esse é um indicativo de que seus rins não estão em perfeito estado. Quanto maior a albumina na urina, maior o risco de insuficiência renal no futuro. 

O ponto positivo é que tanto o exame de albumina na urina como o de creatinina são simples, baratos e disponíveis no SUS em quase todo o território nacional. 

Com todas essas ferramentas em mãos, certamente conseguiremos melhorar o subdiagnóstico de doença renal crônica no nosso país.

O impacto da insuficiência renal

Dados epidemiológicos no Brasil são escassos, mas, em países desenvolvidos, estima-se que 10% a 16% da população adulta tenha algum grau de doença renal crônica. E pasme: o Censo Brasileiro de Diálise 2021 aponta que 140 mil brasileiros precisam de diálise para sobreviver (83% utilizam hemodiálise). 

O transplante de rim também é uma opção para boa parte das pessoas, apesar de o número de doadores no Brasil ainda ser pequeno. 

Além da redução da qualidade de vida, a insuficiência renal crônica abrevia a quantidade de anos vividos. E a principal causa para isso são as doenças cardiovasculares, como infarto, insuficiência cardíaca, arritmias e derrame cerebral.

 Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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