Do estereótipo ao diagnóstico: aprenda a reconhecer (e considerar) vários dos sinais da depressão
Muita gente que tem a doença jamais foi diagnosticada simplesmente por não ter procurado ajuda médica, o que compromete a precisão dos casos registrados
“Deprimido”, referente a alguém, e “depressivo”, relacionado a algo que desperta tristeza, são dois adjetivos altamente comuns hoje em dia. Tão frequentes que já podem ser considerados banalizados, situação que esvazia o verdadeiro significado deles.
Talvez esse seja um dos motivos pelos quais a depressão, presente em 5,8% da população brasileira segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), ainda não receba a devida atenção das pessoas, inclusive daquelas que têm a doença e não sabem.
Números
Os números em nível mundial reforçam a importância do tema: de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), 300 milhões de pessoas no mundo apresentam depressão. Voltando aos dados brasileiros, o Brasil é o campeão da América Latina na prevalência da doença e, considerando todas as Américas, perde apenas para os Estados Unidos, onde 5,9% dos habitantes apresentam o problema.
Ainda de acordo com a OPAS, a depressão é um transtorno que interfere na vida diária, na capacidade de trabalhar, estudar, comer, dormir, enfim, de aproveitar a vida. Podendo atingir todas as idades, as causas são multifatoriais: genéticas, biológicas, ambientais e psicológicas.
A gravidade, a frequência e a duração variam de pessoa para pessoa, com possibilidade de levar ao suicídio. As mulheres têm maior tendência a desenvolver quadros depressivos do que os homens, considerando variações hormonais (fisiológicas) ao longo da vida e também componentes ambientais e sociais.
Verdades e mitos
Outro aspecto que compromete o real entendimento das pessoas sobre o que é a depressão é que essa é uma daquelas doenças carregadas de verdades e mitos, o que impõe a necessidade de colocá-los em seu devido lugar. Seguem alguns exemplos:
Verdades
- A depressão, ligada a um desequilíbrio químico no cérebro, requer acompanhamento médico.
- É preciso paciência com um familiar com depressão, já que é característica da doença a dificuldade de reação.
- A tristeza, sentimento inerente ao ser humano, não é necessariamente algo negativo, por oportunizar a reconstrução em diversos âmbitos da vida. Já a depressão paralisa e é carregada de negatividade.
- Segundo a psicóloga Anna Flávia Lima, embora não seja regra, a depressão leva o paciente à ideação suicida em muitos casos.
- Entre os idosos, a depressão pode ser sintoma de hipotireoidismo.
Mitos
- Para lidar com a depressão, basta “procurar um esporte”.
Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, certos graus de depressão são tão elevados que primeiramente é necessário que sejam tratados, para que só depois se busquem atividades capazes de contribuir para o não retorno do quadro.
- A pessoa deprimida é incapaz de fazer qualquer coisa, até mesmo de se levantar da cama.
Devido ao senso de responsabilidade, a pessoa pode continuar envolvida em suas tarefas diárias, mas os pensamentos são imbuídos de negatividade e pessimismo, traços marcantes da depressão.
- Depressão é “coisa de rico”.
Segundo a OMS, embora qualquer indivíduo possa desenvolver o transtorno, o risco é maior entre pessoas em situações de pobreza, como falta de moradia digna, de renda mínima, de segurança, de saneamento básico etc. O que ocorre é que esses elementos acabam se tornando prioridades para essas pessoas, justamente por questão de sobrevivência.
- Depressão é doença de adulto.
Crianças e adolescentes também podem desenvolver o transtorno, com os mesmos sintomas que os adultos. Bullying ou violência psicológica podem ser fatores desencadeantes, bem como a genética.
- O tratamento da depressão, da ansiedade e da síndrome do pânico é o mesmo.
Apesar de algumas semelhanças e da relação que podem ter, cada uma dessas doenças tem suas características próprias, o que requer tratamentos específicos para elas, sempre definidos por um especialista.
Tipos e sintomas
São vários os tipos de depressão, considerando a duração dos episódios, a gravidade e o conjunto de sintomas. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição, ou DSM-5, reúne os seguintes:
- Transtorno disruptivo da desregulação do humor.
- Transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior).
- Transtorno depressivo persistente.
- Transtorno disfórico pré-menstrual.
- Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento.
- Transtorno depressivo devido a outra condição médica.
- Outro transtorno depressivo especificado.
- Transtorno depressivo não especificado.
Os sintomas, além do estado deprimido e da perda de interesse e prazer nas atividades diárias, incluem alteração de peso, insônia ou sonolência excessiva praticamente diárias, fadiga, culpa excessiva, dificuldade de concentração e alteração da libido.
Tratamento
Quanto ao tratamento, os medicamentos são utilizados a partir do diagnóstico, considerando cada caso. São composições químicas que agem no sistema nervoso central, alterando a percepção, as emoções e o comportamento do paciente.
Na linha das terapias não medicamentosas, a psicoterapia é uma forma segura, dotada de embasamento científico, que utiliza a fala, o autoconhecimento e o acolhimento empático para reestruturar o psiquismo humano, nas palavras da psicóloga Mírian Cristina da Silva Santos. Entre outras terapias desse tipo (empregadas como coadjuvantes), estão a terapia ocupacional, as atividades físicas e inclusive uma alimentação equilibrada, acompanhada por um nutrólogo ou nutricionista.
Como se vê, a depressão é uma doença que, antes de qualquer tipo de tratamento, demanda compreensão e busca pelas informações mais assertivas e atualizadas. Os sinais são diversos e podem ser devidamente esclarecidos por um psicólogo e/ou psiquiatra. Convém ficar atento sempre, entre familiares, amigos e colegas de trabalho. Em tempos de forte pressão por resultados profissionais, rotina doméstica multitarefa e até mesmo positividade tóxica (“obrigação de ser feliz”) é que a saúde mental exige cuidado redobrado.
, 16 de março de 2024