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Mazdutida: o novo “primo” das canetas para emagrecer que pode revolucionar o tratamento da obesidade

Com mecanismo de ação diferente do Ozempic e Mounjaro, a redução de peso pode chegar a 14% em 48 semanas

A busca por tratamentos eficazes para a obesidade acaba de ganhar um novo capítulo com a publicação de um estudo de fase 3 sobre a mazdutida, um medicamento promissor, na prestigiada revista científica New England Journal of Medicine (NEJM), em maio de 2025.

Afinal, o que é a mazdutida e como ela funciona? Para responder, precisamos entender um pouco sobre o “universo” das terapias atuais para obesidade, como a já famosa semaglutida e a tirzepatida. Esses medicamentos ganharam notoriedade por seu impacto significativo na perda de peso e no controle metabólico, atuando principalmente sobre o receptor do peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1 (GLP-1).

O que é a mazdutida?

A mazdutida é uma molécula inovadora que combina a ação em dois receptores importantes: GLP-1 e o receptor de glucagon. Por isso, ela é classificada como um agonista duplo — ou seja, ativa simultaneamente esses dois receptores. Diferentemente da semaglutida, que atua apenas no receptor GLP-1, e da tirzepatida, que atua em GLP-1 e GIP (peptídeo inibitório gástrico), a mazdutida ativa GLP-1 e o receptor de glucagon.

E por que isso importa? O receptor de glucagon, quando ativado, promove a quebra de gorduras, além de aumentar o gasto energético. No entanto, também pode elevar a glicemia. É justamente aí que entra a mazdutida: ao ativar também o GLP-1, ela contrabalança esse potencial efeito de aumento da glicose do glucagon, promovendo uma poderosa combinação que resulta em perda de peso significativa e benefícios metabólicos.

O que o estudo revelou?

O estudo publicado no New England Journal of Medicine avaliou a eficácia e a segurança da mazdutida em adultos chineses com obesidade ou sobrepeso, acompanhados de comorbidades relacionadas ao excesso de peso, como hipertensão e dislipidemia. Foram mais de 600 participantes divididos em três grupos: dois receberam doses diferentes de mazdutida (4 mg ou 6 mg) e um terceiro grupo recebeu placebo.

Os resultados foram impressionantes: após 48 semanas, os participantes que usaram mazdutida na dose de 4 mg perderam, em média, 11% do seu peso corporal, enquanto aqueles que usaram 6 mg chegaram a uma perda média de 14%. Além disso, houve redução significativa na circunferência abdominal: cerca de 9,1 cm no grupo que recebeu 4 mg e 10,7 cm no grupo de 6 mg, comparados a uma redução muito discreta de apenas 1,4 cm no grupo placebo. Esses resultados reforçam o potencial da mazdutida como uma das terapias mais eficazes atualmente em desenvolvimento para o tratamento da obesidade, com benefícios metabólicos adicionais.

Esses resultados colocam a mazdutida em um patamar de eficácia comparável ao da tirzepatida, atualmente um dos tratamentos mais potentes para obesidade. 

Por que é chamada de “prima” das outras canetas?

A popularização das chamadas “canetas para emagrecer” fez com que o público leigo conhecesse nomes como semaglutida e tirzepatida. A mazdutida, nesse contexto, pode ser considerada uma “prima” dessas moléculas, já que compartilha a tecnologia de administração subcutânea semanal e a base farmacológica de atuar sobre hormônios gastrintestinais que regulam o apetite e o metabolismo. No entanto, como vimos, o alvo da mazdutida é distinto, trazendo uma nova perspectiva para o tratamento da obesidade.

Efeitos adversos e segurança

Como outras terapias do mesmo grupo, a mazdutida apresentou efeitos colaterais principalmente gastrintestinais — náuseas, vômitos e diarreia —, especialmente nas fases iniciais de ajuste de dose. Esses efeitos, em sua maioria, foram leves ou moderados, e poucos participantes precisaram interromper o tratamento.

Outro ponto importante observado foi um discreto aumento da frequência cardíaca, um efeito esperado devido à ativação do receptor de glucagon, mas que se estabilizou ao longo do tempo.

A mazdutida já está disponível no Brasil?

Não! É essencial destacar que, apesar dos resultados promissores apresentados no estudo publicado no New England Journal of Medicine, a mazdutida ainda não está aprovada para o tratamento da obesidade no Brasil. Por enquanto, seu uso está restrito a estudos clínicos, principalmente na China.

O caminho para a aprovação envolve uma série de etapas regulatórias, incluindo a submissão de dossiês às autoridades sanitárias, como a Anvisa no Brasil, e a realização de novos estudos que confirmem a segurança e a eficácia em populações mais diversas.

O que esperar do futuro?

A chegada da mazdutida à cena internacional reforça a tendência de desenvolvimento de terapias cada vez mais sofisticadas e personalizadas para o tratamento da obesidade, condição reconhecida como pandemia global. Sua atuação diferenciada, aliando o potencial de redução de peso ao controle metabólico mais amplo, poderá fazer dela uma importante ferramenta terapêutica no futuro.

Enquanto isso, cabe aos profissionais de saúde e ao público acompanhar de perto os avanços da ciência, sempre atentos às orientações médicas e às aprovações oficiais de novos tratamentos.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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