Mito ou verdade: creatina sobrecarrega os rins?
Muito usado por quem pratica determinados esportes e faz academia, o suplemento ainda gera controvérsia sobre seus efeitos nos rins. Esclareça suas dúvidas
A creatina é uma substância naturalmente produzida pelo corpo humano no fígado, rins e pâncreas a partir de três aminoácidos (arginina, glicina e metionina) e armazenada principalmente nos músculos, onde atua como fonte rápida de energia. Após seu metabolismo, gera a creatinina, um resíduo que é eliminado pelos rins e serve como marcador eficaz da função renal.
Por conta dessas características, tornou-se um dos suplementos mais populares entre praticantes de atividades físicas de alta intensidade e curta duração, como sprints ou treinos de força e atletas que buscam melhorar o desempenho muscular. De acordo com o médico nefrologista Thyago Proença Moraes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a suplementação só traz benefícios quando feita de forma regular e orientada, pois o consumo esporádico não é eficaz.
Mas será que a creatina faz mal aos rins? O nefrologista afirma que não. “Isso é mito. O rim é o órgão responsável por eliminar a creatinina, que é o produto da metabolização da creatina. Quando se aumenta a ingestão de creatina, é esperado que também haja um aumento nos níveis séricos de creatinina, mas isso não significa que há doença renal”, esclarece Moraes, que é membro eleito do Departamento de Nefrologia Clínica da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e coordenador do Departamento de Doenças Renais da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Uma analogia ajuda a entender: imagine que você aumenta o volume de água em um reservatório, mas a torneira que escoa esse líquido continua com a mesma vazão. O acúmulo aparente não representa falha ou sobrecarga da torneira, apenas um aumento do volume processado.
Por isso, quem suplementa creatina pode apresentar exames laboratoriais com creatinina mais alta, mas isso não significa, por si só, que haja lesão ou sobrecarga renal.
Moraes explica ainda que a confusão sobre o risco renal surge justamente desse aumento na creatinina, marcador amplamente utilizado para avaliar a função dos rins. Como a população e até alguns profissionais de saúde associam níveis elevados de creatinina a problemas renais, criou-se o mito de que a suplementação de creatina poderia ser prejudicial aos rins.
E quanto à quantidade?
Assim como qualquer substância, até mesmo água, o consumo excessivo pode trazer riscos. Por isso, a suplementação de creatina deve ser individualizada, considerando a massa muscular e o tipo de atividade física. A orientação profissional, especialmente de nutricionistas ou médicos fisiologistas, é fundamental para determinar a dose adequada.
“Tomar doses muito acima do necessário não aumenta o benefício e pode, em alguns casos, provocar efeitos adversos, como ocorre com o excesso de vitaminas. No entanto, não há evidências de que a creatina cause danos renais em pessoas saudáveis”, destaca o nefrologista.
Existem sinais de que estou consumindo creatina demais?
Na prática, o principal indicativo é o aumento da creatinina sérica nos exames laboratoriais. No entanto, esse dado isolado não caracteriza disfunção renal. “Até o momento, não há consenso científico sobre sintomas específicos ou limiares seguros para o excesso de creatina, e estudos com doses muito altas são raros”, ressalta Moraes.
E quem já tem problemas renais ou diabetes?
Para essas populações, a suplementação de creatina não é, necessariamente, contraindicada. Pelo contrário: estudos iniciais sugerem que, em pacientes com doenças renais ou diabetes, o uso de creatina pode ser benéfico para combater a sarcopenia, que é a perda de massa muscular comum.
Porém, é essencial destacar que quem costuma suplementar creatina também pode fazer uso de outros suplementos, como proteínas em excesso, e essa combinação, sim, pode ser prejudicial aos rins, especialmente em pessoas com função renal comprometida.
Há contraindicações gerais para o uso de creatina?
A creatina é um produto natural, derivado do metabolismo muscular, e só seria contraindicada em casos raros de alergia. O mais importante é realizar a suplementação de forma orientada e adequada ao perfil de cada pessoa.
Quem suplementa precisa fazer exames com mais frequência?
Não há necessidade de monitoramento específico da função renal apenas pelo consumo de creatina. A recomendação de exames periódicos é válida para quem faz uso de outros suplementos ou hormônios, como esteroides anabolizantes, que podem, sim, impactar negativamente rins e fígado.
Já pessoas com doenças crônicas, como diabetes, devem manter o acompanhamento regular da função renal, mas não por causa da suplementação de creatina, e, sim, devido à própria condição clínica.
Portanto, é mito que a creatina sobrecarrega os rins. A ideia de que ela causa sobrecarga ou danos aos rins é incorreta e resulta, principalmente, de uma interpretação equivocada de exames laboratoriais.
28 de maio de 2025
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