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Morango do amor e diabetes: combinação exige cautela, alerta nutricionista

Doce sensação do momento pode provocar picos de glicemia; especialista recomenda cuidados e estratégias no consumo

Nas últimas semanas, o morango do amor conquistou o paladar de muitos brasileiros e se espalhou pelas redes sociais, aparecendo em vídeos virais, receitas caseiras e até versões gourmet. A combinação da fruta fresca com recheio de brigadeiro branco e calda vermelha brilhante ganhou protagonismo em festas juninas e eventos, desbancando a tradicional maçã do amor. Mas, por trás da aparência irresistível e da moda do momento, há um ponto de atenção importante: para pessoas com diabetes, o consumo desse doce exige planejamento e moderação.

Para a nutricionista e chef funcional Alena Barros, que atua em Florianópolis (SC), parte do sucesso do morango do amor está na combinação entre o doce da calda e do recheio e o azedinho da fruta, o que agrada tanto a adultos quanto a crianças. O formato também ajuda: menor e mais fácil de comer do que a maçã do amor, ele cabe inteiro na boca e pode ser consumido em poucas mordidas. Porém, essa vantagem se torna, em alguns casos, um grande problema, pois muitas pessoas não resistem a apenas uma unidade.

Na opinião dela, o morango do amor não é compatível com o diabetes, pois a calda contém açúcar puro, o que provoca um aumento rápido da glicemia, mesmo em pequenas quantidades. “O morango em si é uma fruta de baixo índice glicêmico e pode ser consumido sem problemas, mas a cobertura exige muito cuidado. Quem tem diabetes deve limitar a quantidade, consumir de forma eventual e monitorar a glicemia de perto para evitar picos”, afirma Alena, que tem diabetes tipo 1 desde 1994.

Se a vontade de experimentar o doce sensação do momento for muita, ela orienta:

  • Para quem tem diabetes tipo 1, o consumo pode provocar um pico rápido e intenso de glicemia. Por isso, é preciso aplicar insulina rápida antes de comer e monitorar de perto.
  • Para quem tem diabetes tipo 2, a recomendação é consumir preferencialmente após uma refeição completa, isto é, com bastante fibras (salada), proteína e carboidrato, e fazer uma caminhada de 10 a 15 minutos depois para ajudar no controle.

Quantidade e frequência importam

Mesmo com essas estratégias, o doce deve ser tratado como exceção. “Tudo bem experimentar um morango do amor na festa junina ou em uma ocasião especial, desde que monitore a glicemia. Mas comer toda semana, não. É uma quantidade grande de açúcar e corante, que não é saudável para ninguém”, afirma.

O corante vermelho, ingrediente que dá a cor vibrante ao morango do amor, é outro ponto negativo da receita. “Corante é uma substância artificial que pode provocar alergias, inflamações e, em alguns casos, está associado a riscos maiores de doenças quando consumido com frequência. É como dar jujuba para criança: açúcar e corante puro. Eu não recomendo para ninguém, principalmente para quem tem uma condição autoimune, como o diabetes tipo 1”, diz Alena.

Para se ter uma ideia, no início do ano, a Food and Drug Administration, agência de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, proibiu um tipo de corante vermelho, a eritrosina, utilizado em bebidas, doces, balas, bolos e cerejas em conserva, citando estudos que ligam o aditivo a casos de câncer na tireoide em camundongos. No Brasil, esse tipo de corante segue permitido, mas não é recomendado para quem se preocupa com a saúde. 

Existem versões saudáveis do morango do amor?

Com vontade de experimentar a sobremesa da moda, mas com receio dos impactos na glicemia, a advogada Marília Landini, que tem diabetes tipo 1 há 15 anos, foi para a cozinha a fim de adaptar a receita para uma versão mais saudável. “Quando como um doce com açúcar integral, o pico glicêmico é muito grande e exige muita insulina de uma só vez. Por isso, prefiro evitar”, explica a influenciadora, que mora no Guarujá (SP) e, por meio do seu perfil @mariliatipodoce nas redes sociais, busca inspirar outras pessoas a cuidar do diabetes com bom humor e leveza.

Com experiência anterior em confeitaria, ela utilizou leite de coco, leite em pó, manteiga, essência de baunilha, adoçantes como eritritol e xilitol e um pouco de gelatina diet de morango para dar cor.

O resultado não ficou igual ao original. “A calda diet é mais difícil de acertar, não carameliza como a de açúcar. A casquinha não ficou perfeita e o vermelho não ficou tão vibrante. Eu até brinquei que era um ‘morango do horror’”, conta, rindo.

Mesmo com uma textura e aparência diferentes do morango do amor tradicional, a adaptação de Marília cumpriu o objetivo: sabor aprovado e glicemia estável após o consumo. “Valeu a pena. Talvez não tenha ficado tão instagramável, mas ficou gostoso e seguro para mim”, afirma Marília.

 

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A influenciadora Marília Landini, que tem diabetes tipo 1, substitui o açúcar do morango do amor por adoçantes.
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Marília também criou versões com chocolate branco e preto para deixar o “morango do horror” mais bonito, segundo ela.
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“Talvez minha versão do morango do amor não tenha ficado tão instagramável, mas ficou gostoso e seguro para mim”, diz Marília Landini.

 

Por Letícia Martins,

Olhar da Saúde-Leticia Martins

Letícia Martins

Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.

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