Da embalagem para as artérias: partículas de plástico são encontradas em placas de gordura nas artérias

A presença de microplásticos nas artérias de participantes de uma pesquisa pode reforçar a relação entre a poluição do meio ambiente e a saúde cardiovascular

Um estudo observacional conduzido por pesquisadores italianos e norte-americanos acendeu uma luz amarela na relação entre meio ambiente e doença cardiovascular. Eles acompanharam cerca de 300 participantes que foram submetidos a uma cirurgia para remover placas de gordura que estavam obstruindo as artérias carótidas – o quadro pode levar ao acidente vascular cerebral (AVC). E pasme: o polietileno, tipo de plástico encontrado em embalagens de produtos industrializados, foi encontrado em 58% dos participantes. 

Já o policloreto de vinila, mais conhecido como PVC, foi encontrado em 12% das placas de gordura dos participantes. O PVC é um material usado em cortinas, bandejas de refeições, fraldas de bebê, toalhas de mesa etc. 

Vale destacar que esses constituintes plásticos foram encontrados em formato de micro e nanopartículas. Daí o termo “microplástico”.

Em um acompanhamento de cerca de três anos após a cirurgia de carótidas, os pesquisadores constataram que aqueles que tinham microplástico encontrado nas placas de gordura exibiram um risco quatro vezes maior de infarto do coração, derrame cerebral ou morte por qualquer causa. 

Esse estudo pode ser o ponto inicial para começarmos a entender melhor a relação entre o meio ambiente e o risco de doenças cardíacas. Apesar disso, ele ainda não é definitivo para responder a essa questão. 

Por ser um estudo observacional – que só estabelece associações, sem apontar uma causa e um efeito – , ele levanta hipóteses sérias que deverão ser confirmadas em estudos mais robustos. 

Então não podemos dizer que essa ou aquela embalagem, ao liberar microplásticos no meio ambiente, favorece a obstrução de artérias no corpo. Mas fica o alerta: a ponta do iceberg já foi detectada. O que estará debaixo d’água? 

Por Carlos Eduardo Barra Couri, 8 de abril de 2024