Exame de TSH alterado. O que isso significa?
Alterações no exame nem sempre indicam doença: saiba como interpretar os resultados
Por que o TSH é tão solicitado em exames de rotina e o que ele realmente revela sobre a saúde da tireoide? O TSH, sigla em inglês para “hormônio estimulador da tireoide”, é, na verdade, um hormônio produzido na hipófise, pequena glândula localizada no cérebro que tem como função principal comandar o funcionamento de outras glândulas, como a tireoide.
Porém, diferentemente do que é popularmente falado, o TSH não é o hormônio da tireoide, e sim da hipófise. Quando o TSH é liberado e cai na corrente sanguínea, ele se liga à glândula tireoide, localizada na parte anterior do pescoço, e estimula a produção dos hormônios tireoidianos T4 (tiroxina ou tetraiodotironina) e T3 (triiodotironina), que são os verdadeiros responsáveis pelas funções da tireoide no organismo.
“Precisamos do TSH funcionando efetivamente para que a tireoide exerça sua função da forma adequada. Então, na verdade, ele é como se fosse o guia para a tireoide funcionar adequadamente”, explica a endocrinologista Flávia Coimbra Pontes Maia, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Valores normais
A médica explica que os valores de referência do TSH podem variar de acordo com o kit utilizado pelo laboratório, e a faixa mais comum considerada normal está entre 0,5 e 5 microunidades por litro. Porém, valores acima ou abaixo dessa margem são considerados alterados, mas nem sempre representam uma doença clínica.
“Pequenas alterações no TSH podem ser transitórias e não indicam um problema clínico. Às vezes, é preciso repetir os exames em uma segunda ocasião e avaliar juntamente em contexto com os outros hormônios, especificamente com T4, com T3 e com os marcadores de autoimunidade tireoidiana. Então, só uma alteração no valor de TSH isolado não significa uma doença tireoidiana. Mas pode, sim, refletir uma alteração”, explica a endocrinologista. A avaliação envolve, ainda, outros hormônios em conjunto, os sintomas clínicos do paciente e alguma alteração isolada.
TSH alto e hipotireoidismo
Quando o TSH está elevado e o T4 está baixo, geralmente o diagnóstico é de hipotireoidismo, uma condição que, apesar de o TSH estar alto, significa o funcionamento inadequado da glândula tireoide.
Conforme explica a médica, em casos de hipotireoidismo, o paciente pode sentir falta de energia, cansaço, desaceleração do metabolismo, aumento de peso e outros sintomas. “Isso está relacionado com hipotireoidismo e, clinicamente, vai refletir nos exames com uma dosagem aumentada de TSH e uma dosagem baixa de T4”.
TSH baixo e hipertireoidismo
Por outro lado, um TSH muito baixo pode indicar hipertireoidismo, situação em que a glândula tireoide está produzindo hormônio em excesso. Isso envia um sinal à hipófise de que não é necessário mais TSH, que então reduz sua produção.
“O hipertireoidismo, na maioria das vezes, se manifesta como taquicardia, tremores, emagrecimento, agitação psicomotora, insônia, e pode, inclusive, complicar com insuficiência cardíaca e outras manifestações de tratamento de doença mais prolongada”.
Nem sempre é tireoide
Apesar de o TSH ser um marcador importante, alterações isoladas no exame nem sempre estão relacionadas a uma disfunção da tireoide. “O TSH pode oscilar por vários motivos: flutuações circadianas ao longo do dia, mudanças sazonais como verão e inverno e uso de medicamentos ou até mesmo por interferência de medicamentos”, esclarece Flávia.
Um exemplo é o uso da biotina, substância muito usada em vitaminas para tratar queda de cabelo e unhas fracas. Ela pode interferir na dosagem do TSH feita pelo laboratório, resultando em um falso exame alterado, mesmo que a função da tireoide esteja normal.
“Às vezes, o TSH vem alterado e a pessoa não tem nenhuma doença tireoidiana”. Existem outras situações em que isso pode acontecer também, como a médica explica. “Não adianta só avaliar o TSH, tem que avaliar o T4 e o T3, que são os hormônios próprios da tireoide, os marcadores de autoimunidade tireoidiana, que é o anti-TPO, o antitireoglobulina e o TRAb, que estão também relacionados com as doenças autoimunes da tireoide”.
Gestação e TSH
Durante a gravidez, os níveis de TSH também sofrem variações. Segundo a médica, isso ocorre porque o HCG, hormônio típico da gestação, tem uma estrutura muito parecida com a do TSH e pode interferir em seus níveis. Por isso os valores de referência mudam de acordo com a idade gestacional.
“Geralmente, no início da gestação, as mulheres tendem a ter um TSH um pouco mais baixo. À medida que a gestação vai progredindo, esses valores vão subindo um pouquinho. É muito importante, então, avaliar os valores de referência dentro do contexto da idade gestacional da paciente, tanto para pacientes que não tinham diagnóstico de doença tireoidiana antes de engravidarem quanto aquelas que já estavam em tratamento para doenças tireoidianas”. Para isso, também é levado em consideração se o valor de TSH está adequado para a idade gestacional e se está adequado para a condição clínica da paciente.
Tratamento
Por fim, a médica reforça que um TSH alterado, por si só, não é motivo para iniciar medicação. O tratamento só é indicado quando o diagnóstico de hipotireoidismo ou hipertireoidismo é confirmado com base em exames complementares e nos sintomas clínicos.
“Caso seja confirmado o diagnóstico de hipotireoidismo, então são aqueles pacientes que têm TSH elevado, com T4 livre e baixo, sintomas clínicos de hipotireoidismo. Fazemos a reposição do hormônio tireoidiano que, no caso, não é reposição de TSH, e sim de T4. Ajustamos a dose do T4 de acordo com os valores do TSH”.
Já em relação aos valores de TSH baixos, quando o paciente tem, então, TSH baixo com T4 alto, o médico indica medicamentos que bloqueiam a produção de hormônios. “Esses medicamentos vão bloquear a produção do hormônio pela tireoide, fazendo com que o T4 caia e o TSH volte para os seus valores normais”, explica Flávia.
“Eventualmente, alguns pacientes com hipertireoidismo, principalmente se tiverem nódulos, glândulas muito grandes ou não tiverem resposta aos medicamentos, podem ser encaminhados para o tratamento com iodo radioativo, ou podem ser encaminhados para cirurgia, para retirada da glândula tireoide. Mas isso hoje em dia não é comum, geralmente usamos os medicamentos”.
Para um paciente que tem hipotireoidismo, por exemplo, não adianta somente mudar o estilo de vida: ele também vai precisar fazer reposição com o hormônio tireoidiano. Da mesma forma, pacientes com hipertireoidismo precisam fazer modificações para a melhora da qualidade de vida, que são fundamentais para a modulação autoimune, mas que não vão curar a doença. Ele também vai precisar seguir o tratamento com o medicamento que bloqueia a produção hormonal.
Doenças da tireoide e autoimunes
A profissional explica ainda que a maioria das doenças tireoidianas é autoimune, ou seja, quando o próprio organismo determina uma reação contra uma substância própria e, em vez de atacar algo externo, como um vírus ou uma bactéria, ele acaba atacando o próprio organismo.
Um fato relevante é que as doenças autoimunes estão diretamente relacionadas a um estilo de vida saudável – ou à falta dele. “Não existe especificamente um medicamento, uma alimentação ou alguma coisa do estilo de vida que influencie diretamente a tireoide.
Por outro lado, pessoas que têm uma alimentação saudável, equilibrada, rica em verduras, com a diminuição dos alimentos ultraprocessados, atividade física regular, manutenção do peso saudável e sono adequado conseguem modular o sistema imunológico e reduzir a chance de ter essas doenças autoimunes”, finaliza a médica.
22 de maio de 2025
,