Ozempic causa osteoporose? Fato ou fake?
Conheça a relação entre perda de peso, medicamentos para obesidade e a densidade óssea
Recentemente, um vídeo da cantora americana Avery ganhou grande repercussão nas redes sociais. Nele, a artista afirma que desenvolveu osteoporose após um ano de uso do Ozempic, medicamento utilizado para o tratamento do diabetes tipo 2 com efeito emagrecedor. Mas será que a semaglutida, princípio ativo do Ozempic, pode causar osteoporose?
Para esclarecer essa polêmica, e saber se ela é verdade ou mito, conversamos com especialistas na área da saúde para entender o que é a osteoporose, seus fatores de risco e o que a ciência realmente diz sobre a relação entre esse medicamento e a saúde óssea.
A osteoporose
A osteoporose é uma doença caracterizada pela diminuição da densidade e da qualidade óssea, que tornam os ossos mais frágeis e predispostos a fraturas. De acordo com a reumatologista Vera Lucia Szejnfeld, membro da Comissão de Doenças Osteometabólicas e Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a osteoporose é uma condição silenciosa, que muitas vezes só é descoberta após mínimos traumas, como queda da própria altura. “Não é aquela queda de rolar pelas escadas, mas um tombo comum; por exemplo, a pessoa está andando, quando de repente cai e quebra o braço. Isso não é normal. Se escorregar, cair e quebrar o fêmur, também não é normal”, enfatiza a médica.
A condição é popularmente conhecida por ser uma doença que atinge apenas idosos. E isso é mais um ponto fake que desvendamos aqui. Conforme a profissional explica, a osteoporose pode acontecer ao longo da vida e atingir desde uma criança até um adulto ou idoso. “Uma criança com doença reumatológica ou com doença obstrutiva crônica, situações que exigem altas doses de corticoide, pode sofrer com osteoporose já na infância”.
No entanto, é mais comum encontrar a condição em mulheres no período pós-menopausa. “Uma em cada quatro mulheres perde aceleradamente a quantidade de osso. O normal é que a perda seja de 1% ao ano com o avançar da idade, a partir dos 45 anos. Mas, quando a pessoa está com osteoporose, pode perder até 34% ao ano, ou seja, em 10 anos, ela pode perder até 40% de todo o osso que tinha, aumentando e muito o risco de fraturas”, declara.
Fatores de risco e causas para osteoporose
Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da osteoporose. Entre os principais, estão:
- Cirurgia bariátrica: em decorrência da perda de peso, perda de massa magra e da absorção de alguns nutrientes.
- Deficiência de cálcio e vitamina D: esses nutrientes são essenciais para a saúde óssea.
- Doenças endocrinológicas: como hipertireoidismo e diabetes tipo 1.
- Doenças inflamatórias intestinais: como a retocolite, que inibe a absorção intestinal de cálcio e leva a uma perda óssea.
- Doenças no aparelho digestório: principalmente as síndromes, como a doença celíaca (intolerância ao glúten).
- Doenças pneumológicas: como bronquite com asma, quando é preciso o uso da “bombinha” para ajudar a pessoa a voltar a respirar normalmente.
- Doenças reumatológicas: como a artrite reumatoide e a espondiloartrite, doenças inflamatórias que são imobilizantes.
- Envelhecimento: com o passar dos anos, o organismo reduz a capacidade de renovação óssea.
- Fatores genéticos: pessoas com histórico familiar da doença têm maior propensão a desenvolvê-la.
- Hiperparatireoidismo: condição hormonal que produz em excesso o hormônio paratormônio (PTH), responsável por levar o cálcio na corrente sanguínea.
- Menopausa: quando a mulher perde a proteção natural dos hormônios.
- Sedentarismo: a falta de atividade física contribui para a perda de massa óssea.
- Tabagismo e consumo excessivo de álcool: essas substâncias prejudicam a absorção de cálcio e afetam a regeneração óssea.
- Uso indiscriminado de inibidores de bomba de prótons (IBPs): como omeprazol, pantoprazol, rabeprazol e outros que são usados para tratar refluxo, gastrite e dor de estômago;
- Uso prolongado de corticoides: pode causar intoxicação do osteoblasto, célula que forma o osso e, consequentemente, também pode levar à osteoporose.
Osteoporose e a relação com a semaglutida
Repare que, na lista anterior, medicamento à base de semaglutida não foi mencionado. Isso porque ele não causa diretamente a osteoporose. O que acontece é que o Ozempic, indicado para o tratamento do diabetes, tem um efeito significativo na perda de peso, que, sem o acompanhamento profissional adequado e individualizado, leva à perda de massa óssea.
“Até o momento, não há nenhum estudo mostrando qualquer associação entre o medicamento e a perda de massa óssea que caracterizaria a osteoporose. O que pode acontecer é que pessoas que perdem muito peso rapidamente podem ter uma redução da densidade óssea, mas isso não significa que o Ozempic seja o causador direto”, esclarece o endocrinologista Renato Redorat, coordenador do Departamento de Diabetes, Exercício e Esporte da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
A reumatologista Vera corrobora: “Tanto a semaglutida, quanto a liraglutida, outro medicamento usado no tratamento da obesidade, não atuam no tecido ósseo, reduzindo a formação óssea ou aumentando a destruição óssea. Portanto, eles não são causa de osteoporose. É a perda de peso que esses medicamentos provocam que acabam levando a perda da densidade óssea, aumentando o risco de fraturas”.
É possível prevenir danos aos ossos mesmo usando esses medicamentos: associar o uso a uma dieta adequada, com reposição de proteínas e vitaminas, e à prática de exercícios físicos, principalmente os de impacto, como musculação, pilates, caminhada e corrida.
O endocrinologista destaca que o uso do medicamento em si até pode favorecer o ganho de massa e a melhora na qualidade da massa óssea. “O paciente com diabetes tem uma massa óssea comprometida. A densidade do osso dele é mantida, mas a qualidade é baixa. Então, não acontece exatamente uma perda de osso, mas sim a perda da qualidade do osso”, explica. “Pessoas com diabetes que fazem o tratamento com semaglutida podem ter uma melhora da qualidade óssea como um benefício do uso do medicamento”, disse Redorat. Mas é importante destacar que tal feito só é obtido em casos de uso para tratamento do diabetes com orientação e acompanhamento médico.
Portanto, a afirmação de que o Ozempic causa osteoporose é fake! Até o momento, não há estudos que sustentem essa relação.
7 dicas de como cuidar da saúde óssea
Independentemente do uso de qualquer medicamento, é fundamental adotar hábitos que ajudem a preservar a saúde dos ossos, como:
- Alimentação rica em cálcio: leite, iogurte, queijo e laticínios, vegetais verde-escuros (como couve) e peixes são boas fontes.
- Exposição ao sol: ajuda na produção de vitamina D pelo organismo. Garanta pelo menos 15 minutos de exposição solar diariamente.
- Prática de exercícios físicos: atividades com impacto, como caminhada e musculação, são essenciais para fortalecer os ossos.
- Evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool: ambos prejudicam a absorção de cálcio e aceleram a perda óssea.
- Mantenha uma alimentação equilibrada: além de cálcio, consuma proteínas, magnésio e fósforo, fundamentais para a saúde em geral.
- Faça exames periódicos: a densitometria óssea é essencial para diagnosticar precocemente a osteoporose e acompanhar a saúde óssea.
- Evite dietas muito restritivas: perder peso rapidamente pode impactar a densidade óssea. Prefira emagrecer de forma gradual e saudável.
Por fim, a indicação de ouro em qualquer situação que envolva a saúde: consulte um médico regularmente e não use medicamentos sem prescrição médica. Apenas um especialista pode avaliar riscos individuais e recomendar o melhor tratamento para você.
6 de março de 2025
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