Rastreamento de DPOC deve integrar rotina de cardiologistas e endocrinologistas
A doença pulmonar obstrutiva crônica, que engloba a bronquite e o enfisema pulmonar, é altamente prevalente e perigosa – e não aflige só os pulmões
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma condição progressiva e sem cura caracterizada por uma limitação persistente do fluxo aéreo e, portanto, da respiração. Logo, um problema para os pneumologistas, correto? Nada disso!
A DPOC traz danos para além dos pulmões – acima disso, é uma das principais causas de morte no mundo. Ou seja, diferentes especialidades precisam se atentar a esse problema, e os cardiologistas e os endocrinologistas em particular.
Antes de entrar nessa seara, no entanto, cabe destacar que a DPOC inclui a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. As diretrizes GOLD (Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease), um conjunto de recomendações elaboradas com base nas evidências científicas, orientam que a DPOC seja considerada em pacientes com falta de ar persistente, tosse crônica e produção de escarro e histórico de tabagismo ou exposição a poluentes ambientais. Sim, o cigarro é a principal causa dessa enfermidade, embora não seja a única.
A DPOC pode ser detectada com um exame relativamente simples, batizado de espirometria. O paciente assopra em um pequeno instrumento – o espirômetro –, que mede sua capacidade respiratória. Esse teste, aliás, também serve para mensurar a gravidade do quadro. Apesar da relevância, a espirometria ainda é subutilizada em consultórios não especializados.
Por que cardiologistas e endocrinologistas devem fazer o rastreamento da DPOC?
- Comorbidades frequentes: a DPOC frequentemente coexiste com doenças cardiovasculares e metabólicas, incluindo hipertensão, insuficiência cardíaca, diabetes e obesidade. Muitos pacientes podem ter sintomas respiratórios ignorados ou atribuídos erroneamente à doença de base, retardando o diagnóstico.
- Impacto na saúde cardiovascular: estudos indicam que a DPOC aumenta o risco de infarto do miocárdio e AVC devido à inflamação sistêmica. Cardiologistas que realizam a espirometria em alguns de seus pacientes podem identificar a necessidade de um manejo mais abrangente da saúde respiratória e cardíaca.
- Relação com o metabolismo: a DPOC também está associada à resistência insulínica (um marco para o diabetes tipo 2), sarcopenia e síndrome metabólica. Aliás, pessoas com diabetes tipo 2 apresentam maior prevalência de DPOC, muitas vezes sem sintomas evidentes. Endocrinologistas que incorporam a espirometria na rotina podem detectar precocemente a doença e prevenir complicações graves.
Quando a espirometria é recomendada?
Embora ela não seja indicada para toda a população assintomática, deve ser realizada em grupos de risco, como:
- Pacientes acima de 40 anos com histórico de tabagismo
- Indivíduos expostos à fumaça de biomassa (lenha, carvão, poluentes industriais)
- Pessoas com tosse crônica persistente e fadiga desproporcional ao esforço
- Pacientes com doenças cardiovasculares ou metabólicas, especialmente se apresentarem queixas respiratórias
Vale a pena ter um espirômetro no consultório?
A espirometria é simples, mas requer treinamento para garantir resultados precisos. Ter um espirômetro no consultório pode ser um diferencial importante para um diagnóstico precoce e uma abordagem integrada dos pacientes.
Uma alternativa viável é o uso de questionários de rastreamento, como o COPD Assessment Test (CAT) e o Questionário de Berlim. Esses instrumentos ajudam a identificar quem necessita de uma espirometria para confirmação diagnóstica.
Embora a espirometria não seja recomendada para todos os pacientes, a triagem direcionada para grupos de risco pode melhorar significativamente o diagnóstico e tratamento da DPOC. Pensar nisso é uma estratégia valiosa para otimizar o cuidado integral do paciente.
6 de março de 2025
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