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Perigo oculto no prato: estudo aponta que alimentos ultraprocessados se associam a risco de morte precoce

Pesquisa europeia associa esses produtos a problemas cardiovasculares e digestivos, além do Parkinson. Mas também aponta caminhos para se proteger

Um estudo publicado este ano na The Lancet Regional Health – Europe revela que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados está diretamente ligado a um maior risco de mortalidade por diversas causas, incluindo doenças cardiovasculares e digestivas e até Parkinson. Com base em dados de 428 mil pessoas de nove países europeus, os pesquisadores descobriram que substituir apenas 10% dos ultraprocessados por alimentos minimamente processados reduz significativamente o risco de morte.

Mas o que isso significa, na prática? Como podemos mudar nossos hábitos para viver mais e melhor? Separei pontos importantes a seguir.

O que são alimentos ultraprocessados?

São produtos alimentícios que passam por processos industriais extensivos e contêm ingredientes artificiais, como conservantes, corantes, estabilizantes e adoçantes. Exemplos comuns incluem refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos e refeições prontas congeladas.

De acordo com aquela pesquisa europeia, o consumo desses alimentos foi associado a um aumento de 4% no risco de mortalidade por todas as causas. Esse número sobe para 9% para mortes por doenças circulatórias e 12% para doenças digestivas.

O estudo não foi desenhado para apontar os mecanismos que tornam os alimentos ultraprocessados prejudiciais, mas as principais hipóteses são: 

  • Aumento da inflamação: substâncias químicas presentes nesses alimentos podem disparar processos inflamatórios crônicos que aumentam o risco de doenças cardiovasculares.
  • Desequilíbrio da microbiota intestinal: o alto teor de açúcares e aditivos afeta negativamente as bactérias benéficas do intestino, favorecendo doenças digestivas.
  • Impacto no sistema nervoso: não se sabe ao certo, mas parece que o consumo regular desses itens contribui para processos neurodegenerativos que catapultariam problemas como o Parkinson.

Por outro lado, a pesquisa não encontrou relação significativa entre o consumo de ultraprocessados e a mortalidade por câncer ou Alzheimer, embora outras investigações já tenham levantado essa hipótese.

Trocas inteligentes para uma vida mais longa

Pequenas mudanças na alimentação podem ter um grande impacto na saúde. O estudo mostra que substituir 10% do consumo diário de ultraprocessados por alimentos minimamente processados reduz o risco de morte.

A seguir, deixei algumas trocas simples para aplicar no dia a dia (mas cuidados com as quantidades!):

  • Refrigerante → água com gás e limão.
  • Salgadinhos industrializados → castanhas e frutas secas.
  • Pães ultraprocessados (de forma, bisnaguinhas etc.) → pães integrais caseiros ou de fermentação natural.
  • Macarrão instantâneo → macarrão integral com molho caseiro.
  • Embutidos (presunto, salsicha, mortadela) → ovos, frango ou carne magra grelhada.

O levantamento em questão revela, ainda, que parte do impacto negativo dos alimentos ultraprocessados pode ser atribuído à ingestão de álcool, especialmente cerveja e vinho, que fazem parte do grupo de alimentos processados.

Qual o impacto dessa descoberta na saúde pública?

O estudo reforça a necessidade de mudanças nas políticas de saúde alimentar. Países como o Brasil já adotaram diretrizes baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, que recomenda o consumo predominante de alimentos in natura ou minimamente processados. No entanto, a oferta e a publicidade de alimentos ultraprocessados continuam dominando o mercado.

Os pesquisadores alertam que a substituição gradual de produtos ultraprocessados por opções naturais pode ser uma estratégia eficaz para reduzir a mortalidade populacional. Campanhas educativas, incentivos fiscais para alimentos saudáveis e regulamentações sobre a rotulagem e publicidade de ultraprocessados são algumas das ações que ajudariam a combater essa epidemia alimentar.

Em resumo: mais comida de verdade, menos produtos ultraprocessados.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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