Puberdade precoce em meninas: uma corrida contra o tempo
Caso as alterações físicas comecem antes dos 8 anos de idade, os pais devem procurar o endocrinologista pediátrico o mais breve possível para iniciar o tratamento
A puberdade é o período de transição entre a infância e a vida adulta. Nas meninas, ela acontece entre 8 e 13 anos de idade e é marcada por diversas alterações físicas, como o surgimento dos seios (broto mamário), a aceleração no crescimento corporal e o avanço da idade óssea.
Outras características da puberdade, comuns tanto nas meninas quanto nos meninos, são:
- Espinha no rosto (acne)
- Seborreia facial, que é aquela gordura ou oleosidade no rosto
- Odor axilar, isto é, mau cheiro debaixo do braço
- Crescimento de pelos pubianos (na região da vagina)
- Crescimento de pelos axilares (nas axilas)
“Essas manifestações clínicas vão progredindo nas meninas até o último estágio da puberdade, que é a menarca, ou seja, a primeira menstruação”, diz o endocrinologista pediátrico Crésio Alves, presidente do Departamento de Endocrinologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e professor de Pediatria da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Todo esse processo e as mudanças que ele traz são naturais e esperados, o problema é quando começam antes dos 8 anos. “A puberdade precoce causa vários problemas, que afetam tanto a criança quanto a família”, aponta Alves.
Em primeiro lugar estão os problemas psicossociais. Por exemplo, uma menina de 4 anos de idade com mamas, pelos pubianos e nas axilas não vai entender as mudanças físicas do próprio corpo e poderá lidar com os olhares e comentários negativos dos colegas de escola, professores e até familiares. “As diversas tentativas de explicar a situação pode gerar transtornos para a própria paciente e para os seus pais”, afirma o especialista da SBP.
O segundo problema mais frequente da puberdade precoce é a criança ser confundida com uma adolescente e atrair olhares de meninos mais velhos com interesse em namoro. Isso pode despertar para o início da vida sexual, aumentando também o risco de uma gravidez indesejada ou de contrair infecções sexualmente transmissíveis, já que o corpo pode parecer com o de uma adolescente, mas a cabeça (maturidade) ainda é de uma criança.
Outras duas consequências preocupantes da puberdade precoce apontadas pelo Dr. Crésio são:
- Amadurecimento rápido dos ossos, fazendo a criança parar de crescer antes da idade habitual, ficando muitas vezes com a altura final abaixo do que se esperava.
- Exposição antes do tempo a níveis aumentados de estrógeno, o hormônio sexual feminino, o que pode predispor, mais tarde, ao desenvolvimento de câncer de mama e de endométrio.
“Por tudo isso, é fundamental reconhecer esses sinais de puberdade precoce em tempo hábil, identificar a causa e instituir o tratamento no tempo adequado para impedir que essas complicações todas ocorram”, declarou Alves.
Medidas preventivas
Nesse sentido, é fundamental que os pais ou responsáveis levem a criança ao pediatra regularmente (a cada seis meses), para que o médico possa examiná-la e identificar a presença das características sexuais secundárias citadas anteriormente.
O especialista vai aferir dados de peso e altura e inserir no gráfico de crescimento. Esse procedimento é capaz de indicar se o estirão da puberdade, isto é, o crescimento muito acelerado da altura, está ocorrendo antes do tempo. Caso a criança mostre sinais de puberdade precoce, o pediatra irá encaminhá-la para o endocrinologista pediátrico.
Além disso, é importante que os pais ou responsáveis fiquem atentos ao surgimento dos sintomas citados no início deste tema e procurem por acnes, pelos pubianos e axilares na hora do banho ou de trocar a roupa da filha.
Causa e tratamento da puberdade precoce
A puberdade precoce central é o tipo mais frequente nas meninas. Ela ocorre quando o “relógio biológico” desperta mais cedo, fazendo o hipotálamo, que fica na região superior do cérebro, liberar precocemente o hormônio GnRH. Esse hormônio é um mensageiro químico que desce para a hipófise (que também fica dentro do cérebro) e a faz aumentar a secreção de outros dois hormônios (LH e FSH). Essa dupla, por sua vez, estimula o ovário a produzir os hormônios sexuais femininos. De acordo como o Dr. Crésio, é difícil identificar a causa da puberdade precoce central nas meninas, por isso ela é chamada de puberdade idiopática.
Existe tratamento para interromper e até reverter o desenvolvimento sexual da criança, além de bloquear o crescimento e o amadurecimento rápido dos ossos e as demais complicações da puberdade precoce. No mercado brasileiro, há três apresentações do medicamento: de uso mensal, trimestral ou semestral.
“O tratamento da puberdade precoce evoluiu muito. Antigamente, eram necessárias 12 injeções por ano. Depois, a quantidade diminuiu para quatro e atualmente bastam duas injeções anuais. Portanto, se diagnosticada e tratada em tempo hábil, a criança poderá ter uma altura normal e não sofrerá nenhum dos problemas que citamos anteriormente”, declarou Alves. Em relação ao custo, a notícia também é positiva: uma vez comprovada pelo médico, o tratamento da puberdade precoce é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mais um motivo para buscar ajuda especializada o quanto antes.
8 de abril de 2024
,Letícia Martins
Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.