Síndrome dos ovários policísticos: um fator de risco para doenças do coração
Alterações nos níveis hormonais e no metabolismo do açúcar no sangue estão por trás da relação entre SOP e problemas cardiovasculares
É comum mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) se preocuparem com os sintomas visíveis da doença, como alterações na pele, por excesso de acne e oleosidade, e aumento de pelos no rosto, seios e abdômen, afinal eles mexem com a autoestima e a qualidade de vida. Mas existe um ponto importante que ainda não é tão abordado: a estreita relação entre SOP e doenças do coração.
A SOP é o distúrbio endócrino mais frequente na população feminina em idade reprodutiva, com prevalência estimada entre 6% e 10% em mulheres na menacme, período entre a primeira e última menstruação. A causa dessa síndrome ainda não é clara, mas já se sabe que as mulheres com SOP têm chance aumentada de desenvolver várias condições de saúde, como hipertensão, colesterol alto, resistência à insulina, diabetes tipo 2 e obesidade e ainda são mais acometidas por apneia obstrutiva do sono e doença hepática não alcoólica.
“Devido aos níveis inflamatórios elevados, as portadoras de SOP também apresentam mais chances de acúmulo de gordura em suas artérias, o que, no futuro, pode acarretar infarto e AVC. Somadas, todas essas doenças aumentam muito o risco cardiovascular dessas mulheres”, explica a cardiologista Nina Azevedo, integrante da SOCESP Mulher, departamento da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
A ginecologista Leci Veiga Caetano Amorim, membro do Comitê de Reprodução Humana da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG), também esclarece por que as mulheres jovens compõem o principal grupo de alto risco para o desenvolvimento de doença cardiovascular:
“A resistência à insulina é o elo entre a doença e a síndrome metabólica, condição que ocorre em aproximadamente 43% das pacientes com SOP, elevando em até sete vezes o risco de doença cardiovascular”, declarou a médica, que é mestre em Saúde da Mulher e especialista em Infertilidade, Reprodução Assistida, Ginecologia e Obstetrícia.
Leci aponta que a SOP é caracterizada também por menstruação irregular e alta produção e/ou ação do hormônio masculino (testosterona), o que pode levar ao aumento de pelos e acne, como citados no início do texto, além de pele e cabelo oleosos e a presença de microcistos nos ovários. “Mas as manifestações clínicas variam consideravelmente entre as pacientes, ou seja, não existe uma uniformidade dos sintomas”, esclarece.
Prevenção e tratamento
Tanto a prevenção quanto o tratamento das comorbidades que acompanham a SOP passam necessariamente pela adoção de hábitos saudáveis e acompanhamento médico.
“A consulta com o cardiologista, por exemplo, deve fazer parte da rotina preventiva das pacientes com SOP. A frequência é determinada a partir da avaliação individual de cada mulher, podendo variar de 3 a 8 meses de intervalo, a depender da avaliação médica”, recomenda Nina.
Em geral, o tratamento se concentra em três pilares:
- Mudanças no estilo de vida: “Praticar exercício físico regular e constante, ter um sono de qualidade e uma alimentação balanceada, além de combater a obesidade e o sobrepeso, são as medidas mais seguras e eficazes para evitar complicações futuras da SOP”, ressaltou Nina. Parar de fumar e evitar o vício em bebidas alcoólicas também são importantes.
- Medicamentos específicos: “Geralmente são usados fármacos de base hormonal para equilibrar os níveis e, sobretudo, reduzir os hormônios masculinos no organismo da mulher, além de medicações para o controle da insulina”, disse Leci.
- Controle dos sintomas: também apoiado pela regulação hormonal, este passo auxilia na recuperação da saúde da pele, diminuindo a acne, a oleosidade e o excesso de pelos e ajudando a retomar os ciclos menstruais.
Para finalizar, a Dra. Leci esclarece um mito ainda frequente: acreditar que a pílula anticoncepcional cura a SOP. “Isso é um mito! O que a pílula faz é o controle dos sintomas”, afirma. “Ainda não existe cura para a SOP, porém ela pode ser controlada com tratamento e supervisão médica especializada.”
14 de maio de 2024
,Letícia Martins
Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.