Novas terapias renovam a esperança no tratamento da doença de Parkinson
Do chip cerebral ao ultrassom de alta intensidade, avanços promissores oferecem alternativas para controlar sintomas e retardar a progressão da doença
Tremores nas mãos são o sinal mais conhecido da doença de Parkinson, mas eles estão longe de serem os únicos sintomas da condição. Classificado como um distúrbio neurodegenerativo progressivo, o Parkinson afeta áreas do cérebro responsáveis pela produção de dopamina, um dos principais hormônios neurotransmissores para controle dos movimentos. A origem da doença de Parkinson ainda é desconhecida. Porém, basta uma simples busca na internet para encontrar diversos “culpados”, que vão desde fatores genéticos até ambientais, como a exposição a agrotóxicos e poluentes que, na teoria, podem desencadear o processo degenerativo.
Estima-se que existam atualmente cerca de 9 milhões de pessoas no mundo com a doença, que atinge principalmente pessoas a partir dos 60 anos. “No Brasil, há de 100 a 200 pacientes a cada 100 mil habitantes. O Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum e mais prevalente, atrás apenas do Alzheimer”, explica o neurologista Diogo Haddad, especialista em distúrbios do movimento e pesquisador de doenças neurodegenerativas há mais de 10 anos.
Sintomas
“A doença de Parkinson provoca uma degeneração progressiva nas vias dopaminérgicas do cérebro”, explica o médico. E é essa perda que interfere diretamente nos movimentos característicos da doença, os tremores. “O fato de ser uma doença neurodegenerativa significa que ela não tem cura, mas é tratável. E se deve tratá-la justamente para evitar esses sintomas clássicos, que podem ser incapacitantes de muitas formas”.
Embora o tremor seja automaticamente associado ao Parkinson, ele não é o principal sinal da doença. “O sintoma mais importante, chamado de cardinal, é a bradicinergia, que é a lentidão dos movimentos. Ou seja, o paciente precisa ter bradicinergia e mais um dos outros sintomas”, explica o neurologista Haddad.
Os principais sinais clínicos da doença de Parkinson são:
- Bradicinergia: lentidão nos movimentos, considerada o sintoma cardinal.
- Tremor de repouso: ocorre quando o paciente está parado, e não em movimento.
- Rigidez muscular: dá ao paciente uma aparência de estar “travado”.
- Instabilidade postural: caracteriza-se por passos curtos, corpo encurvado e dificuldade para iniciar o movimento, o que pode levar ao chamado “congelamento”. “Se você encostar nesse paciente ou puxá-lo para qualquer lado, ele cairá feito um bloco de pedra”, compara o especialista.
Ou seja, com o tempo, o paciente passa a ter dificuldade para andar, fica com a postura curvada, os passos encurtados, arrastando os pés, e com uma diminuição do movimento dos braços durante a marcha.
Esses sintomas são apenas motores, mas os efeitos da doença vão além do corpo e podem comprometer outras áreas. “O paciente também pode ter alteração no olfato, no sono REM [rapid eye movement, uma fase do sono com intensa atividade cerebral, movimentos rápidos dos olhos e relaxamento muscular], alterações intestinais e constipações crônicas”, observa o neurologista.
Tratamentos atuais
Como ainda não há cura para a doença de Parkinson, o tratamento se concentra no alívio dos sintomas. O medicamento mais utilizado, disponível há décadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a levodopa. “Ela é o padrão-ouro e, muitas vezes, consegue controlar os sintomas”, explica o médico. “Mas já existem novas medicações que também atuam nas vias dopaminérgicas e ajudam o paciente a ter menos tremores, lentidão e rigidez e uma melhor mobilidade, sempre conforme o tratamento indicado.”
Apesar dos avanços, ele faz um alerta: essas alternativas não representam a solução ideal para o controle da doença. “São tratamentos bons, mas ainda apresentam limitações importantes. Alguns têm efeitos colaterais a longo prazo, o que exige cuidado e acompanhamento contínuo.”
Novidades terapêuticas à vista
Ainda assim, há uma luz no fim do túnel. Novas alternativas terapêuticas vêm sendo estudadas ou já estão em uso, trazendo esperança para quem convive com a doença de Parkinson.
A primeira delas, ainda em fase de pesquisa, aposta em medicamentos voltados para a proteinopatia. Haddad explica que a ideia é desenvolver compostos como quimioterápicos, anticorpos e drogas monoclonais capazes de agir sobre proteínas específicas envolvidas no processo degenerativo.
A segunda opção é um chip cerebral, que já está sendo usado em pacientes: o deep brain stimulator (DBS). “Trata-se de um implante neurocirúrgico que estimula áreas do cérebro afetadas pela neurodegeneração ou regiões associativas, promovendo a retomada da atividade dopaminérgica. Na prática, esse estímulo contribui para retardar significativamente a progressão da doença”, expõe o neurologista.
Por fim, a terceira alternativa é o HIFU (high-intensity focused ultrasound), um ultrassom de alta intensidade e precisão que gera uma pequena lesão em uma área específica do cérebro. “O procedimento precisa ser feito com muito cuidado, mas é bastante eficaz do ponto de vista sintomático”, afirma o médico. Embora não trate a causa da doença, o HIFU ajuda a controlar um dos sintomas mais visíveis: o tremor. Recém-chegada ao Brasil, a técnica já está sendo utilizada em São Paulo — e o Dr. Diogo é um dos especialistas que já indicou o tratamento a alguns pacientes.
Qualidade de vida
Além das novas terapias, quem convive com a doença de Parkinson pode e deve seguir orientações bem conhecidas: melhorar o estilo de vida. “A qualidade e o estilo de vida têm impacto direto no avanço do Parkinson, que naturalmente progride ao longo dos anos. Quando o paciente mantém bons hábitos, essa evolução pode ser muito mais lenta”, explica Haddad.
Um dos pilares dessa qualidade de vida é a prática de atividade física. Os exercícios ajudam na manutenção das funções motoras e devem ser incorporados à rotina de forma regular. O especialista recomenda: “É importante que o paciente ganhe massa muscular e preserve essa condição ao longo do tempo, além de investir em treinos de estabilidade, equilíbrio e coordenação, sempre com apoio de fisioterapia, pilates ou mindfulness”.
Outra estratégia que pode contribuir bastante é a terapia ocupacional, que auxilia o paciente a manter a autonomia nas tarefas do dia a dia, como se alimentar ou realizar pequenas atividades dentro de casa.
Um ponto de atenção é o sobrepeso. Para pessoas com limitações motoras, o excesso de peso representa um fator agravante e pode acelerar a progressão da doença. Por isso, a alimentação também merece cuidado: o ideal é evitar frituras, embutidos e alimentos ultraprocessados de forma geral.
Diagnóstico precoce e a carência por especialistas
Como a doença de Parkinson tende a piorar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental. Quanto mais cedo for identificada, maiores são as chances de iniciar o tratamento o quanto antes e, com isso, retardar a progressão da condição.
O problema é que, muitas vezes, os primeiros sinais passam despercebidos ou são confundidos com aspectos naturais do envelhecimento, o que pode adiar a busca por ajuda médica. Para evitar esse cenário, é importante estar atento a sintomas comuns e mudanças sutis no corpo que persistem, como dificuldade para se movimentar, rigidez em um dos lados do corpo, perda do olfato e constipação frequente. Diante desses sinais, a recomendação é procurar a avaliação de um neurologista.
Mas o desafio não está apenas no lado dos pacientes. Como destaca o Dr. Diogo, também é necessário formar mais especialistas capacitados para lidar com a doença e as particularidades de cada paciente. “Do contrário, o estigma cresce e a carga emocional da doença, que já é grande, se intensifica. O desafio é duplo: está tanto na esfera médica quanto na social”, afirma.
Apesar dos obstáculos, é possível viver com qualidade mesmo após o diagnóstico. Informação confiável e acesso a um acompanhamento adequado são fatores que fazem toda a diferença na jornada com o Parkinson.
22 de maio de 2025
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