Em meio a tantas especialidades, nunca precisamos tanto de clínicos gerais
A capacidade de enxergar o paciente como um todo, da prevenção ao tratamento, é uma virtude imprescindível para um atendimento de qualidade e um sistema de saúde sustentável
Os avanços da Medicina são tantos que, hoje, não é exagero dizer que há, literalmente, especialista até para lidar com problemas no pé. Paradoxalmente, é justamente nesse cenário de ultraespecialização que o clínico geral merece ainda mais destaque.
O clínico geral possui enorme relevância no Brasil. Em um país marcado por desafios no acesso e na qualidade dos serviços, ele funciona como um elo entre os pacientes e as diversas áreas médicas.
É essa especialidade – sim, a clínica geral é uma especialidade, que exige muito treino! – que geralmente realiza o primeiro atendimento, e que precisa ter um olhar atento para entender diferentes sinais. Ou seja, ela é responsável por identificar vestígios de doenças previamente não reconhecidas – e, às vezes, assintomáticas. Justamente por ter um olhar mais amplo, o clínico geral favorece o diagnóstico precoce e o uso de eventuais intervenções na hora certa.
Mais do que isso: esse médico atua como poucos na prevenção de doenças. Ele participa de campanhas e programas de promoção de saúde, recebe pessoas que buscam evitar problemas mais para frente na vida e por aí vai.
Só não pense que o clínico geral, uma vez identificada a doença, sai de cena. Em muitos casos, ele é, sim, capaz de acompanhar a gestão de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, e mesmo de coordenar a conversa entre diferentes especialistas – quando a pessoa tem mais de um problema de saúde, por exemplo.
Isso sem falar que o clínico geral é essencial para garantir acesso à saúde em áreas rurais, periferias urbanas e em regiões remotas do Brasil. Nesses locais, aliás, ele enfrenta enormes desafios, sendo às vezes o único profissional de saúde disponível para oferecer cuidados básicos à população.
Até por atuar na Atenção Primária à Saúde (APS), esse médico ainda evita o encaminhamento desnecessário para especialistas, ou que muitos pacientes procurem os serviços de urgência sem uma avaliação prévia. Ele, portanto, favorece a eficácia e a sustentabilidade do sistema de saúde.
Claro que é imprescindível termos especialistas que conheçam, nos menores detalhes, o funcionamento desse ou daquele sistema do organismo. Mas também é fundamental contarmos com quem olha para o corpo e, acima de tudo, para a pessoa em sua integralidade.
30 de setembro de 2024
,Fábio Araújo de Sá
Médico clínico geral