Olhar da Saúde 2025-Thumbs-MariTide

Medicamento mensal para tratamento da obesidade e diabetes tipo 2 é destaque em congresso de diabetes

A redução de peso com o chamado MariTide chega a 16% em um estudo de fase 2. Conheça os detalhes dessa história

A obesidade é um dos maiores desafios de saúde pública do século 21. Essa condição crônica, que afeta mais de 650 milhões de pessoas no mundo, aumenta o risco de uma série de condições, como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares, apneia do sono e alguns tipos de câncer. A boa notícia é que a ciência continua avançando — e um novo tratamento experimental, chamado MariTide (maridebart cafraglutide), mostrou resultados altamente promissores em um estudo de fase 2 publicado na respeitada revista científica The New England Journal of Medicine e apresentado simultaneamente no Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA 2025).

Foram 592 participantes com obesidade reunidos, com e sem diabetes tipo 2. O estudo foi randomizado, duplo-cego, controlado por placebo e teve duração de 52 semanas.

Os voluntários foram divididos em grupos para testar diferentes dosagens do MariTide (140, 280 e 420 miligramas), com ou sem aumento gradual da dose. Resultados:

  • Entre os participantes sem diabetes, a perda média de peso variou de 12,3% a 16,2%, em comparação com apenas 2,5% no grupo placebo.
  • No grupo com diabetes tipo 2, a perda de peso ficou entre 8,4% e 12,3%, comparada a 1,7% no grupo placebo. Lembro que, em pessoas com diabetes tipo 2, as taxas de redução de peso são geralmente inferiores, então esses achados estão dentro do esperado. 
  • Nesse mesmo grupo, houve melhora significativa nos níveis de hemoglobina glicada (HbA1c), que se reduziram de 1,2 a 1,6 ponto porcentual.

Benefícios metabólicos adicionais

O MariTide também contribuiu para incrementos em diversos indicadores de saúde metabólica:

  • Redução da circunferência da cintura
  • Queda na pressão arterial sistólica e na diastólica
  • Diminuição nos níveis de proteína C reativa (um marcador inflamatório)
  • Melhora no perfil lipídico, incluindo colesterol e triglicérides

Em um subgrupo de participantes que realizou avaliação por exame de composição corporal (a densitometria de corpo inteiro), o MariTide mostrou maior redução da massa de gordura corporal associada com uma pequena perda da massa muscular— o que é essencial para o funcionamento do organismo. A diminuição da massa muscular respondeu a cerca de 30% do peso perdido na balança. O restante era gordura. 

Efeitos colaterais: o que observar?

Como ocorre com outros medicamentos da classe dos agonistas do GLP-1, os efeitos adversos mais comuns do MariTide foram gastrintestinais, como náuseas, vômitos, diarreia e constipação. No entanto, as reações foram, na maioria das vezes, leves a moderados — e menos frequentes entre os participantes que iniciaram o tratamento com doses menores e passaram por escalonamento gradual.

Vale destacar que não foram observados efeitos adversos graves inesperados.

Como o MariTide age no organismo

Ele é um medicamento injetável de ação prolongada que combina dois mecanismos: o de “ativador” do receptor de GLP-1 (hormônio que reduz o apetite e melhora o controle da glicose) e o de “inativador” do receptor de GIP, outro hormônio produzido pelo intestino. Essa estratégia inédita permite não apenas uma perda de peso significativa, como equilibra o metabolismo de forma geral. 

Diferentemente de medicamentos como semaglutida ou tirzepatida, que exigem aplicações semanais, o MariTide tem uma meia-vida mais longa. Isso permite aplicar apenas uma injeção por mês — o que pode facilitar a adesão e o engajamento ao tratamento, especialmente em longo prazo.

Quando o MariTide estará disponível?

Ainda são necessários estudos de fase 3 para confirmar o funcionamento desse fármaco em uma população maior e avaliar sua segurança em longo prazo, mas o que se observa no momento é promissor. 

Se os resultados das próximas fases forem positivos, o medicamento poderá ser submetido às agências reguladoras (como a FDA, nos Estados Unidos, e a Anvisa, no Brasil) para uma eventual aprovação. 

Em suma, o MariTide representa um possível avanço relevante no desafio mundial contra a obesidade — uma doença crônica que exige estratégias eficazes, seguras e sustentáveis. 

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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