Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Vacina contra o HPV

Vacina contra o HPV: uma arma eficiente na luta pelo fim do câncer em mulheres

Imunizante reduz a mortalidade por câncer de colo do útero, doença estimada em 17 mil novos casos para este ano. Saiba quais são as indicações e quantas doses tomar

O ataque é a melhor defesa, já dizia o ditado. Mas como confrontar um inimigo invisível, capaz de comprometer nossa saúde de maneira insidiosa? Quando o vilão é o câncer de colo do útero, terceiro tumor maligno mais comum entre as mulheres, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma, a arma chama-se vacina.

Desde 2014, o Brasil tem disponível, inclusive no sistema público de saúde, a vacina que protege contra o HPV, sigla em inglês para papilomavírus humano – uma infecção sexualmente transmissível, considerada a principal causadora do câncer de colo do útero –, além de outros tipos de câncer, como anal, de vulva, de vagina, de pênis e de orofaringe.

Para 2025, o Instituto Nacional de Câncer estima 17 mil novos casos de câncer de colo do útero. Esse número fala tão alto sobre o tamanho do desafio que chegam a doer os tímpanos. E o coração – pois lembro que conheço pessoas muito próximas a mim que já travaram uma guerra contra o câncer de colo do útero. Graças ao diagnóstico precoce e ao tratamento, elas venceram! Mas, infelizmente, 6.606 mulheres não tiveram essa sorte e morreram no Brasil em 2021 devido a esse câncer, o mais letal em mulheres até 36 anos e o segundo que mais mata mulheres até os 60 anos.

Veja bem, estamos falando de uma doença com elevada taxa de infecção e que pode ser fatal, mas para a qual já existem métodos de detecção precoce, como o exame de Papanicolau, e de prevenção, como a vacina. Vamos saber um pouco mais sobre ela e esclarecer alguns mitos.

Somente mulheres devem se imunizar contra o HPV?

Não! O HPV é uma infecção sexualmente transmitida que pode afetar tanto mulheres quanto homens e causar verrugas e câncer. Por isso, a vacinação é recomendada para ambos os sexos.

Para quem a vacina é indicada?

A vacina contra o HPV é indicada em bula para pessoas de 9 a 45 anos. Fora dessa faixa etária, a vacinação deve ser avaliada pelo médico. O número de doses varia conforme a faixa etária e o público (veja tabelas abaixo).

Existem mais de 150 tipos de HPV, a maioria inofensiva. Em contrapartida, há dois deles (tipo 16 e tipo 18) que estão envolvidos em quase 100% dos casos de câncer de colo do útero.

Felizmente, as duas vacinas disponíveis no Brasil – a quadrivalente (HPV4) e a nonavalente (HPV9) – protegem contra esses dois subtipos de vírus, entre outros. Elas são administradas em esquema vacinal de duas ou três doses. A saber:

  • HPV4: protege contra quatro tipos de HPV: 6, 11, 16 e 18.
  • HPV9: protege contra nove tipos de HPV: 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58.

Qual é a idade ideal para se vacinar contra o HPV?

O recomendado é que a vacina seja aplicada antes do início da vida sexual, garantindo uma proteção eficaz contra todos os tipos de vírus incluídos no imunizante. 

Por isso a vacina HPV4 está inserida no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para meninas e meninos de 9 a 14 anos e temporariamente para adolescentes de 15 a 19 anos. “Nessa faixa etária, a resposta imunológica é mais robusta, resultando em maior produção de anticorpos em comparação a grupos etários mais avançados”, explicou a ginecologista Dra. Susana Cristina Aidé Viviani Fialho, presidente da Comissão Nacional Especializada (CNE) de Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e professora associada da Universidade Federal Fluminense.

Ela acrescenta: “Além das situações contempladas no Programa Nacional de Imunizações, todas as pessoas entre 9 e 45 anos que praticam, já praticaram ou virão a praticar atividade sexual devem tomar a vacina, uma vez que os fatores de risco para câncer do colo do útero estão ligados ao comportamento sexual, como idade precoce na primeira relação sexual e múltiplos parceiros sexuais”.

Existe vacina em dose única?

Em 2024, o Ministério da Saúde adotou uma nova estratégia para zerar as taxas de câncer de colo do útero e passou a aplicar no Sistema Único de Saúde (SUS) a vacina contra o HPV em dose única em crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. No final do ano passado, adolescentes de 15 a 19 anos também foram inseridos no PNI, de forma temporária, como estratégia de resgate para ampliar a vacinação.

“A dose única vai aumentar a capacidade de imunização dos estoques públicos disponíveis no país, aumentar a adesão à vacinação e ampliar a cobertura vacinal, visando eliminar o câncer de colo do útero como problema de saúde pública”, declarou Susana.

A ginecologista ressalta que a vacina contra o HPV administrada em uma dose tem a mesma eficácia que as anteriores. “A recomendação da dose única foi embasada em estudos com evidências sobre a eficácia do esquema frente às versões com duas ou três doses, na população de crianças e adolescentes, aliado ao aumento da cobertura vacinal resultando em diminuição da circulação viral”, disse a ginecologista. Além disso, o esquema segue as recomendações mais recentes da OMS e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

A vacinação contra o HPV é gratuita? 

A HPV4 foi inserida no PNI e pode ser aplicada gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e/ou nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), conforme o perfil do público. Essa vacina é produzida no país por intermédio de uma transferência de tecnologia entre o laboratório público Instituto Butantan e o laboratório privado MerckSharpDohme (MSD).

Confira o esquema vacinal da HPV4:

 

Público Esquema vacinal (HPV4) Onde encontrar
Meninas e meninos de 9 a 14 anos Dose única UBS
Adolescentes de 15 a 19 anos não vacinados Dose única

Obs.: público inserido no PNI temporariamente.

UBS
Pessoas vivendo com HIV/AIDS Três doses com intervalo de 2 meses entre a primeira e segunda dose e 6 meses entre a primeira e terceira dose (esquema 0-2-6). UBS e/ou CRIE
Transplantados de órgãos sólidos e de medula óssea
Pacientes oncológicos
Portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PPR), a partir de 2 anos
Usuários de profilaxia pré-exposição (PrEP) a HIV/AIDS
Vítimas de abuso sexual entre 9 e 14 anos Duas doses, sendo que a segunda dose deve ser aplicada 6 meses após a primeira. Locais de assistência às vítimas de abuso sexual
Vítimas de abuso sexual entre 15 e 45 anos Três doses, sendo que a segunda dose deve ser aplicada 2 meses após a primeira; e a terceira dose administrada seis 6 após a primeira.
Fonte: Instrução Normativa do Calendário Nacional de Vacinação, Ministério da Saúde, 2024, disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/vacinacao/publicacoes/instrucao-normativa-calendario-nacional-de-vacinacao-2024.pdf 

Onde tomar a vacina HPV9?

A HPV9, cujo nome comercial é Gardasil 9, fabricada pela MSD, não está disponível no PNI atualmente, mas pode ser encontrada na rede privada (em clínicas, laboratórios e farmácias autorizadas). Segundo a fabricante, o HPV9 deve ser administrado em três doses, da seguinte forma:

– De 9 a 14 anos:

  • Duas doses, com 6 meses de intervalo.

– De 15 a 45 anos:

  • Primeira dose: na data escolhida pela pessoa e/ou o médico; 
  • Segunda dose: 2 meses após a primeira dose (não antes que 1 mês após a primeira dose);
  • Terceira dose: 6 meses após a primeira dose (não antes que 3 meses após a segunda dose).

Mas esse esquema pode variar, caso a pessoa tenha recebido uma dose ou mais doses da vacina.

Idade Histórico vacinal Esquema vacinal HPV9 recomendado
9 a 19 anos Sem história de HPV4 Duas doses de HPV9, com 6 meses de intervalo (0-6 meses).
Uma dose de HPV4 Dois meses após a dose de HPV4, iniciar esquema de duas doses de HPV9, com 6 meses de intervalo (0-6 meses).
Duas ou três doses de HPV4 Doze meses após a última dose de HPV4, iniciar esquema de duas doses de HPV9, com 6 meses de intervalo (0-6 meses).
20 a 45 anos Sem história de HPV4 Três doses de HPV9 (0-2-6 meses).
Uma dose de HPV4 Dois meses após a dose de HPV4, iniciar esquema de três doses de HPV9 (0-2-6 meses).
Duas doses de HPV4 Três meses após a segunda dose de HPV4, iniciar esquema de três doses de HPV9 (0-2-6 meses).
Três doses de HPV4 Doze meses após a terceira dose de HPV4, iniciar esquema de três doses de HPV9 (0-2-6 meses).
Fonte: Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), atualizado em 12/02/2025. Disponível em: https://familia.sbim.org.br/vacinas/vacinas-disponiveis/vacina-hpv9

Qual o custo da vacina na rede privada?

O custo varia conforme a região e o ponto de venda. Na capital paulista, uma dose da vacina HPV9 custa cerca de R$ 800, enquanto em Taubaté, cidade do interior de São Paulo, cada dose pode sair por mil reais. Será que vale a pena? 

Para conscientizar sobre a prevenção do câncer de colo do útero e a importância da vacinação e de outras medidas preventivas, foi criada a campanha Março Lilás. Falaremos mais a respeito dessa doença, mas posso adiantar que o custo de não tomar a vacina é inestimável e envolve desde o aparecimento de verrugas em locais, como boca, vagina e ânus, até a morte. 

O câncer de colo do útero tem tratamento, porém com chances de sucesso ao ser diagnosticado precocemente. Vale destacar que o tratamento também pode trazer diversas mudanças e consequências para a vida da pessoa, como dores físicas, transtornos emocionais, perda do emprego, entre outras.

Os sintomas do HPV podem surgir meses ou anos depois da infecção. Felizmente, na maioria das vezes, as próprias defesas do organismo se encarregam de varrer o intruso do corpo. No entanto, a infecção é muito frequente, e o número de diagnósticos e de mortes é alto, como citado no início da matéria. Mais um argumento para tomar a vacina: uma pessoa pode estar infectada com HPV, não apresentar nenhum sintoma e transmitir a doença para outras. 

Mulheres que já tiveram contato com o HPV devem se vacinar?

A ginecologista Dra. Susana afirma que sim e elenca algumas razões:

  • A mulher continua sob risco de contrair o HPV durante toda a sua vida;
  • Uma infecção natural prévia parece não oferecer imunidade suficiente para prevenir novas infecções pelo mesmo sorotipo viral;
  • A infecção persistente pelo HPV é um importante fator de risco para lesões pré-malignas e câncer de colo do útero em mulheres jovens e adultas;
  • Há risco aumentado de mulheres diagnosticadas com lesões pré-malignas do colo do útero desenvolverem outras doenças relacionadas ao HPV;
  • As lesões podem recidivar mesmo com o tratamento;
  • As vacinas apresentam elevada taxa de perfil de eficácia na população de mulheres adultas.

Quais são as contraindicações da vacina contra o HPV?

A vacina é contraindicada para gestantes e pessoas alérgicas a qualquer um dos seus componentes ou que tenham sofrido alguma reação alérgica após receber uma dose.

Tomar ou não, eis a questão!

Se você quer preservar sua saúde e se proteger contra o câncer ginecológico que mais assola a população feminina, questão resolvida: vacine-se!

Olhar da Saúde-Leticia Martins

Letícia Martins

Jornalista com foco em saúde.

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