Olhar da Saúde 2025-Thumbs-Apneia do sono

Apneia do sono: FDA aprova nova opção para quem não tolera as máscaras para dormir

Dispositivo instalado no corpo ajuda a liberar as vias aéreas de pessoas com essa condição. Conheça o Genio

Ronco, interrupções na respiração durante o repouso e muito cansaço no dia seguinte marcam a apneia obstrutiva do sono. O tratamento mais conhecido até hoje envolve o CPAP, um aparelho que joga ar sob pressão por meio de uma máscara, restabelecendo a respiração adequada. Apesar de eficaz, alguns pacientes reclamam de incômodos e sensação de sufocamento, por exemplo, o que culmina no abandono do tratamento. Foi para oferecer uma alternativa a essas pessoas que a empresa Nyxoah desenvolveu o dispositivo Genio. 

Trata-se de um sistema de estimulação elétrica do nervo hipoglosso, que controla os movimentos da língua. Ora, na apneia, a musculatura da língua e da garganta relaxa demais, bloqueando a passagem do ar. O que o Genio faz é enviar pequenos estímulos ao nervo para ativar a língua suavemente e manter a via aérea aberta. Assim, o ar circula livremente e o sono se torna mais contínuo.

Na prática, um procedimento cirúrgico minimamente invasivo implanta uma espécie de eletrodo na altura da garganta. Depois disso, o paciente coloca, toda noite, um adesivo externo, que possui uma bateria. Entre os diferenciais em relação a outros dispositivos semelhantes, estão:

  • Implante sem bateria interna: a energia vem de um pequeno dispositivo naquele adesivo.
  • Compatibilidade com ressonância magnética: o paciente pode fazer exames sem restrições.
  • Atualização sem nova cirurgia: como a tecnologia está no dispositivo externo, é possível evoluir o sistema sem necessidade de trocar o implante.

O dispositivo foi desenvolvido para adultos com apneia obstrutiva do sono de moderada a grave. Ou seja, quando o índice de pausas respiratórias está entre 15 e 65 eventos por hora. E ele é indicado apenas para quem não consegue usar o CPAP de forma adequada, ou não teve sucesso com essa terapia. 

Aliás, cabe destacar que, em dezembro de 2024, os Estados Unidos aprovaram as injeções semanais de tirzepatida (Mounjaro®) para pessoas com apneia em graus moderados a graves. 

Para quem essa tecnologia não é indicada?

O Genio, apesar de promissor, não serve para todos os casos. Existem contraindicações importantes:

  • Pessoas com apneia leve (menos de 15 paradas respiratórias por hora), ou, por outro lado, muito grave (acima de 65 paradas por hora).
  • Pacientes com apneia central significativa (quando o problema não é apenas obstrução da via aérea, e, sim, em falhas no comando cerebral da respiração).
  • Crianças e adolescentes.
  • Gestantes ou mulheres que planejam engravidar em curto prazo.
  • Pacientes que não podem passar por cirurgia com anestesia geral.
  • Pessoas com distúrbios de coagulação ou uso de anticoagulantes que não podem ser suspensos.
  • Indivíduos com malformações anatômicas importantes na região da língua ou da garganta.
  • Quem já tem outro dispositivo médico implantável ativo, como marca-passo ou neuroestimulador.

Além disso, o Genio foi estudado só em pacientes com índice de massa corporal (IMC) até 32 kg/m2. Acima disso, a resposta tende a ser menor, o que limita o uso em pessoas com obesidade em graus avançados. 

Onde o Genio já foi aprovado?

Na Europa, ele recebeu o selo CE (Conformité Européenne) em 2019, abrindo as portas para uso em diversos países da União Europeia. Em 2024, começou a ser implantado no sistema público de saúde do Reino Unido, inicialmente em hospitais de referência. E, em 2025, recebeu a liberação da Food and Drug Administration (FDA) para ser comercializado nos Estados Unidos. 

Essa última aprovação representa um marco, porque a FDA é uma das agências regulatórias mais exigentes do mundo. Ela não apenas reconhece a segurança e eficácia do Genio, como abre caminho para a sua adoção em larga escala em outros continentes. Ainda não há previsão de aprovação no Brasil. 

Com liberações em países de referência e um mecanismo inovador, o Genio pode mexer positivamente com a medicina do sono. É a prova de como a tecnologia pode trabalhar a favor da vida, ajudando o corpo a fazer algo tão básico — e ao mesmo tempo tão vital — como respirar bem enquanto dormimos.

Apneia do sono é problema de saúde pública

Mais do que cansaço, dor de cabeça e irritabilidade, a apneia aumenta o risco de pressão alta, diabetes, arritmias cardíacas, infarto e AVC. 

Apesar de tudo isso, ainda é subdiagnosticada e pouco falada nos consultórios médicos. Estima-se que cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo tenham a doença, segundo a American Academy of Sleep Medicine. No Brasil, estudos sugerem que entre 30% e 40% dos adultos apresentariam algum grau de apneia obstrutiva do sono — uma prevalência maior do que diabetes tipo 2.

Em outras palavras: trata-se de um problema de saúde pública. Roncos fortes não devem ser encarados em tom jocoso. A apneia do sono é uma condição séria, que tem impactos profundos na saúde e no bem-estar. Contar com alternativas modernas, seguras e eficazes amplia as chances de tratamento bem-sucedido.

Por Orlando Ferreira,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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