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Insônia: mais comum, mas também mais sério do que se imagina

Normalmente os pacientes só buscam auxílio profissional quando ela é crônica e prejudica o dia a dia, com sintomas como sonolência, desatenção e mau humor

Provavelmente você já viu ou ouviu falar de um antigo comercial de colchão que diz que um terço da sua vida você passa sobre ele, certo? Pois é. Só que se essa conta é questionável mesmo para quem acha que costuma ter uma noite de sono “normal”, imagine para quem sofre de insônia. 

Os números seguintes já são capazes de provocá-la: segundo estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a insônia está entre os distúrbios ligados ao sono que acometem cerca de 70% dos brasileiros. A Associação Brasileira do Sono (ABS), por sua vez, afirma que nos casos crônicos a privação de sono pode ter duração média de três anos.

Caracterizando a insônia

O Ministério da Saúde comunica: a insônia se caracteriza pela dificuldade de iniciar o sono e/ou mantê-lo continuamente durante a noite, ou pelo despertar antes do desejado. Essa é uma condição possivelmente relacionada a fatores como expectativas, problemas clínicos, emocionais, excitação associada a determinados eventos etc.

Dormir pouco, quase nada ou nada de vez em quando ainda é considerado não mais que um sintoma, sobretudo levando em conta sentimentos como ansiedade ou preocupação – o que é conhecido como insônia aguda. A forma crônica é marcada por repercussões negativas na vida diurna da pessoa, com frequência de no mínimo três vezes na semana e duração de três meses ou mais.

Causas

A importância de enfrentar o problema pode ser discutida a partir de dois aspectos, e o primeiro deles é o sono ser essencial à saúde. Entre as suas diversas funções, ele mantém o nosso equilíbrio psíquico, emocional e metabólico, o que se reflete no funcionamento adequado do organismo. Além disso, quem dorme mal está suscetível a alterações relevantes no humor, desencadeando estresse e irritabilidade, com impacto na produtividade ao longo do dia. Sem falar na contribuição para o desenvolvimento de doenças como obesidade e diabetes.

O segundo aspecto é que a insônia é uma condição multifatorial, ou seja, não é tão fácil detectar as reais causas em cada indivíduo. Mas existem métodos para isso. Na década de 1980, por exemplo, um psicólogo chamado Dr. Spielman criou um método teórico para explicar as origens da insônia, conhecido como “3 P”:

  • Perpetuação: a presença de doenças como depressão ou maus hábitos “trazem” o problema, que se perpetua mesmo depois que os fatores geradores se resolvam.
  • Predisposição: muitas vezes ligada a um histórico familiar, ou hereditário.
  • Precipitação: relacionada a eventos que geram mudanças positivas ou negativas na vida da pessoa, como casamento, a chegada de uma criança, a perda do emprego, conflitos familiares.

Claro que há outras situações, entre as quais estão questões de ordem física, como hipertireoidismo, refluxo gastroesofágico, síndrome das pernas inquietas, além da menopausa, da alteração do fuso horário, da hospitalização e até mesmo da presença de ruídos na vizinhança e do excesso de calor ou frio. 

Maus hábitos

Quanto aos maus hábitos, já citados aqui, podemos especificar dois, bastante comuns: o tempo excessivo de cama, quando o indivíduo vai deitar mais cedo e se levanta bem depois de acordar, o que pode gerar uma diferença notável entre “poder dormir” (afinal, já estou na cama mesmo!) e “conseguir dormir”, que é o que de fato conta como sono produtivo. 

O outro mau hábito é a realização, na cama, de atividades que não têm nada a ver com dormir, como ver televisão ou ficar no celular, comer e inclusive trabalhar. Afinal, onde se torce pelo seu time com risco de ser rebaixado, se assiste ao último episódio de uma série, se trabalha no projeto mais desafiador ou se come a refeição mais prazerosa não se dorme, não é verdade? É justamente isso que o nosso cérebro entende e “coloca em prática” quando vamos para a cama quando pretendemos dormir – e não tem hora pior para ele nos manter alertas…

Detectando a insônia 

Primeiro de tudo, para detectar a insônia é preciso reconhecer os sintomas, manifestos não só
à noite, como também durante o dia: irritabilidade, dificuldade de lidar com pressões, sonolência, déficit de atenção e cansaço são alguns dos sinais. Observar se você apresenta repetidamente alguns dos problemas já levantados aqui (dificuldade para iniciar e/ou manter o sono, despertar muito antes do horário de se levantar, alteração de humor) pode servir de motivação para buscar ajuda médica.

O exame complementar mais comum a se realizar é a polissonografia, que avalia padrões como respiração, estágios e despertares e a presença de apneia – quando a respiração durante o sono é excessivamente superficial ou há parada completa da respiração por alguns segundos ou minutos.

Tratamento

Normalmente, quem recorre ao médico já apresenta insônia há um tempo considerável. Uma das opções para combatê-la, depois de uma conversa com o paciente a fim de identificar o que tem atrapalhado a sua noite de sono, é a higiene do sono, a qual envolve uma série de mudanças comportamentais na vida da pessoa, incluindo a elaboração de um diário.

Técnicas de relaxamento, como meditação, ioga e a aplicação de exercícios respiratórios podem ser úteis para várias pessoas. 

Existe, ainda, a terapia farmacológica, isto é, voltada ao uso de medicamentos para casos selecionados. Infelizmente, no Brasil, existe um elevado número de pessoas que utiliza medicamentos para facilitar o sono sem o adequado acompanhamento médico. E isso pode trazer sérios danos à saúde física e mental. 

O que não pode é achar que o tempo se encarregará de resolver sozinho a insônia!

 Por redação,

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