Olhar da Saúde-Thumbs-Resmetirom gordura no fígado em estágio avançado

Resmetirom traz nova esperança contra gordura no fígado em estágio avançado

O medicamento, aprovado nos Estados Unidos em março, é o primeiro com indicação em bula contra essa fase da doença. O que não significa que estávamos sem opções contra ela

A Food and Drug Administration (FDA), agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, aprovou, no dia 14 de março, o resmetirom para o tratamento de pessoas com formas avançadas de excesso de gordura no fígado. Apesar de outros remédios também serem usados contra a condição mundo afora, esse é o primeiro em que a indicação consta em bula.

A base da aprovação foram os estudos de fase 3, chamados MAESTRO, conduzidos pela farmacêutica Madrigal. Mas, antes de explicar os estudos, eu preciso abrir parênteses para abordar as fases do excesso de gordura no fígado.

Inicialmente, ocorre um acúmulo de gordura que ultrapassa o considerado normal (que é de 5%, apenas para referência). Com a evolução, o excesso gorduroso pode gerar um quadro inflamatório silencioso chamado de esteato-hepatite. 

Em seguida, o quadro evolui para fibrose, que são espécies de cicatrizes no fígado e que podem chegar até o terceiro grau. O quarto grau é considerado cirrose. Isso mesmo: o excesso de gordura no fígado é uma causa de cirrose e de câncer no fígado.  

Então voltemos ao resmetirom, que é ingerido por via oral e deve ser tomado uma vez ao dia. Nos estudos MAESTRO, os pesquisadores incluíram pessoas com excesso de gordura no fígado com graus 2 a 3 de fibrose – ou seja, estágios avançados da condição. 

Foram incluídos participantes geralmente com excesso de peso. Além disso, boa parte apresentava hipertensão, diabetes e alteração de colesterol e triglicérides. 

A boa notícia foi que o medicamento reduziu o grau de fibrose na maioria dos participantes. Isso foi observado a partir de biópsias de fígado realizadas antes do uso do remédio e um ano após o início do tratamento (que foi comparado a um placebo, comprimido sem o princípio ativo). 

O resmetirom também diminuiu de forma relevante os níveis de colesterol ruim (o LDL) e de triglicérides. Mais: ajudou a baixar as taxas de um tipo de partícula rica em colesterol chamada lipoproteína (a), capaz de aumentar o risco de infarto e derrame cerebral. 

Mas e os efeitos colaterais? Cerca de um terço dos participantes teve náuseas e diarreia de forma leve e transitória nas primeiras 12 semanas do tratamento. Parecem reações relativamente aceitáveis, porém devo destacar que não conhecemos os efeitos do fármaco em longo prazo. Estudos continuam em andamento para avançarmos nesse sentido. 

O que já temos à disposição

Apesar dos dados animadores, é importante destacar que o resmetirom não chegou ao Brasil – nem há data prevista de lançamento. Ainda assim, temos opções contra a gordura no fígado.

A própria redução do peso corporal com hábitos de vida saudáveis reduz esse problema e até mesmo a fibrose. Só que, quanto maior o grau de fibrose, maior o percentual de redução de peso necessário para promover a reversão do quadro. Nesse cenário, a cirurgia bariátrica mostrou-se eficaz no controle da fibrose hepática. 

Outros medicamentos também são usados no Brasil. São eles: pioglitazona, semaglutida, liraglutida, dapagliflozina e empagliflozina. Como disse, a indicação não consta diretamente na bula, mas o uso se deve a relevantes estudos e com base no endosso de sociedades médicas consagradas. 

Coincidentemente, todos esses remédios são utilizados também para o tratamento de diabetes tipo 2. Mais um ponto para conectar essas duas doenças.

Por Carlos Eduardo Barra Couri,

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Carlos Eduardo Barra Couri

Médico endocrinologista e curador do Portal Olhar da Saúde.

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