Síndrome do desejo sexual hipoativo: o que é e como tratar
Mais comum do que se imagina, a falta de libido afeta a vida de muitas mulheres e pode ser desencadeada por múltiplos fatores. Mas fique sabendo que existe tratamento para melhorar a saúde sexual e resgatar o prazer
Não sentir vontade de ter relações sexuais com o parceiro é natural em alguns períodos da vida e pode ser resultado de estresse, cansaço, alterações hormonais, entre outros fatores. Mas a bandeira amarela deve ser levantada se a falta de desejo sexual ou a diminuição dele permanecer por muito tempo. Nesses casos, é preciso investigar a presença do transtorno ou síndrome do desejo sexual hipoativo.
“Esse transtorno é definido como a ausência ou a redução acentuada do desejo ou da motivação para a prática sexual por um período de pelo menos seis meses, causando sofrimento, principalmente sobre as mulheres”, explica o médico ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Luiz Fernando Guimarães Santos Filho.
Embora ainda seja pouco abordada na sociedade, essa síndrome é mais frequente do que se imagina. Segundo o ginecologista, um estudo feito com 14 mil mulheres de 40 a 80 anos de idade, de 29 países, mostrou que de 26% a 46% delas apresentavam o transtorno. No Brasil, uma revisão dos trabalhos científicos apontou a prevalência do problema na faixa etária de 18 a 25 anos e acima de 60 anos.
Detalhando os fatores de riscos
Santos Filho explica que o transtorno do desejo sexual hipoativo não tem uma causa única. São múltiplos os fatores que podem influenciar o interesse da mulher pelo sexo e dificultar a preparação do corpo para a relação íntima. Alguns fatores são:
- Psicológicos: como distúrbios de imagem corporal, transtornos psiquiátricos atuais e passados, trauma por abuso sexual físico ou emocional
- Comportamentais: como estresse gerado no trabalho ou no ambiente familiar, uso de drogas e álcool
- Medicamentosos: uso de antidepressivos, ansiolíticos e anticoncepcionais, que inibem a ação hormonal direta de seus receptores e agem sobre o sistema nervoso central
- Biológicos: como hipertensão arterial, obesidade e diabetes
“A endometriose, patologia ginecológica benigna que causa dor pélvica crônica e, eventualmente, dor na relação sexual, também pode promover o transtorno do desejo sexual hipoativo”, ressaltou Santos Filho.
Atenção redobrada durante a gestação, principalmente no segundo trimestre, e a amamentação, quando as mulheres podem sentir menos vontade sexual devido às mudanças hormonais e emocionais. A baixa libido é comum ainda no climatério e na menopausa, períodos em que ocorre uma redução na produção do hormônio testosterona do organismo.
Diagnóstico e tratamento da síndrome do desejo sexual hipoativo
Ele é realizado com base em critérios clínicos a partir da aplicação do DSM-5, que é um manual de diagnóstico estatístico de transtornos mentais, criado pela Associação Americana de Psiquiatria.
Para o diagnóstico, o médico leva em consideração pelo menos três respostas afirmativas da paciente para redução ou ausência de:
- Interesse na atividade sexual
- Fantasias ou pensamentos sexuais
- Capacidade de resposta a estímulos sexuais, eróticos, internos ou externos, verbais ou visuais
- Lubrificação vaginal no mínimo em 75% da atividade sexual
Santos Filho ressalta que a investigação dos sintomas inclui a análise do histórico médico, uso de medicamentos e dosagem do perfil hormonal da paciente. O tratamento depende das causas do problema e envolve, muitas vezes, o acompanhamento multidisciplinar com ginecologista, psicoterapeuta, psiquiatria e profissional de Educação Física, por exemplo, e mudança no estilo de vida, a fim de melhorar a autoestima.
O especialista finaliza com uma boa notícia: “Existe cura para o transtorno do desejo sexual hipoativo, já que o distúrbio responde favoravelmente ao tratamento, com foco no conforto de vida e na estabilização dos pilares psicoemocionais, familiares e sociais”.
8 de abril de 2024
,Letícia Martins
Jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.