Olhar da Saúde-Thumbs-Tratamento da calvície masculina

Tratamento da calvície masculina: o que de fato funciona?

A preocupação com a perda dos cabelos pode levar a tratamentos duvidosos, sem garantia de resultados. A saída é contar com a avaliação de um especialista para a tomada de decisão sobre a melhor opção

Nem todo emaranhado de fios soltos pelo chão ou no travesseiro significa que a calvície está prestes a abrir entradas e deixar brechas descobertas no topo da cabeça. Afinal, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), é normal perder cerca de 100 a 200 fios por dia. 

Não dá para negar, porém, que a preocupação dispara quando a queda começa a chamar atenção e se nota uma mudança no padrão da cabeleira. Até porque, além do impacto na autoestima, os fios perdidos fazem falta na proteção do couro cabeludo contra agressões como a radiação solar. 

“O afinamento, a redução da densidade capilar na linha frontal e no topo da cabeça e a lentidão no crescimento do cabelo, que cai e não cresce mais como antes, servem de alerta”, diz Thais Magalhães, especialista em Saúde Capilar com pós-graduação em Tricologia. “Mas esses sinais não devem ser interpretados isoladamente, e sim em conjunto, por um profissional”, recomenda. 

A origem do problema é multifatorial, podendo estar ligada a desordens hormonais, déficits de vitaminas e outros nutrientes, ingestão de álcool em excesso, tabagismo, estresse e mesmo ao uso de produtos como tintura e alisantes com fórmulas inadequadas. Nesses casos, a perda dos fios pode até ser transitória, com possibilidade de reversão quando o motivo primário é tratado. 

“No que diz respeito a causas ligadas ao estilo de vida, principalmente nos homens existe uma associação com obesidade e aumento do colesterol, por isso é importante observar a relevância desses fatores externos no diagnóstico precoce para fazer uma intervenção mais certeira”, observa a dermatologista Fabiana Brenner, titular da diretoria da SBD.  

Para muitos homens, entretanto, a calvície é influenciada pela herança genética. Na maior parte dos casos, é a chamada alopecia androgenética a responsável pelo avanço das entradas, que, embora possam ter início ainda na adolescência, em geral são notadas por volta dos 50 anos. 

Essa condição promove o enfraquecimento dos folículos capilares, uma estrutura na camada mais profunda da pele onde são resguardadas as raízes dos cabelos. “Metade da população tem a tendência de desenvolver a alopecia androgenética, principalmente os homens. Ela se manifesta por uma rarefação dos pelos, sobretudo na região central do couro cabeludo”, descreve Fabiana, que concentra suas pesquisas em alopecias e outras doenças sistêmicas que afetam a pele. No quadro de alopecia androgenética há uma redução acentuada na capacidade de renovação dos fios, e a progressão vai criando as temidas clareiras. 

Dá para evitar a calvície?

Na avaliação de Thais Magalhães, embora ainda não haja uma estratégia capaz de impedir completamente os efeitos da alopecia androgenética, é possível retardar seu progresso com mudanças no estilo de vida, bem como tratamentos medicamentosos e outras terapias complementares. “Vale ressaltar que o melhor plano é aquele de início precoce, e ele será pela vida toda, ou pelo menos enquanto o indivíduo quiser manter seus cabelos”, explica a especialista.

Quais são as alternativas farmacológicas?

Existem tratamentos tópicos, com o ativo minoxidil, aplicado diretamente no couro cabeludo, e sistêmicos, caso da finasterida, que costumam resultar em pausa na queda, mesmo não sendo capazes de recuperar os fios perdidos. 

Usado em comprimido originalmente para o controle da pressão arterial, o minoxidil apresentou como efeito colateral o crescimento de pelos nos pacientes, o que estimulou pesquisas em torno de sua propriedade para tratar a calvície.

Evidências científicas, segundo a SBD, vêm confirmando o bom desempenho do minoxidil tópico no manejo da alopecia androgenética. A entidade ressalta a necessidade de seguir a prescrição do profissional de saúde, que ajustará a concentração do produto e a quantidade de aplicações ao longo do dia, além de fazer o acompanhamento de eventuais reações adversas, como coceira, descamação e queimação do couro cabeludo e ressecamento dos fios. Lembrando que o tempo para notar diminuição na queda após o início do tratamento também varia de pessoa para pessoa e que a suspensão no uso do minoxidil tem como consequência novo avanço da calvície. 

A versão oral desse medicamento exige mais cautela e levanta até uma certa controvérsia. Em nota técnica, a SBD, por um lado, esclarece: “O minoxidil oral pode ser indicado em pacientes selecionados com alopecia. Seu uso criterioso, isolado ou associado a outras abordagens, ocorre por indicação médica. Avaliação clínica e cardiológica do paciente pode ser necessária previamente ao seu uso”. 

A Sociedade Brasileira de Tricologia (SBTri), por sua vez, aponta que, em comprimido, o minoxidil só deve ser prescrito para tratamento de hipertensão – e desaconselha totalmente seu uso para calvície.

Já a finasterida, outra opção farmacológica oral para conter a queda dos fios, age reduzindo a produção de uma substância chamada diidrotestosterona (DHT). “O mecanismo da calvície envolve a sensibilidade dos folículos pilosos aos hormônios andrógenos, especialmente o DHT, que faz com que os folículos se miniaturizem, levando ao afinamento dos cabelos”, explica Thais Magalhães. Também nesse caso, o surgimento do medicamento se deu para tratamento de outra condição, a hiperplasia prostática benigna, que causa o aumento do volume da próstata. A constatação da melhora do aspecto dos cabelos dos pacientes ao longo do uso acabou abrindo caminho para seu emprego na contenção da calvície. Embora estudos tenham confirmado a segurança e eficácia da droga, especialistas relatam casos de efeitos adversos como perda de libido e impotência.

Xampus e vitaminas podem impedir o avanço da calvície?

“Produtos de higiene específicos ajudam a manter o couro cabeludo saudável e a prevenir a quebra dos fios, e esses são fatores importantes, mas não impedem a queda androgenética”, responde Thais Magalhães. 

A especialista destaca ainda que vitaminas e suplementos podem melhorar a saúde geral do cabelo caso haja deficiência de algum nutriente, principalmente se a dieta estiver desequilibrada e diante de problemas de digestão e absorção, mas não são soluções definitivas para a calvície hereditária e não devem ser utilizadas sem orientação profissional – até porque, em excesso, se tornam ameaça ao organismo.

Intradermoterapia é alternativa? Como funciona?

Trata-se de uma técnica de injetar substâncias, sejam vitaminas ou medicamentos, diretamente no couro cabeludo. “Esse tratamento visa nutrir os folículos pilosos e estimular o crescimento do cabelo. Alguns estudos indicam resultados positivos quando feito de forma correta e com os ativos corretos”, diz Thais. A SBD reforça a necessidade de terapias desse tipo serem executadas apenas por dermatologistas.

E o microagulhamento?

Nesse tipo de procedimento se utilizam pequenas agulhas para criar microperfurações no couro cabeludo, desencadeando um processo inflamatório local que irá estimular a produção e liberação de fatores de crescimento. “Com isso, melhora a densidade dos cabelos e promove o crescimento dos fios. A estratégia pode ser potencializada quando combinada com a aplicação de substâncias tópicas”, pontua Thais.

Dispositivos eletrônicos vibratórios funcionam?

Não há evidências científicas sólidas que comprovem o poder de dispositivos desse tipo, a exemplo de pentes vibratórios, no tratamento da calvície. “Eles têm potencial para melhorar a circulação sanguínea no couro cabeludo, mas seu impacto no crescimento capilar é limitado e faltam estudos mais robustos sobre sua efetividade em relação à calvície”, afirma Thais.

Vale investir no uso de luzes?

“A terapia com luz, especificamente a laser de baixa potência (LLLT), mostrou-se eficaz em vários estudos”, relata Thais. Esse tratamento usa lasers ou LEDs de baixa intensidade para estimular os folículos e promover o crescimento do cabelo. “Mas é preciso ficar atento na hora de optar por essa estratégia, pois não é toda luz que conseguirá promover os efeitos terapêuticos desejados”, complementa.

Quando o transplante é indicado?

O recurso em geral é uma alternativa para indivíduos com calvície avançada que não responderam bem aos tratamentos não cirúrgicos. “É uma opção para quem deseja resultados mais permanentes e naturais e deve ser considerada após uma avaliação detalhada por um médico especializado”, diz Thais, que ainda ressalta: “O transplante capilar não é a cura para a calvície. Mesmo o indivíduo transplantado deverá seguir os cuidados com medicamentos e terapias complementares após a cirurgia”.

As técnicas mais comuns de transplante capilar são a FUE (Follicular Unit Extraction) e a FUT (Follicular Unit Transplantation), em que os bulbos capilares da nuca ou da lateral da cabeça são retirados e implantados nas regiões calvas. A primeira envolve a extração individual de unidades foliculares. “Tende a ter um tempo de recuperação mais rápido e menos cicatrizes visíveis, sendo hoje a opção mais utilizada”, comenta Thais. Na FUT, se removem faixas de couro cabeludo em blocos.

Por Goretti Tenorio,

Olhar da Saúde-Goretti Tenorio
Goretti Tenorio

Jornalista pela ECA-USP, desde 2010 escreve sobre saúde para diferentes veículos.

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