Ovo, colesterol e Gracyanne Barbosa: o que a ciência diz?
A dieta da influenciadora fitness despertou a curiosidade sobre os benefícios e os possíveis riscos de ingerir ovos
A influenciadora fitness Gracyanne Barbosa chamou atenção ao comer dezenas de ovos em um único dia no programa BBB, da TV Globo. No passado, ela já havia revelado comer cerca de 30 claras por dia como parte da dieta. Mas, antes de falar do ovo em si, o que esse caso evidencia é, antes de tudo, a necessidade da personalização da alimentação.
Gracyanne tem uma rotina intensa de exercícios e uma alimentação planejada, o que faz com que seu organismo utilize os nutrientes de forma eficiente, possivelmente minimizando impactos negativos. Se ingerir um monte de ovos no longo prazo será bom para ela, só os profissionais que a acompanham – e ela própria – saberão.
O que posso dizer é que esse tipo de dieta não é adequado para todos. Cada indivíduo tem uma resposta diferente ao consumo desse alimento, dependendo de fatores como genética, metabolismo e estilo de vida.
Com vocês, o ovo
Por muitos anos, ele foi rodeado de medo principalmente por sua gema ser rica em colesterol, o que aumentaria o risco de problemas cardiovasculares. Mas é importante esclarecer alguns conceitos. O colesterol é essencial para o organismo. Ele está envolvido na produção de hormônios e vitamina D e na formação das membranas celulares. No mais, a presença de colesterol em um alimento não significa que as taxas no sangue aumentarão significativamente ao consumi-lo.
Estudos mais recentes mostram que o impacto da ingestão de ovos no colesterol sanguíneo é menor do que se acreditava. A maior parte do colesterol presente no sangue é produzida pelo fígado. O organismo inclusive regula sua produção de acordo com a ingestão alimentar.
Conclusão: para a maioria das pessoas saudáveis, o consumo de até um ovo por dia não eleva significativamente os níveis de colesterol total ou LDL (o chamado “colesterol ruim”).
Mesmo assim, quando digo a um paciente no meu consultório que seu colesterol está alto, instintivamente ele tende a perguntar sobre o ovo, ou mesmo cortar esse alimento.
O professor de Cardiologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Andrei Sposito, aponta a segurança do consumo frequente de ovos para a saúde cardiovascular com base num enorme estudo publicado no British Medical Journal. Publicado em 2020, ele abrangeu mais de 5,5 milhões de pessoas-ano por até 32 anos de acompanhamento. “Os indivíduos que consumiram um ou mais ovos por dia não apresentaram aumento de risco cardiovascular”, diz Sposito.
Segundo ele, os resultados desse trabalho ainda mostram que parte das más interpretações em outras pesquisas sobre o ovo vem de fatores de confusão, como o ganho de peso. Explico: o consumo desse alimento está ligado a outros comportamentos alimentares e de estilo de vida – que, estes sim, influiriam no risco cardiovascular.
Quando um estudo clínico diz que analisou “5 milhões de pessoas-ano”, isso significa, por exemplo, que:
- Se 1 milhão de pessoas foram acompanhadas por 5 anos, isso dá 5 milhões de pessoas-ano.
- Ou, se 5 milhões de pessoas foram acompanhadas por 1 ano, também dá 5 milhões de pessoas-ano.
Esse tipo de medida ajuda os pesquisadores a entenderem melhor o impacto de uma doença ou tratamento em um grande número de pessoas ao longo do tempo, considerando tanto a quantidade de pessoas quanto o período em que cada uma foi acompanhada.
Mais do que isso, o ovo é rico em nutrientes. Ele é uma excelente fonte de proteínas de alta qualidade, vitaminas (como a B12, vitamina D e colina) e minerais, além de antioxidantes, como luteína e zeaxantina, que são benéficos para a saúde ocular. O importante mesmo, de acordo com Sposito, é buscar uma alimentação balanceada.
Quando o consumo de ovo pode ser prejudicial?
Apesar dos benefícios, há casos em que a ingestão deve ser moderada. Pessoas com hipercolesterolemia familiar, condição genética que dificulta a regulação do colesterol pelo organismo, podem ser mais sensíveis ao colesterol dietético, por exemplo. Nesses casos, o consumo de alimentos ricos na substância levaria a níveis ainda mais elevados de LDL, o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
Além disso, é importante prestar atenção ao modo de preparo. Fritar ovos em óleos ricos em gorduras saturadas ou acompanhá-los de alimentos ultraprocessados, como bacon ou linguiça, pode anular seus benefícios e contribuir para problemas de saúde.
Casos como o de Gracyanne Barbosa ilustram que dietas específicas podem funcionar para indivíduos em situações particulares, mas não devem ser generalizadas. O importante é respeitar as necessidades do seu corpo, contar com o apoio de um profissional de saúde e buscar um estilo de vida saudável.
16 de janeiro de 2025
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